domingo, novembro 30, 2008

Monumento da Abolição da Cidadania

Olhemos pelo lado bom. Como um monumento inclui o seu entorno para produzir significação, além das circunstâncias em que fora criado, pode-se dizer então que Campos acaba de ganhar um novo monumento com a instalação, na antiga Praça do Canhão, do conjunto de estátuas da Abolição, que foi retirado do Palácio da Cultura.

Agora em novo local, e associado a um canhão da Revolução de 30 que mira em sua direção, as esculturas passam a significar a estupidez da pior gestão da Prefeitura de Campos em todos os tempos. É um marco e tanto. E merecia mesmo um monumento.

Toda vez que o campista por ali passar, poderá se lembrar que precisa estar mais atento, em qualquer governo, se não quiser repetir momentos trágicos da história como este pelo qual passou a cidade nos últimos anos. Como a perspectiva de curto e médio prazos também não é muito animadora, o lembrete em praça pública é oportuno.

O prefeito Alexandre Mocaiber, de modo autoritário, limitou-se a publicar nota sobre a mudança. Não concedeu entrevista, não compareceu à reunião com conselhos ligados à cultura e ao patrimônio histórico, e não aceitou o pedido de que “congelasse” qualquer alteração até que a sociedade pudesse discutir melhor o assunto. Com uma celeridade inédita em seu governo cego a tantas outras necessidades, mandou executar e pronto.

Além da deselegância de envolver o falecido poeta Antônio Roberto em sua estultice, o prefeito apresentou os seus argumentos para a mudança de local. O principal deles, e bastante razoável, é o da preservação do entorno do Palácio da Cultura, que fora descaracterizado pelo monumento da Abolição.

Mas, se foi esta a verdadeira motivação, esperava-se que providências bem mais urgentes tivessem sido tomadas. A começar pela remoção de dois quiosques que ofuscam e enfeiam o panteão dos heróis. Ou, quem sabe, pela retirada de todas as grades que certamente não estavam no projeto original do jardim de Burle Marx. Talvez ainda a construção de calçadas nas quais os pedestres não tenham que driblar tantos buracos e sobressaltos.

Também ajudaria se o prefeito se preocupasse em não deixar o Palácio da Cultura exibir tantas goteiras, além de não ostentar tamanho número de puxadinhos divisórios internos, que igualmente atentam contra o valor estético do prédio.

No entanto, como resolveu começar tão tarde a sua preocupação com a preservação do Palácio da Cultura, no final do mandato, e justamente pelas estátuas da Abolição, teria sido então mais democrático se tivesse ouvido a sociedade (se é que ele sabe o que é isso, já que demonstrou confundi-la com uma conversa com menos de meia dúzia de pessoas) sobre o melhor local para a nova instalação.

Certamente a Praça do Canhão não é um deles. Muito menos sobre o “magistral pedestal” que não permite o acesso a portadores de necessidades especiais, idosos ou qualquer pessoa que não queira chamar a atenção sobre aquela espécie de bolo de noiva de mau gosto. Isso contraria a própria proposta do monumento, que é o de ser interativo. Assim como a estátua de Drummond, no Rio, ou a de Brigitte Bardot, em Búzios, e tantas outras, a idéia é tornar a aproximação possível. No caso das estátuas da Abolição, há até uma cadeira vaga que convida o visitante a fazer parte da cena.

Mas não falemos de mazelas. Como dito no início, olhemos o lado bom. E saudemos o novo Monumento da Abolição da Cidadania, agora instalado na Praça Alexandre Mocaiber.

[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

9 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo artigo. Oportuno. Coerente. Real. Aliás, vc escreve muito bem , Vitor! Os campistas de memória ao passarem pela Praça do Canhão, com certeza, farão uma crítica ao gesto deselegante, autoritário, infeliz, desarrumado do "prefeito" Mocaiber.Outro momento drástico para Campos. Diante da situação tão séria com relação a chuvas, desastre ecológico, o Sr. Prefeito não se faz presente nas reuniões sobre os temas. O que é isso, prezado jornalista?

Hilda Helena Raymundo Dias disse...

Amado jornalista:
Protestamos,tentamos forçar uma atitude ,mas foi feito o que a maioria não queria...Que bom que você consegue apesar das circunstâncias aproveitar o momento para incentivar as pessoas a refletirem sobre a estupidez da pior gestão da Prefeitura de Campos em todos os tempos. Parabéns pela reportagem e pela piada do domingo dita pelo prefeito "sem peito" sobre os seus argumentos para a mudança de local.Aposto que ele nunca precisou usar o banheiro público do Palácio da Cultura,que consegue ser pior do que o da rodoviária velha!!!!

Gustavo Landim Soffiati disse...

Professora, penso que a decisão de Mocaiber - ou de alguém que manda por ele - de forma alguma reflete a vontade de uma maioria. Trata-se de mero capricho de um prefeito que para tratar de um estado de emergência provocado pelas chuvas se diz acamado.
Um abraço.

Rodrigo Rosselini disse...

Ô Gustavo, mas a moça disse que foi feito o que a maioria não queria...
Ah, o prefeito está na cama?

Anônimo disse...

"bolo de noiva de mau gosto" genial, esse foi o melhor nome para aquela parafernália. Campos está se tornando ca capital brasileira das praças sem árvores.
Depois de deixarem a pç. S. Salvador só com palmeiras essa nem isso tem.

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo, Vitor... Como fã de seu trabalho, sou suspeitíssima de comentar... Qto ao monumento, ontem vi uma cena q seria engraçada se não fosse trágica. Do Bar do Louro, umas 22h, era possível ver um bêbado conversando e gesticulando com José do Patrocínio... Ele subia as escadas, descia, circulava em volta da Princesa Isabel e da escrava, num papo muito animado, pelo que eu pude ver... Cenas como essas vão ser muito comuns a partir de agora...

Anônimo disse...

só pra constar: esse 'anônimo' aí sou eu, Carla Cardoso... humilde fã lá do Monitor... :)

Vitor Menezes disse...

Olá, Carlinha, Hilda, Gustavo, Rosselini e "anônimos"... Pois é, agora o monumento está lá para contar, às avessas, um pouco da nossa história. Grande abraço a todos!

Vitor Menezes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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