sexta-feira, novembro 22, 2013

Trailer do documentário "Forró em Cambaíba"

Nesta madrugada estive em 2003

Devorei nesta madrugada o livro do bravo colega Thiago Freitas, que nos transportou para aquele agosto de 2003, quando um juiz de Miracema (RJ) conseguiu colocar na prisão o jornalista Avelino Ferreira, por “crime de opinião”. Lançado na noite de ontem, “Opinião e Crime – A história da prisão do jornalista Avelino Ferreira” (Marka) organiza um alentado dossiê sobre o caso, tornando-se imediatamente indispensável a qualquer estudo que se faça sobre a imprensa local ou sobre a relação entre jornalismo e judiciário.

Os dias que Ferreira dormiu no cárcere, as manifestações pela sua liberdade, a saga de um jornalista contra a arbitrariedade de um juiz, tudo isso forneceria material suficiente para uma narrativa envolvente, possivelmente escrita como nos bons exemplos do Jornalismo Literário, com um autor assumindo o comando da história do início ao fim – como fez Capote em “A Sangue Frio”.

Mas não foi este o caminho escolhido por Thiago Freitas. E isso não se diz aqui em demérito da obra. Pelo contrário: sua escolha foi a de um repórter que não quis ser maior do que a notícia e seus atores, o que possibilitou o acesso à reprodução de dezenas de textos e documentos produzidos no próprio calor dos acontecimentos, moderados por ponderadas inserções do organizador da obra.

Isso permitiu, por exemplo, que o leitor tivesse a oportunidade de ter acesso, sem mediadores, ao diário produzido por Avelino Ferreira no período da sua prisão, em um dos trechos mais emocionantes do livro. O jornalista registra a surpresa com a repercussão do caso, a amargura com a falta de envolvimento de alguns personagens, e a devoção aos seus heróis locais do teatro, da música, do jornalismo.

“Mais que nunca entendi que, a despeito da grandeza e importância de um Dylan, um Sinatra, de um Chico ou Caetano, não há músico que supere Dom Américo, Luiz Ribeiro, Reubes Pess, Nelsinho Meméia, Edmar, Lula, Daltinho Freire... pois estes são os artistas da minha aldeia”, afirma.

E é pelo mesmo motivo que sou fã de batalhadores da notícia como Thiago Freitas, que com este livro se torna mais importante para mim do que qualquer Gay Talese, qualquer Tom Wolfe, qualquer Hunter Thompson.

terça-feira, novembro 12, 2013

CCJ da Câmara aprova PEC do Diploma de Jornalista

Da Fenaj
 
A Comissão de Constituição, de Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou, em sessão realizada na tarde desta terça-feira (12/11), a admissibilidade da PEC 206/2012, a PEC do Diploma. A matéria segue, agora, para encaminhamentos da Mesa Diretora da Casa.

Antes de iniciar a sessão da CCJC, o deputado Esperidião Amin (PP/SC) solicitou novamente a inversão da pauta, o que viabilizou a inclusão da PEC do Diploma como quarto ponto de discussão. Por volta das 15h30, após a leitura do relatório de vistas do deputado Sérgio Zveiter (PP/RJ) e de algumas inscrições para debate, o presidente da CCJC, Décio Lima (PT/SC) procedeu a votação.

Mais tarde, no plenário da Câmara, Lima registrou a aprovação da PEC na Comissão e pediu urgência na instalação de Comissão Especial para analisar o mérito e na tramitação final da matéria.

Para o presidente da FENAJ, Celso Schröder, a votação de hoje consagrou mais uma vitória dos jornalistas brasileiros e dos apoiadores da campanha em defesa do diploma. "Após a tramitação vitoriosa no Senado e esta votação na Comissão de Justiça, está claro que o Congresso Nacional está em sintonia com a sociedade e os jornalistas, que não aprovaram a decisão equivocada do STF em 2009", disse.

Schröder adiantou que dirigentes da FENAJ e dos Sindicatos de Jornalistas buscarão contatos com a Mesa Diretora da Câmara e com a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma para agilizar a votação. E convocou a categoria:

- Os jornalistas já esperaram quatro anos para reaverem um direito legítimo, é tempo demais. Vamos ampliar o movimento pela urgente aprovação da PEC no plenário.

EBC cobre greve dos jornalistas da própria empresa

Algumas vezes este blog tratou de comunicação pública e do papel desempenhado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), como exemplo de serviço jornalístico que cobre as ações do governo, os temas da cidadania, sem cair no tom publicitário das assessorias.

Abaixo, mais exemplo que deveria ser seguido pelas empresas privadas de comunicação e, especialmente, pelos departamentos e secretarias de comunicação de estados e municípios.

A EBC está cobrindo, com honestidade jornalística, a greve dos próprios funcionários. Confira uma das matérias da cobertura:



Assembleia dos funcionários da EBC [Foto: José Cruz/ABr]       
Funcionários da Empresa Brasil de Comunicação mantêm greve
08/11/2013 - 20h23

Da Agência Brasil

Brasília - Os funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) decidiram hoje (8) continuar em greve, depois de assembleia realizada em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Eles estão parados desde as 16h de ontem (7).

Criada em novembro de 2007, a EBC é responsável pelo funcionamento da Agência Brasil, do Portal EBC, de oito emissoras de rádio AM/FM/OM (Nacional e MEC), da Radioagência Nacional, da TV Brasil e da TV Brasil Internacional. A EBC opera ainda, por contrato da Secretaria de Comunicação da Presidência da República com a Diretoria de Serviços, o canal de TV NBR, o programa de rádio A Voz do Brasil, dentre outros serviços. A empresa tem 2.151 empregados.

A greve dos empregados da EBC foi aprovada em assembleia na última terça-feira (5) quando os funcionários rejeitaram a proposta apresentada como a última possível pela empresa, nas negociações.

Pela proposta, os salários teriam reajuste de 5,86%, referentes às perdas da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais ganhos reais de 1%, divididos da seguinte forma: 0,5% em 2013 e 0,5% em novembro de 2014. O auxílio-creche seria reajustado em 5,95%. Os trabalhadores ainda receberiam um tíquete-alimentação extra de R$ 832 em dezembro de 2013 e outro em dezembro de 2014, corrigido pela inflação acumulada no período.

Segundo o coordenador-geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Jonas Valente, os trabalhadores vão tentar conversar novamente com a empresa até a próxima segunda-feira (11), quando se realiza nova assembleia, às 13h.  “Caso a greve continue depois da segunda, decidimos fazer um ato em frente ao Ministério do Planejamento, que é quem determina a assinatura do acordo coletivo”, disse Jonas. Para o coordenador do sindicato, é preciso que o governo federal valorize a comunicação pública ampliando os investimentos na EBC e em seus trabalhadores.

Os funcionários permanecem defendendo contraproposta de reajuste salarial de R$ 290 para cada servidor e aumento de 11% no valor do tíquete-alimentação. E também querem que a data-base, hoje em outubro, seja transferida para maio.

De acordo com o diretor de Administração e Finanças da EBC, Alexandre Assumpção Ribeiro, a empresa entrará, até segunda-feira, com ação para julgamento de dissídio coletivo na Justiça do Trabalho. Agora, com o julgamento do dissídio, a EBC voltará à proposta anterior apresentada no início das negociações aos empregados. Nela, foi proposta a correção pelo IPCA, de 5,86%, e o mesmo percentual para benefícios, exceto o auxílio-creche, que seria reajustado em 5,95%. “Estamos procurando uma instância neutra que dará uma decisão a qual vamos acatar”, disse.

Segundo o diretor, a EBC continua respeitando o direito de greve, mas a intenção, com a ação para a instalação do processo de dissídio, é manter os serviços funcionando. “A empresa espera que o dissídio seja julgado rapidamente. A EBC tem uma missão muito nobre que é ser um grande canal de comunicação pública”, observou Assumpção.

Para Jonas Valente, a decisão do dissídio demanda a anuência das duas partes e diz que não há deliberação de assembleia, nem posição das entidades que estão na negociação, no sentido de apelar a este recurso. “Nós não consideramos que as negociações se encerraram, apesar da greve, e, por isso, não achamos que o impasse deva ser resolvido na Justiça do Trabalho”, argumentou.

Observatório da Imprensa discute hoje regulação da mídia argentina e britânica

Alberto Dines apresenta
o programa [Foto: Divulgação]
Da Assessoria

Argentina e Inglaterra, dois países diferentes e distantes, aprovaram a regulamentação da mídia praticamente ao mesmo tempo. Nos dois casos, a regulação, apoiada em leis específicas, quer coibir os abusos na concentração e na conduta dos veículos de comunicação. O tema é a pauta do Observatório da Imprensa de hoje, às 20h, na TV Brasil.

Na vizinha Argentina, a decisão obedeceu à Corte Suprema que declarou a constitucionalidade da Lei de Mídia, aprovada pelo Congresso em 2009 e encaminhada pelo governo de Cristina Kirchner. Depois de uma batalha judicial, o Grupo Clarín, principal conglomerado de mídia do país, apresentou um plano voluntário de adequação à lei. A proposta prevê a divisão das empresas em seis unidades de negócios. A Autoridade Federal de Serviços Audiovisuais confirmou a apresentação do plano e dará uma resposta em até 120 dias.

Ao mesmo tempo, o governo argentino disse ontem que, em meio a 1.500 documentos da ditadura descobertos na semana passada, há vários revelando que a junta militar nos anos 70 ajudou o Clarín a comprar parte da Papel Prensa, maior empresa de papel-jornal do país.

No Reino Unido, a Rainha Elizabeth II assinou a criação de um órgão de regulação das atividades da imprensa britânica. A Rainha ratificou a “Royal Charter”, carta real elaborada por membros do governo conservador apoiados pelos trabalhistas de oposição. A decisão pretende colocar um ponto final na história de escândalos causados pelos jornais de Rupert Murdoch, acusado de grampear telefones, ilegalmente, para conseguir informações. Os tabloides londrinos não aceitam a fiscalização do órgão criado pelo governo que poderá aplicar multas e impor pedidos de desculpas aos jornais infratores.

segunda-feira, novembro 11, 2013

A prisão de Avelino dez anos depois

O jornalista Thiago Freitas lança no próximo dia 21, em Campos dos Goytacazes, o livro "Opinião e Crime – A história da prisão do jornalista Avelino Ferreira".

A obra marca a passagem dos dez anos da prisão, em 2003, do jornalista Avelino Ferreira, em razão de uma série de textos publicados no jornal Dois Estados, de Miracema, no Noroeste Fluminense.

O lançamento será no  Salão de Artes Edson Coelho dos Santos, na sede da Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes, às 19h.

[croniquinha de segunda]

Transfiguração

Álvaro Marcos

Saí do salão. Fiz estrago capital: o ruivo tomou o lugar do preto na cobertura do cérebro. Não sei se emburreci, como dizem acontecer com as louras. Só pela atitude, bem, talvez sim. Pior que a troca de cor foi inventar uma franjinha para os fios lisos conquistados há pouco. Mantive aqueles óculos Dolce Gabbana, cravejados de algo que remete a diamantes na perna direita. Vesti uma blusa branca antes de sair de casa. Pus, também, a minissaia verde colante que guardava há um tempão por falta de coragem.

Agora estou num botequim beira de estrada, na frente do condomínio dele. Meus amigos vão dizer que pareço uma prostituta. Neste momento sou mesmo, de corpo e copo. Vingativa, já flertei com um cara magro, cara de cachaceiro. Percebi um sorrisinho sacana, canto de boca. O suficiente para melhorar minha combalida autoestima. Fui ao banheiro das mulheres só porque não tinha ninguém no masculino. Contemplo o fim de tarde relativamente bêbada e excitada. E ele ainda não chegou. Não sabe o que o espera nesta agradável primavera.

Vejo três guris malandros, prontos para dar o bote no primeiro gay de meia idade que aparecer. Ah, sobre minha indumentária, esqueci de citar um item importantíssimo pelo simbolismo: tenho três laços nas sandálias; um verde, da cor do calçado; outro vermelho; e o último azul. No meio, uma espécie de meio anel dourado. Sempre que olho para os pés me lembro dos três casamentos. E foram assim: cumulativos, entrelaçados, unidos e findos. Só têm prosseguimento dentro de mim, e por vezes dói.

Ouço Whitesnake. Acho que quase ninguém conhece, exceto pela propaganda Hollywood, meado dos anos 80. "Love Ain't No Stranger" foi um sucesso, como era o próprio cigarro. Logo depois, o MP4, tocou "I want it all", do Queen. Essa, repeti quatro vezes. Provavelmente foi o tempo e a quantidade suficientes para me sentir uma própria rainha, como o Freddie Mercury. "We are the champions, we are the champions, we are the champions", soprei baixinho, enquanto socava a mesa.

Percebi, pelo tremor da mão direita, o efeito das cinco Antarcticas no estômago vazio. O garçom de boné bege desbotado eu conheço. Cumpriu pena junto com meu primeiro marido. Redson saiu da cadeia e pavimentou certa dignidade. Só que não pode ver mulher. É a chance de lançar o olhar conquistador, quase fatal. O mesmo jeito timidamente avassalador utilizado para entregar drogas aos fregueses de outrora. Acho que não me reconheceu de estalo. O semblante tinha um quê de interrogação.

Acabo de descobrir que ele não desembarcou, como previsto. A filha mais velha, uma gorda depressiva e mãe solteira, passou dentro de um táxi com o bebê no colo. Ainda não vai ser dessa vez! Fui lavar o rosto e na volta pedi a conta. Tentei passar o cartão, deu recusado. Nesse instante Redson, com a maquininha na mão, teve certeza de quem estava ali à frente dele. Não disse uma palavra, nem eu. Liguei para uma amiga sem família, solta na vida. Marcamos para o apartamento dela, em meia hora. Fui.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Avoa Galeão

O não-conceder vale-transporte pode dizer muito mais de uma empresa do que o descaso ou a irresponsabilidade sugeridos por uma rápida passada do percurso gerativo de sentido da semiótica greimasiana. Enquanto avoa avião pra-lá-e-pra-cá, as centenas de trabalhadores que empenham seus esforços na obra de R$ 153 milhões, que vai deixar o aeroporto do Galeão supimpa para a Copa, estão na retranca ainda no primeiro tempo – o grupo de construtoras alcunhado de Consórcio Novo Galeão (CNG), além de não saldar com o ir-e-vir dos empregados, amontoa-os em três repúblicas inóspitas. Nem o clima subúmido do Rio Grande do Norte, estado de onde vieram muitos dos trabalhadores, chega a ser tão pesado quanto o ar nos dormitórios. Como não tivessem outra solução, e na falta de corda para esticar, os empregados com macacão cinza em que se estampa a marca CNG paralisaram a Avenida Vinte de Janeiro, ali ao lado do próprio aeroporto, nesta quarta-feira. Eles são manifestantes também, e deles depende a certeza de que o aparato necessário para um evento como a Copa chegue até o palco principal, o Rio, neste caso. Em tempo: os trabalhadores não gritavam “Não vai ter copa!”

A última vez que escrevi no urgente! foi... não lembro. A próxima vez será... não sei. Mas espero que logo. Obrigado, caro Vitor, por não ter bloqueado o meu acesso por aqui.


terça-feira, setembro 03, 2013

Professora quer reunir grupo para fazer "Caravana do Coronel"


Faixa no muro da casa da professora Agilda Macabu, na Av. 28 de Março, convida para a caravana.


A professora de literatura Agilda Macabu Ribas, brava defensora da memória cultural local, começou a arregimentar seres viventes para a “Caravana do Coronel”. Sua ideia é percorrer pontos do município que são significativos na obra de José Candido de Carvalho. O escritor terá celebrado em 2014 o seu centenário de nascimento. Entre estes locais estará o distrito de Santo Amaro, especialmente as ruínas da antiga estação de trem, que merece ser restaurada para, quem sabe, abrigar um museu especializado no autor.

Para o dia 5 de novembro, Dia da Cultura, está prevista uma sessão solene na Câmara de Vereadores de Campos para marcar os 99 anos do nascimento de José Cândido. Para a caravana, no entanto, ainda não há data marcada. A professora quer verificar o interesse, reunir o grupo, para depois estudar como viabilizar a ideia.

Os interessados podem fazer contato com Agilda Macabu Ribas pelos telefones 97714714 e 27230405.

segunda-feira, setembro 02, 2013

[croniquinha de segunda]

Conversa ao pé da cova

Vitor Menezes

Sou dado a pequenos rituais diários, embora não seja religioso. Um deles é me despedir da noite antes de dormir. Vou à sacada do meu apartamento, olho para o céu e não penso, mas é como se pensasse, algo assim: “Obrigado, alguém, por mais um dia. Valeu mesmo. Ao que parece eu continuo aqui, e isso tem sido bom”.

É da sacada que observo janelas dos prédios ao redor. Percebo que há uma sintonia de luzes e horários. Sei quais varandas encontrarei acesas entre uma e duas da madrugada. E também as que assim estarão entre as duas e as três. Assim de modo sucessivo até encontrar a cumplicidade da TV ligada às cinco da manhã em um apartamento de nono andar que deve ficar distante algo em torno de quinhentos metros do meu. Não sei quem mora nele, mas a contemplação daquelas luzes coloridas, entre apagões repentinos dos fades, é também parte do meu ritual diário de viver. Igualmente me despeço delas antes de dormir.

Há pessoas que, pela manhã, agradecem por mais um dia que terão. Cético, eu agradeço nas noites, pelo dia que já tive. A chance de erro é bem menor.

Além disso, não creio que a luz da manhã seja oportuna para agradecer por algo. Nem pela vida. É um período do dia, para mim, meio estúpido. Um bom momento para ninguém se aproximar. E não entendo a obsessão dos trabalhadores em atribuir alguma orgulhosa distinção ao fato de acordar cedo. Acho uma perda de tempo.

Meus melhores rituais são os noturnos. Nestas horas é que tudo parece fazer sentido, ou, dito de outro modo, é quando melhor consigo conviver com a falta de sentido que há em tudo. E rir disso. E a gostar da vida de um modo intenso, como jamais poderia supor gostar se nela pensasse pela manhã.

Portanto, depois da minha última noite, quando for dormir para sempre, peço aos amigos que se lembrem de gravar no meu epitáfio: “Aqui jaz um homem que não foi muito longe, mas gostou muito do lugar onde esteve”. E se forem dotados de alguma coragem fúnebre, apareçam para bater papo comigo nas madrugadas.

segunda-feira, agosto 26, 2013

[croniquinha de segunda]

Pânico no ar

Álvaro Marcos

"Boa tarde, amigo ouvinte. Abrem-se as cortinas para mais um espetáculo esportivo em Pinduinha. Os senhores vão acompanhar o confronto entre o Nacional e o Jangadense, pela terceira divisão do campeonato Tancredista. Conosco o comentarista Sávio Amazonino. Ele faz a melhor análise do rádio brasileiro. Os repórteres Armando Zanoto e Luís José Salviano vem daqui a pouco com todos os detalhes dos clubes. A jornada começa agora com o oferecimento da cerveja Balza, o puro malte; das Casas Espíndola, tudo em eletrodomésticos; da loteria do Janjão, onde sua aposta vale ouro; e do restaurante Carne na pedra, o mais gostoso da cidade".

O vozeirão não deixava dúvidas: Fred Scapelloto estava no ar. Como em todas as tardes de domingo, a rádio Pinduinha ecoava nas ruas, carros e casas das redondezas. São oito municípios da serra de Tancredo (novo estado criado pela União) acompanhando par e passo a competição estadual narrada pelo mais famoso locutor da região, funcionário aposentado do banco do governo, que empunha microfones desde adolescente. Mas este não seria um fim de semana comum. Pelo menos para a família e amigos do "trepidante". Como costumava fazer, chegou ao estádio com três horas de antecedência. Mal sabia o que o esperava.

Filho caçula, Alexandre desapareceu logo após o almoço na casa da avó. Foi à calçada colocar a moto para dentro da garagem lateral e não voltou. À princípio especulou-se que havia saído para encontrar a namorada, mas a hipótese acabou descartada após ligação de Flávia para a matriarca da família de descendentes italianos. O celular chamou até cair a ligação. Nada de alguém atender. Foi assim até o início da noite. Por volta de cinco e meia, de tanto insistir, dona Marluce consegue ouvir uma voz do outro lado da linha. Alguém rouco, informando que o rapaz não voltaria antes do pagamento de um resgate de trezentos mil dólares em dinheiro.

"E lá vai Sabino. Recebe na direita, tenta passar pelo lateral e a bola sai pela linha de fundo. É escanteio. Canhotinho vai jogar na área, Zanoto!" "É verdade, Fred. Ele treinou durante toda a semana. O zagueiro Orelhão vai tentar a cabeçada. Vem ela aí, Scapelloto". "Canhotinho cobra, a zaga rebate, Toinho bate e é gol. Gooooooooooolaço do Nacional. Toinho, camiza dez, aos quinze minutos do segundo tempo. Vibra a torcida azul. Agora no placar: Nacional, dois; Jangadense, um. Zanoto!". "Ele veio na corria, nem deixou a bola quicar e chutou de primeira, no canto do goleiro Anselminho. É o décimo gol de Toinho, artilheiro da competição".

Enquanto Amazonino comentava o lance, tremeu o telefone de Fred, colocado no bolso esquerdo da calça. Os sequestradores exigiram a recompensa sem mais delongas. Atônito, o radialista não soube o que fazer. Não dispunha de tal quantia. Fez sinal com a mão direita para Sávio esticar falatório. O próprio Alexandre indicou a senha de concordância: ele deveria ler, três vezes seguidas, o anúncio da Balza. Assim foi feito. Como uma mágica, Fred Scapelloto pegou um binóculos jogado na cabine e enxergou o pimpolho no meio da arquibancada. Engasgou e atirou longe o enorme fone de ouvidos que usava há mais de uma década.

Copo ao alcance. Duas, três goladas. Suficiente para acelerar o ronco. Novamente sonhos confusos. Filho sorrindo, caneta falhando, mulheres reclamando, time perdendo, trabalho escravizando, gente chantageando... Teve de tudo um pouco. Eram rompantes, delírios quase verdadeiros de realidade clara, absoluta, eminente e absurda. Mistura de formas e rostos, vertentes e mentiras. Mistério, por assim dizer.

domingo, agosto 25, 2013

Nós não somos nada

A minha missão era a de resgatar alguns livros e quadros. Quando soube da sua morte, ainda que não tivesse com ele relações pessoais significativas e nem mesmo sintonia artística, a notícia veio acompanhada do relato de que toda a sua obra estava se perdendo. Artista plástico solitário, Renato Pessanha havia deixado casa e acervo para uma cuidadora de idosos que o acompanhou na velhice. E agora o que me chegava era que seus quadros estavam sendo levados por quem quisesse e seus livros estavam próximos do lixo.

A casa de fundos em terreno de área central, próximo a alguns dos grandes prédios que tomam as áreas nobres, mantinha um ar interiorano de distrito. Pequena, de desenho modesto, muro baixo antes da varanda estreita. A marca do morador estava na majestade singela de um quase caramanchão que formava um arco sobre o portão de madeira. A sinalização era nítida: a morada é simples, mas a alma é aristocrática.

São Francisco, em quadro
de Renato Pessanha
O que vi foram os restos depostos de uma vida, em meio a um terrível e persistente cheiro da morte. Seu corpo havia sido encontrado há algumas semanas, na sala, pela senhora cuidadora, esta mesma que me dizia agora que tudo estava muito melhor, em comparação com aqueles dias trágicos em que precisou acionar policiais, bombeiros e até mesmo profissionais do ramo da desinfecção.

Experiente, ela me confirmava, enquanto me contava a cena que vira, aquilo que é comum ouvir nestes casos: “nós não somos nada”. E com senso prático me convidava para entrar, e me mostrava os livros do artista morto, e exibia objetos de trabalho e de devoção religiosa. Eu poderia levar o que quisesse, com exceção de um imponente oratório de madeira escura e tamanho intimidador, que seria doado para a igreja frequentada pelo artista.

E os quadros? Perguntei. Foram levados por um amigo da senhora, interessado em aproveitar as molduras.

A obra derradeira do artista só não estaria totalmente perdida em razão de um destes infortúnios da vida que acabam por se tornar providenciais. Doente e sem dinheiro, nos seus últimos anos vinha pagando consultas médicas e exames com seus quadros.  Estas telas, atualmente pertencentes a alguns doutores da cidade, escaparam da má sorte de servirem apenas de adorno para as molduras que viriam a interessar ao certo conhecido da herdeira.

Nenhum dos seus parentes diretos se interessou pelo seu espólio. E nem fizeram objeções à sua vontade manifesta de deixar todos os seus bens (que se resumiam à casa, aos livros, aos quadros e a poucos móveis) para a senhora, a única que restou em sua companhia e que nem mesmo, há muitos anos, salário recebia. As providências legais foram tomadas por uma irmã, que mora no Rio, a quem pareceu ser justa a escolha do irmão pela herdeira.

Ele era “complicado”, me contou a cuidadora, mas ela se dava bem com ele. Era das poucas, se não a única, que recebiam ligações quase diárias e que, justamente por isso, estranhou a ausência de notícias e os telefonemas não atendidos. Em alguns dias o encontraria morto.

Os parentes é que não gostavam das suas idiossincrasias. Não explorei detalhes, péssimo repórter que sempre fui, mas ouvi o bastante para saber, por exemplo, que o artista havia se tornado um religioso de convicções muito ortodoxas e que queria impor a familiares comportamentos rígidos esperados pela doutrina que professava.

Não tenha em mente o leitor, portanto, a imagem típica de um artista incompreendido, controverso e “à frente do seu tempo”, por isso renegado por uma família conservadora. O que aqui temos é quase o oposto: um pintor tomado por fortes convicções religiosas, que acreditava estar rodeado por pecadores e que dedicava a maior parte da sua arte aos temas da igreja. O mundo, para ele, estava perdido, e houve até mesmo oportunidade em que cobrou providências do Vaticano e da igreja local contra a investida anticristã que via tomar conta da sociedade.

Professor de história, religioso fervoroso, pintor e restaurador, seus livros retratavam estas preferências acumuladas por décadas. Encontrei obras raras do catolicismo, volumes de arte e história, em meio a alguns álbuns de fotografias, na maioria dos casos com reproduções das suas telas. Muitos deles com anotações e desenhos (que estão até por se transformar em uma exposição).

Confesso que, enquanto remexia seus livros, cheguei a me sentir tentado a uma íntima vingança histórica. É que havia muitas publicações tradicionalistas que demonizavam o comunismo, o que mexia com a minha afetiva inclinação adolescente de esquerda e com o meu ceticismo maduro de quase ateu. Lembrei-me das centenas de livros proibidos e queimados pela igreja, quando não iam para fogueira seus próprios autores, e me vi na condição de quem poderia também desaparecer com parte de um registro que, para mim, é de opressão e obscurantismo. Mas sorri sozinho e pensei: não farei como eles.

Após uma triagem feita pelo bravo amigo Wellington Cordeiro, deixamos parte do acervo na Associação de Imprensa Campista, e outra parte destinamos a um seminário católico indicado pelo professor Wainer Teixeira, onde terá melhor proveito. Afinal, o direito à memória e ao conhecimento é maior do que nossos sentimentos mais mesquinhos. E nós não somos nada.

sexta-feira, agosto 23, 2013

segunda-feira, agosto 19, 2013

[croniquinha de segunda]

Resposta comercial
Vitor Menezes

Querida TAM,

Não sei se vocês estão preparados para a notícia que vou dar. Ainda assim, embora seja dolorosa, vou ser direto. O fato é que meu pai morreu. E isso aconteceu em 1989. De modo que não poderei comprar para a ele a passagem aérea que você me oferece por e-mail nesta promoção do Dia dos Pais. Me desculpe por frustrar a sua expectativa.

Agradeço pela oferta e, sobretudo, pela oportunidade de me dar conta de que meu pai nunca foi seu cliente. Nem de nenhuma companhia aérea, pois simplesmente nunca andou de avião, ao menos que eu tenha tido notícia.

Ele percorreu muitos cantos do Brasil, mas era de um tempo em que os mais pobres só podiam fazer isso de ônibus ou de carro. Ele fazia de carro e de moto. Adorava dirigir. Creio até mesmo que, se ainda fosse vivo, e com condições financeiras para aproveitar as suas promoções, ele iria preferir rodovias a aerovias.

Era um típico ser da era do automóvel, amadurecido para o mundo durante os anos de encantamento brasileiro com este tipo de veículo, nos anos 50 e 60. Foi proprietário de Jeep Willys e de moto Harley-Davidson, e experimentou com estas máquinas prazeres que não estão acessíveis aos espremidos passageiros das aeronaves comerciais.

Gostava de viver ao ar livre, de pescar e de caçar, quando não havia restrições politicamente corretas a nenhuma destas preferências. E viajava bastante pelo interior do País, onde até hoje não existe muita oferta de voos.

Talvez nenhum dos seus marqueteiros tenha ideia do que seja percorrer mais de setecentos quilômetros, no conforto restrito de uma Variant, somente para pescar na curva específica, de um rio específico de uma cidade específica no Sul da Bahia. E voltar com quantidade de peixes não muito diferente da que encontraria em qualquer rio da sua região.

Obviamente você deve ter pensado na “relação custo-benefício”, esta mesma que você pensa quando me oferece uma oferta. Mas ele não se importava com isso. Seu benefício foi ter vivido de bem com as suas escolhas, e isso a todo custo.

Atenciosamente,

Vitor

segunda-feira, agosto 12, 2013

[croniquinha de segunda]

Fada do dente

Álvaro Marcos

Tremi. Percebi alguma coisa diferente. Um incômodo. Algo se mexendo pra lá e pra cá. E eu, sem explicação. Parecia turbulência. Mudança repentina. Latejava. Entre dois polos, ardor. Paciente, esperei o melhor momento para capturar as informações. Sabia, só, que doía. Não era dor profunda, contundente. Era suavemente constante.

Espécie de aviso. Anunciei. Mamãe, atenta e perspicaz, fez questão de interferir a seu modo. Com um jeito suave, macio, conversou comigo. Explicou em poucas palavras seu espanto misturado a contentamento. Era, sim, novidade. Descortinava-se, ali, nova realidade. Boa ou ruim, ainda não sabia.

Me importava mais, sinceramente, o detalhamento do que o fato em si. Pude ouvir um relato sereno, de quem tem voz mansa e sabe usar milimetricamente as frases certas na hora exata. Mãe é assim: binóculos nos olhos, estetoscópio no ouvido e um tato capaz de decifrar a mais complexa filosofia humana.

Pronto, relaxei. E disse o que me afligia tanto: o "pulsar" inédito da minha arcada inferior. Bem na frente. Ela, astuta, decodificou a mensagem. Relaxou e tratou, imediatamente, de providenciar meu alívio. Fração de segundos e já mostrava, toda orgulhosa de mim, o dente extraído sem esforço.

Pensei logo na "fada", de histórias que ela me contou há tempos. Sorriso no rosto, mamãe respondeu pela expressão facial: "Sim, ela virá. Você adivinhou"! Risonho e deficitário, numericamente falando, me gabei. Além de acertar em cheio a interpretação do acontecido, ainda vou ganhar bênção!

Certos novos conceitos, confesso, ainda me parecem estranhos. Dia seguinte vi notícia sobre a história de José pela tevê. Na sequência, mesma data, assisti a glória de Maria. Posso até ouvir meu pai detalhar a diferença entre uma alma talhada na retidão e um corpo esculpido ao bisturi.

Ôpa, meu pai surgiu na memória. Sim, tenho família. Afastada e unida, como se esses antônimos do dicionário fossem gêmeos. Parecido com meus dentes agora. Não há distância que nos separe. Queria, mesmo, mostrar pra meu irmão esse dentinho. Tô até vendo o semblante dele, tímido e amigo. Daqui, meu abraço apertado. Sempre!

segunda-feira, agosto 05, 2013

[croniquinha de segunda]

Beijei o Cazuza

Álvaro Marcos

Via a vida pela óptica da escolha. Não entendia a dúvida interna entre pudor e poder. Preservava-me dos meninos afoitos. Aos tímidos, oferecia um pouco além. Doava sensações, indiscretamente. Preferia sempre, indistintamente, os cautos. A estes permitia língua, toques e retoques sensuais, provavelmente além do limite imposto socialmente à minha tenra idade. A maneira de protesto e firmamento prevalecia.

Era o inconsciente de menina interiorana da década de 80. Sentia os seios crescerem, percebia lubrificação vaginal. Detalhar os motivos era pensar como adulta, ou adúltera. Em determinado momento, as palavras pareciam sinônimas tal exercida chibata paterna. Ouvir que moça tinha o casamento pré-marcado parecia comum, simples, trivial. Menos para mim, revolucionária desde as letras iniciais. Questão de personalidade desvirtuada, sei lá...

Identifiquei-me, sempre, com homens. Deles prezo amizade, fidelidade e respeito. E tesão, que eu conseguia reduzir a tiquinho. Não importavam tentativas e blefes. Sobressaia a integridade dessa troca miúda. Árdua em apartar avanços, próspera no conceito divisor de águas ao qual perseguia e acreditava. Fidelizei-me. Consegui - loura, linda e desejável - conquistar lugar altivo, inatingível e respeitável na macheza.

Foi, sei, com meu jeito berçário de sinceridade. Adicionando pitadas de desbocamento e, forçosamente, firmamento de pensamento. Não podia, de jeito algum, me deixar vencer por atrações momentâneas, paixões sem sentido, ilusões infantis. Crescia e amadurecia, ali, minha alma feminina libertária. Excêntrica para alguns, estranha no seio do lar e admirada pelas amigas. E, especialmente, pelos rapazes.

Ganhei altura, cabelos e peso. Aos 17 mandava em mim, contestava pai e mãe e liderava a trupe. Com discurso veemente, visceral, temperado de pitadas de irresponsabilidade e genialidade em doses até hoje insanáveis, lá fui eu caçar ingresso para o show do Barão Vermelho na terceira cidade vizinha. Era procura frenética, alucinada e quase inalcançável em pleno 1984. Apoio, zero. Dificuldades, milhares. Pensar em desistir, jamais.

Consegui, com míseros trocados, o bilhete para a apresentação. Peguei carona num fusca 68. Encontrei colegas, levados pelos pais. Assisti, vibrei e decidi algo a mais. Queria ver o grupo pessoalmente, no camarim. Sugeri-me ao segurança. Passei. De repente estava lá. Foram cinco minutos. Cazuza me conduziu à porta. Abracei seu pescoço. Nos beijamos alucinadamente. Tiveram de apartar. Seus lábios guardo como troféu até hoje, 29 anos depois.

segunda-feira, julho 29, 2013

[croniquinha de segunda]

Quase conhecido

Álvaro Marcos

Não, não é tão simples assim te cumprimentar. É estender afeto a quem praticamente desconheço de rosto. O que é uma feição? Pode o dicionário explicar como traços simbólicos e identificáveis de alguém. Pelo menos é minha definição sobre. Não te ver, pessoalmente, resume-se a mero detalhe fotográfico. A afinidade singela de frases nunca trocadas até hoje ultrapassa a falta do frente a frente. E palavras poderiam ter apenas sido escritas, transmitidas da frieza dos teclados para as redes sociais. Sem o som que identifique timbres ou deixe rastros de emotividade escancarados ao contato visual.

E foi dessa distante maneira que tentei, em vão, parabenizá-lo. Digitei poucas sílabas antes da conexão à internet desabar. Essa operadora não tem jeito mesmo. Sobram reclamações inclusive no mesmo Facebook onde arrisquei expressar minha admiração logo no dia do seu aniversário. Não importa. Pode ter passado essa oportunidade de calendário; sobrarão chances vida afora. Ou não. Ou até em outras vidas, quem sabe. Quem sabe, até, essa proximidade, essa discretíssima afinidade, não venha de outros mundos, de contatos longínquos e muito, muito inexplicáveis...

Ouvi falar de ti ainda jovenzinho, recém-saído da adolescência. O tio da primeira namorada, quando vinha de outra cidade (interior de Minas), não cansava, durante os encontros familiares, de relatar e enaltecer a amizade contigo. Enumerava as aventuras em sua companhia enquanto dedilhava um bem conservado violão. Fanhoso, às vezes se tornava incompreensível. Tinha vergonha do problema na dicção. Isso o irritava e constrangia. Compensava com o talento musical e a sensibilidade de uma artista adormecido conhecedor da enorme capacidade perceptiva.

Soube também, por notícias via imprensa, de sua entrega ao teatro quando novo. Fez parte de um grupo histórico na cidade, integrado por gente que ganhou notoriedade governamental. Um grupo que te pinçou a vida pública. Não à política. Esta, creio, presente em ti desde quando se entendeu por gente. Acompanhei notícias sobre seu desempenho como parlamentar estadual. As informações sempre destacaram uma honestidade raríssima no meio. Curioso, percebi que ao deixar o mandato não ostentou riqueza. Simples deduzir: não a acumulou, como a maioria, em apenas quatro anos.

Seu nome permeia minha fase adulta. No Rio de Janeiro dividi apartamento com um amigo que se relacionou com sua sobrinha. Ela, também talentosa - e parece coisa de família -, engrossou o coro a enaltecê-lo. É admiradora, fã. Filha do irmão médico, que preferia identificar-se profissionalmente como poeta. E era dos bons. Assim como você, de fino trato com o verbo. Li poemas seus soltos por aí. Certo dia encontrei no supermercado um conhecido, artista plástico. Coincidência ou não, seu amigo e admirador! Mais um para a enorme e incalculável coleção. Destilou maravilhas a seu respeito.

Vi, sim, você. Duas vezes, que me lembre. A primeira na fila do banco, quando estava acompanhado de uma mulher. Talvez a esposa, não posso precisar. Na outra ao volante de um carro estacionado bem em frente a um hospital. Tive vontade de perguntar se precisava de algo. Cansado, vindo do trabalho em outro município cem quilômetros distante, recuei. Resta ler sua página virtual, sempre traduzindo a perspicácia peculiar. Te acompanhar e te curtir, sim. Ainda, por timidez, não te compartilhei. Percebo que elogia duas crianças, imagino seus netos. Então, felicidades! Um abraço.

sexta-feira, julho 26, 2013

'Um grito de liberdade' no Cine Jornalismo deste sábado (27)

Com o filme "Um grito de liberdade", a Associação de Imprensa Campista (AIC) apresenta neste sábado (27), às 16h, o projeto "Cine Jornalismo" cuja entrada é franca. Após a exibição, o público vai poder bater um papo com o jornalista Ricardo André Vasconcelos, do blog "Eu penso que..."

O filme conta a história de uma amizade memorável entre dois homens inesquecíveis. A tensão e o terror da atualidade da África do Sul é poderosamente retratada neste emocionante filme realizado por Richard Attenborough, que nos conta a história de um ativista negro Stephen Biko (Denzel Washington) e de um editor liberal de um jornal branco que arrisca a sua própria vida para divulgar ao Mundo a mensagem de Biko.

Depois de ter conhecimento dos verdadeiros horrores do Apartheid, através das descrições de Biko, o editor Donald Woods (Kevin Kline) descobre que o seu amigo foi silenciado pela polícia. Determinado a fazer ouvir a mensagem de Biko, Woods embarca numa perigosa aventura para escapar da África do Sul e divulgar ao mundo a impressionante história de coragem de Biko.

segunda-feira, julho 15, 2013

Vídeo de TCC de Jornalismo perguntava em 2008: a juventude vai para a rua hoje?

É muito bacana rever este vídeo de 2008 após tudo o que aconteceu no Brasil em junho:

1968 - 40 anos depois from Leonardo Torres on Vimeo.

domingo, julho 14, 2013

quarta-feira, julho 03, 2013

Hoje tem mais...


segunda-feira, julho 01, 2013

[croniquinha de segunda]

A solução

Álvaro Marcos

O carro para no sinal. Vem uma lourinha de mais ou menos um metro e sessenta e cinco. Aquele tipo que passa despercebida em uma festa mas que, invariavelmente, acaba virando o pescoço masculino para trás nas calçadas. Era uma, entre centenas, de distribuidoras de folhetos da cidade. A calça jeans justíssima, curvilínea, abaixo da linha da cintura, chamava mais atenção que o tal papelzinho anunciando uma loja de informática com todo tipo de computadores e acessórios.

Vidro do motorista abaixado, mão esticada, e um rápido olhar no panfleto, que logo vai parar sobre o painel. Ajeita o retrovisor, vê o filho de seis meses dormindo no bebê conforto preso pelo cinco de segurança no banco de trás, pisa a embreagem, passa a primeira e acelera. Segue com a mania de dirigir apenas com a mão esquerda, enquanto a direita fica sobre o câmbio. O calor é intenso. Nem o ar-condicionado dá jeito. Põe no dois, no três... Aperta o botão da circulação.

Deixa o neném com a mãe dele porque tem que treinar. Para variar, está atrasado. Chega ao estádio esbaforido mentalmente. Aos 32 anos, 13 de futebol profissional, sabe que o rendimento não é o mesmo. Bom foi quando, aos 19, arrancava pela esquerda, dava um corte seco no beque na diagonal da grande área e já batia firme na bola, sem chance para o goleiro. Fazia isso até nos recreativos de sábado pela manhã sem se importar quem tinha pela frente.

Agora tem que jogar com a cabeça. Recuou do ataque para ser o quarto-homem-de-meio-de-campo. Ainda lida bem com os dois pés. Cabelo ralo, feição madura, é chamado de "tio" pela molecada que saiu recentemente dos juniores. O preparador-físico, um sujeito mais novo que ele, já está lá no círculo central. Apito na mão, ordena "piques-curtos" entre as balizas fincadas no gramado. Um exercício chato, mas que tem como finalidade aprimorar o "jogo-de-cintura" dos atletas.

Pensa no filhote, na separação, nas brigas com a ex-mulher... Lamenta ter perdido a grande chance da carreira, quando foi vendido para o time da capital ainda novo. Lá até que foi bem. Depois perdeu espaço por causa das noitadas e, especialmente de alguns "rabos-de-saia". Bonitão, fazia sucesso fora das quatro-linhas também. Devorava tudo que lhe era apresentado. Foi parar no Nordeste. Rodopiou ainda pelo interior do Rio Grande do Sul indicado por um técnico fã de seu estilo agressivo.

Cotovelos na cobertura do banco de reservas, observa a movimentação. Não aguenta mais ter que dar explicações sobre sua vida pessoal para justificar as ausências no horário marcado. Simular contusão é feio e contra seus princípios. Faz o sinal da cruz. E cara de poucos amigos. Ouve um "vem correr com a gente". Dez voltas no circuito improvisado. Alguém comenta sobre o sol. Diz dois "e aí" e um "foi mal" a manhã inteira. Embaixo do chuveiro, refresca a alma.

Almoça no restaurante de um dirigente do clube, acompanhado do herdeiro resgatado poucos instantes atrás dos braços da avó. Mais uns carinhos no baby e é hora de levá-lo embora. Troca meia dúzia de palavras com a ex. Sorri quando o porteiro do prédio onde morou diz que apostou em um gol dele no fim de semana. Perde dez minutos de prosa com o camarada, um negro alto, que até daria um bom zagueiro pelo porte atlético. Sozinho, parte novamente. Sem muito destino, dessa vez. De tarde, sempre gostou de tomar uma cerveja. Mas a taxa elevada de ácido úrico não deixa.

Passa no mesmo cruzamento do início da manhã. E lá está a garotinha sapeca, ainda com algumas folhas. Dá uma espiada mais insinuante e se surpreende quando ela o fita. Massageou seu ego de macho. Imagina as peripécias da qual não é capaz. Estaciona em frente ao rio que corta a cidade ao meio. Não sabe como agir agora. Uma coisa é certa; mesmo com o baixo salário e todas as dificuldades que virão, não concorda com o aborto que a namorada, grávida de quatro semanas e meia, quer fazer.

segunda-feira, junho 24, 2013

[croniquinha de segunda]

O velho magnânimo
 
Vitor Menezes

O velho, magnânimo, olhou para as formigas e disse:

- As deixarei viver.

Gostava de exercer poder.

E não há poder maior do que decidir sobre a morte e a vida, ainda que sejam de formigas. No caso do velho, nem sempre o foram.

Décadas atrás, eram frequentes as situações em que decidia se devia matar ou se devia deixar viver. Fazia isso com refinado humor, mas ainda assim escolhia mais a primeira do que a segunda opção.

Uma noite, no seu pequeno tribunal particular, julgou e condenou à morte um dos seus empregados, sujeito petulante que ousara reivindicar uma bobagem qualquer que nem mais se lembra. Um imbecil aquele funcionário.

Também teve a vez em que mandou que desaparecessem com um pároco, adepto de ideias estranhas sobre o papel da igreja.

Nas poucas vezes em que optou por deixar viver, o fez por necessidade de liberar o apavorado para que contasse aos seus iguais o que acontece com quem o desafia.

O tempo passou, os tempos mudaram, e a matança arrefeceu. Mas o velho não perdia o hábito de exercer poder. E assim fazia nos seus novos negócios, com seus parentes e até com amigos e aliados.

Não eram mais tiros o que disparava. Eram ordens desencontradas ou sem sentido, reprimendas desnecessárias, humilhações públicas, acessos de fúria contra subalternos.

Até que chegou o dia em que uma emboscada o tombou no acostamento de uma estrada de pouco movimento. Foram seis tiros. Dois na cabeça, três no peito e um ridiculamente na nádega direita. Ele ainda agonizava, rosto colado ao chão, sangue escorrendo da boca, quando viu a trilha de formigas que se aproximava. E foi este o momento em que balbuciou:

- As deixarei viver.

quinta-feira, junho 20, 2013

segunda-feira, junho 17, 2013

[croniquinha de segunda]

A gargalhada silenciosa

Vitor Menezes


Era uma gargalhada sem som em contraste com a noite. Em dentes alvos e incisivos. E era um olhar risada que poderia desintegrar a quem apontava.

Eu não sabia que isso existia. Descobri dia desses. Matar alguém, ainda que metaforicamente, apenas com um riso silencioso. Não poderia imaginar.

Não era um anti-riso. Não era um deboche. Era uma boca aberta no ar como que a condenar o ridículo do próximo e de todas as autoridades constituídas e de todas as formas de seriedades do mundo e de todos os modos barulhentos de rir.

Queixo erguido de um rosto redondo que, quando apontado para o céu para a posição de ataque, se torna afilado. Olhos negros e miúdos, sob sobrancelha grossa e severa. É esta a moldura dela, da gargalhada sem som. E se chama Camila a sua dona. Ou seria a gargalhada a dona da mulher? (que, como que possuída, não pode contê-la e se põe a gargalhar involuntariamente).

O enigma me atordoou por dias. Como pode isso? Como pode alguém gargalhar sem som?

Dividi a minha angústia com os amigos que testemunharam a cena. Nem mesmo a dona (ou a propriedade) da gargalhada havia se dado conta da sua excepcionalidade. Então passou-se a considerar o potencial daquele dom: ideal para utilizar em velórios e palestras. Perfeito para não atrapalhar gravações de rádio ou TV. Indicado para missas. Oportuno para experiências com cinema mudo. Fotogênico.

E a todo momento eu queria rever aquela exclamação insidiosa em forma de lábios e dentes. Era disso que se tratava, de um enorme ponto de exclamação. Creio que jamais verei gargalhada como aquela em outras bocas.

Sabe aquela letra do sempre Chico que diz que “o velho cantor subindo ao palco apenas abre a voz, e o tempo canta”?

Pois Camila abre a boca e a noite ri. De nós. E em silêncio.

sexta-feira, junho 14, 2013

Bate papo com Gisele Borba após a exibição de "O diário de um jornalista bêbado"

Ucam nega relação com cursos oferecidos em hotel

Os colegas da Candido pedem divulgação da nota abaixo:

"UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – CAMPOS

Esclarecimento Importante

A Universidade Candido Mendes – Campos, ciente de sua grande responsabilidade perante a comunidade acadêmica, estudantes e população de Campos e Região, em respeito ao direito constitucional à informação, esclarece que não tem nenhuma participação nos cursos de pós-graduação lato sensu que estão sendo oferecidos, na modalidade semipresencial, num hotel desta cidade, pelo Instituto Prominas, da cidade de Coronel Fabriciano/MG. Portanto, não se responsabiliza pela legalidade, regularidade, qualidade ou certificação dos mesmos. Todos os cursos da UCAM – Campos são oferecidos em seu campus universitário na Rua Anita Peçanha, 100, Parque São Caetano, nesta cidade.

Campos dos Goytacazes, 14 de junho de 2013

Luís Eduardo de Oliveira Souza
Diretor"

terça-feira, junho 11, 2013

[croniquinha de segunda]

O infiel e o mulherengo

Vitor Menezes

Digamos que uma certa associação taquarense das mulheres emancipadas tenha escorregado na má ideia de convidar Aécio Manhas (assim mesmo, sem acento) para palestrar em seu encontro anual. A proposta teria surgido na cabecinha santa de Benta Edvirges, moça progressista, inaugurada e militante, mas de formação romântica e religiosa. O plano: ouvir o que os homens têm a dizer sobre relacionamentos.

- Todo ano ouvimos as companheiras feministas. Nós já sabemos o que elas têm a dizer. Precisamos saber é o que os homens têm a nos revelar – teria defendido a engajada Bentinha.

Imagine então que Aécio teria caminhado da plateia para o palco, após solene apresentação feita pelo cerimonial, e tenha se postado ao microfone diante de dezenas de olhares associados, taquarenses, mulherenses e emancipados, dado duas batidinhas com os dedos para testar o som, ajustado a altura do pedestal, e dito algo assim:

- Boa noite a todas. É um grande prazer estar entre tantas mulheres. Creio que muitos homens gostariam de estar no meu lugar nesta noite, especialmente se forem cumpridas todas as promessas que estes olhares me fazem agora.

Neste ponto, parte das ouvintes desviaria os olhos, outra parte franziria o cenho em desaprovação, mas a maioria sorriria receptiva.

Seria nula a possibilidade de que Aécio Manhas deixasse o evento sem carregar duas ou três para o seu estúdio fotográfico. Sim, o palestrante seria um fotógrafo, escolhido para a missão justamente por manter consolidada fama de conquistador contumaz.

Não tardaria o burburinho sobre a impertinência de convidar um machista cafajeste, responsável pelos mais notáveis casos de desvirtuamento precoce de meninas, e também de destrambelhamento matrimonial de senhoras, para falar em evento concebido para proclamar a libertação feminina de espécies da sua laia.

Benta Edvirges estaria em busca do botão “ejetar” em sua cadeira, quando seria tomada por esperança redentora ao ouvir, lá pelos trinta minutos de palestra, Aécio dizer que, diferentemente do que aquelas gostosurinhas da plateia poderiam imaginar, ele era um homem fiel.

- Tenho horror da infidelidade – proclamou, chamando a atenção até das mais hostis ouvintes.

- Não sou e nem nuca fui infiel. Sou é mulherengo. O infiel gosta de trair. O mulherengo gosta é de mulher. Trato todas como se fosse a única e, se pudesse, ergueria um altar para cada uma delas. Se não posso ser só de uma, é porque amo demais. O infiel gosta de ver o sofrimento da mulher traída, goza a sordidez da enganação, valoriza o profissionalismo da dissimulação. O mulherengo, ao contrário, a faz tão bem que ela o deixa livre, para ir e voltar feliz. É normalmente atrapalhado e amador. E se incorre em certa simultaneidade em seus casos, é por considerar a vida muito curta para amar uma de cada vez – disse, pontuando com um sorriso aberto.

Até as mais ortodoxas considerariam a validade da tese. E haveria mais uma festinha no estúdio.

quarta-feira, maio 29, 2013

[croniquinha de segunda]

Oração para São José Cândido
 
Vitor Menezes

Glorioso São José Cândido,

Peço que, quando tudo me faltar, que eu não esqueça a literatura. Tenho vivido essa vida sórdida de pagar contas e de cumprir responsabilidades. Por preguiça ou por cansaço, não tenho me dedicado ao que intuitivamente sei que deveria fazer. E o tempo passa sem que eu saiba se um dia poderei, enfim, me dedicar integralmente a ela.

Tudo o que tenho feito me parece empecilho que me afasta daquilo que realmente importa.

O que peço é que, quando eu estiver velho, livre das dívidas sociais do mundo, que eu não me torne imune à literatura, como tanta gente por aí.

Tenho visto bons escritores sucumbirem à rotina dos assalariamentos, às desculpas sobre as dificuldades do mercado editorial, e até mesmo às arrogâncias dos discursos que colocam a culpa nos leitores. Não permita, meu santo, que eu siga igual caminho.

Que eu não me esqueça da razão de ter nascido. Que eu não fique avarento e considere apenas a possibilidade de fazer o que dá dinheiro. Que eu não passe a acreditar que sensibilidade é coisa de adolescente romântico.

Mesmo que eu não venha a ter o talento necessário, me permita escrever. Ao contrário de Pessoa, assim o permita mesmo que seja para não ser lido ou publicado. Deixe-me apenas não esquecer. Não haverá fechamento correto do ciclo da minha existência se assim não o for.

Que meus netos me reconheçam como escritor, e se divirtam com a esquisitice do avô que vive trancado entre livros. E que vez por outra me apareçam estudantes com a tarefa de entrevistar um certo cronista que mora no bairro.

- Qual a diferença entre crônica e conto? – perguntarão, e eu responderei com gosto, mais uma vez.

Meu poderoso São José Cândido, que eu tenha saúde para viver até chegar este momento. E que, se não for pedir demais, que ele possa durar o tempo suficiente para que eu produza toda a obra que estiver ao meu alcance.

Que eu possa, enfim, honrar a sua tradição, para depois descansar no celestial inferno dos escritores por toda a imortalidade.

Regulação da mídia: Congresso não debate porque 40% dos parlamentares têm emissoras, diz Fenaj

Lúcia Berbert / Do Tele.Síntese

28/05/2013 - O Congresso Nacional não vai mudar tão cedo o marco regulatório das comunicações porque 40% dos parlamentares ou são proprietários de emissoras de rádio e televisão ou têm interesse direto. A afirmação é do representante da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Carlos Torves, durante audiência pública na Câmara sobre liberdade de expressão, ao defender a revisão do marco regulatório da mídia eletrônica.

Torves criticou o governo em não promover o debate sobre a proposta de novo marco regulatório. “Mais preocupado com as eleições próximas, abandonou o compromisso assumido pelo governo passado e as conclusões da Conferência Nacional de Comunicação”, disparou.

Já o deputado Sandro Alex (PPS-PR), elogiou o Ministério das Comunicações, por deixar na gaveta a proposta de atualização do marco, elaborada no governo Lula. “Esse foi o maior presente à liberdade de expressão”, enfatizou o parlamentar. Ele disse que continuará trabalhando para que a proposta continue no fundo da gaveta.

O conselheiro da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Paulo Tonet de Camargo, apresentou números que, segundo ele, provam a pluralidade dos meios eletrônicos no país. “Das 9.589 emissoras de rádio existentes, 48% são comerciais, 47% comunitárias e 5% públicas”, disse.

Para Tonet, discutir as comunicações sem incluir as atividades do ramo que usam a internet como plataforma é discutir o passado. Ele afirma que a aprovação do Marco Civil da Internet é importante, mas insuficiente para regular empresas como a Google, que hoje detém o segundo lugar no mercado da publicidade brasileiro ou o portal Terra, que pertence a um grande grupo multinacional de telecomunicações.

O representante do Fórum Nacional para Democratização das Comunicações (FNDC), José Sóter, o limite de potência imposto às rádios comunitárias impede que essas emissoras sejam ouvidas por um número expressivo de pessoas. Enquanto a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), afirma que a quantidade de concessões não exclui o poderio de grupos de comunicações em veicular um pensamento único para 60% dos brasileiros. “A gente não se vê nos meios de comunicações”, reclamou.

Os representantes das associações Nacional de Editores de Revistas (Aner) e Nacional de Jornais (ANJ), Maria Célia e Ricardo Pedreira, respectivamente, repudiaram qualquer tipo de controle aos veículos impressos. “Regulação só deve ter os veículos que dependem de concessão”, enfatizou Pedreira. E a representante do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Belmonte, cabe somente ao consumidor o tipo de controle que quer exercer na mídia.

Os deputados lamentaram a falta de participação de representante do Ministério das Comunicações no debate.

Link para a publicação original:
http://www.telesintese.com.br/index.php/plantao/23066-regulacao-da-midia-congresso-nao-aprova-porque-40-dos-parlamentares-tem-emissoras-diz-fenaj

segunda-feira, maio 20, 2013

[croniquinha de segunda]

A verdade sobre o pai

Vitor Menezes

O menino que andava pelo gramado com a bola sob o braço direito pareceu muito familiar ao homem, que o observava de longe. Quem poderia ser? De onde o conhecia? Qual a razão para aquela sensação de saber muito sobre aquele garoto?

Mais alguns passos levaram o menino ao pipoqueiro e, em seguida, justamente ao banco de praça onde estava o homem.

- Posso sentar?
- Claro, fique à vontade garoto.
- Quer pipoca?
- Não, obrigado.
- Tem certeza?
- Está bem, só um pouco.

E o menino estendeu o pacote para os dedos longos do homem.

- Salgada, né?
- Um pouco sim. Principalmente pra mim, que tenho pressão alta.
- O que é pressão alta?
- Um probleminha aí de velho, um dia você vai saber.
- E pipoca dá isso?
- Não – riu o homem – pode comer tranquilo.

Aos poucos, enquanto seguia a conversa amistosa entre os desconhecidos homem e menino, o que incluiu nomes revelados e mais algumas informações, o primeiro começou a juntar as partes da memória que faltavam para, afinal de contas, lhe dizer de onde conhecia aquele olhar, aquele mexer de mãos, aquelas expressões, aquele jeito comunicativo, aquele cabelo liso, aqueles olhos verdes.

Era o filho do mais filho da puta, entre os maiores filhos da puta paridos sobre a Terra. Um sujeito desprezível, que fora seu chefe há trinta anos, e com o qual, graças a todos os santos protetores dos empregados, nunca mais tivera contato, apenas notícias de que havia se casado, tinha um filho, e continuava tão filho da puta quanto sempre.

O homem, que tudo sabia sobre das iniquidades de caráter do pai do garoto, olhou o menino e nada disse. Todo filho tem o direito de não saber a verdade sobre o pai.

sábado, maio 11, 2013

quarta-feira, maio 08, 2013

Semana da Imprensa começa nesta sexta em Campos

Da Assessoria da AIC

A Associação de Imprensa Campista (AIC) promove a partir da próxima sexta-feira (10), a 23ª Semana da Imprensa. A novidade é que a partir deste ano, a programação será temática. "O Jornalismo Literário na terra de José Cândido de Carvalho" é o assunto da vez. A escolha desse tema se deu em razão do crescente interesse de jornalistas e estudantes de jornalismo sobre esta linguagem. “E nada mais justo do que homenagear José Cândido, mais conhecido como escritor, mas que também foi um jornalista, autor de perfis brilhantes, que é um tipo de jornalismo literário”, explica o presidente da AIC, Vitor Menezes.

O calendário de atividades começa sexta (10), às 11h, na TV Record, onde os meninos assistidos pela Casa do Pequeno Jornaleiro vão conhecer as etapas de produção de uma reportagem. Além de ser um momento de integração entre os jornalistas e comunidade interessada em jornalismo, a Semana da Imprensa tem se tornado também um evento de formação, com reflexões e debates sobre a profissão. Por isso é que a maior parte das atividades acontece no curso de Jornalismo do Uniflu/Fafic.

Na noite de segunda-feira, o destaque é a mesa “A linguagem dos quadrinhos no Jornalismo”, na Fafic, com Cássio Peixoto e Adriano Ferraiuoli. Às 22h, acontece o V Balada Curta (mostra de produção de curtas, Noite do Vinil, Microfone Aberto, Coxinha Gordurosa em show acústico), no Bar Dona Baronesa. A edição do Cine Jornalismo de maio acontecerá também na Fafic, terça-feira (14), com “Diário de Um Jornalista Bêbado”, seguido de bate-papo com a jornalista Gisele Borba.

Outra novidade é o lançamento da campanha de apoio ao projeto de lei (de iniciativa popular) da Mídia Democrática, que tem por finalidade, regulamentar os artigos 5, 21, 221, 222, 223 da Constituição, visando ampliar a liberdade de expressão. Durante as atividades da Semana, serão coletadas assinaturas para o projeto, apoiado por diversas entidades dos movimentos sociais.

Também constam na programação, oficina de Jornalismo Literário com o professor Gerson Dudus; mesa sobre Jornalismo Literário com Gisele Borba e Lívia Nunes e mais uma edição do projeto “Memória AIC”, desta vez com o jornalista, cronista e escritor, José Cunha Filho, que também é imortal da Academia Campista de Letras (ACL).

 

PROGRAMAÇÃO COMPLETA        
  

Sexta, 10/05/13

11h - Visita dos meninos da Casa do Pequeno Jornaleiro à TV Record
Local: TV Record                                         

Sábado, 11/05/13

15h - Imprensa Pelada
Local: Folha Seca

Segunda, 13/05/13

19h – Lançamento da Campanha em apoio do Projeto de Lei da Mídia Democrática
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Sala 220

19h15 - Mesa: A linguagem dos quadrinhos no Jornalismo
Expositores: Cássio Peixoto e Adriano Ferraiuoli
Moderador: Vitor Menezes
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Sala 220

22h - V Balada Curta
Mostra de produção de curtas, Noite do Vinil, Microfone Aberto, Coxinha Gordurosa em show acústico.
Local: Bar Dona Baronesa

Terça, 14/05/13

19h - Cine Jornalismo AIC
Filme: Diário de Um Jornalista Bêbado
Comentários: Gisele Borba
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Sala 220

Quarta, 15/05/13

19h - Oficina de Jornalismo Literário com o professor Gerson Dudus
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Sala 220

Quinta, 16/05/13

19h - Mesa: Jornalismo Literário na terra de José Cândido de Carvalho
Expositoras: Gisele Borba e Lívia Nunes
Moderador: Orávio de Campos Soares
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Sala 220

Sexta, 17/05/13

19h - Memória AIC com o Jornalista José Cunha Filho
Local: Curso de Jornalismo do Campus II do Uniflu (Filosofia) - Estúdio de TV

segunda-feira, maio 06, 2013

AIC apoia Projeto de Lei da Mídia Democrática

Do Blog da AIC

A Associação de Imprensa Campista (AIC) aprovou, em reunião de diretoria na noite da última sexta-feira (03/05/13), apoio a campanha de coleta de assinaturas em favor do Projeto de Lei da Mídia Democrática, lançado por diversas entidades dos movimentos sociais no dia 1º de Maio e liderada pelo Forum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
As atividades de coleta de assinaturas organizadas pela AIC vão começar durante a 23ª Semana da Imprensa, evento que a entidade realiza entre os próximos dias 10 e 17. Os participantes das mesas e oficinas serão convidados a assinarem o documento.
O projeto popular contém princípios afins aos propósitos estatutários da AIC, que defende a democratização dos meios de comunicação, a ampliação do acesso à informação, à pluralidade de vozes e manifestações políticas e culturais na mídia, a regionalização da produção e a valorização do conteúdo nacional.
Confira, abaixo, um resumo sobre a proposta elaborado pelos organizadores da Campanha. Mais informações em http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/
Por uma lei da Mídia Democrática
+ Liberdade de Expressão, + Vozes, + Democracia, + Conteúdo Nacional, + Conteúdo Regional, + Ideias
Para construir um país mais democrático e desenvolvido precisamos avançar na garantia ao direito à comunicação para todos e todas. O que isso significa? Significa ampliar a liberdade de expressão, para termos mais diversidade e pluralidade na televisão e no rádio. Atualmente, temos poucas empresas familiares que controlam toda a comunicação do país, e isso é um entrave para garantir essa diversidade. Além disso, a lei que orienta o serviço de comunicação completou 50 anos e não atende ao objetivo de ampliar a liberdade de expressão, muito menos está em sintonia com os desafios atuais da convergência tecnológica. A Constituição de 1988 traz diretrizes importantes nesse sentido, mas não diz como alcançá-las, o que deveria ser feito por leis. Infelizmente, até hoje não houve iniciativa para regulamentar a Constituição, nem do Congresso Nacional, nem do governo.
Compreendendo que essa lei é fundamental para o Brasil, a campanha Para Expressar a Liberdade – uma nova lei, para um novo tempo, a partir da elaboração de diversas entidades do movimento social, lança este Projeto de Lei de Iniciativa Popular para regulamentar os artigos 5, 21, 221, 222, 223 da Constituição.
O QUE TEM EM CADA CAPÍTULO?
Capítulo 1: + Televisão, + Rádio
Define o que é comunicação social eletrônica e seus serviços (rádio e televisão aberta gratuita, rádio e TV digital, rádio e TV na internet não produzidas por usuários, por exemplo, webTV produzida por grupos de comunicação como UOL, Folha, Globo etc). Blogs e videos pessoais do youtube entre outros estão fora desta lei.
Capítulo 2: + Diversidade, + Cultura, + Brasil
Estabelece os princípios e objetivos da lei: promover a pluralidade de ideias e opiniões; fomentar a cultura nacional, a diversidade regional, étnico-racial, de gênero, classe social, etária e de orientação sexual; garantir os direitos dos usuários etc. Também regulamenta definição constitucional de que o sistema de comunicação deve ser dividido entre público, privado e estatal.
Capítulo 3: + Transparência, + Canais
Define as regras para ter uma licença de um serviço de comunicação, que passará a ser dada através de critérios transparentes e com audiências públicas. Proíbe o aluguel de espaços da grade de programação, assim como a transferência da licença. Também proíbe que políticos sejam donos de emissoras de rádio e televisão.
O projeto propõe uma nova forma de organização dos serviços – como já é feito em outros países – que está baseado no seguinte conceito: quem produz conteúdo não pode ser a pessoa (empresa) responsável pela distribuição. Assim, a infraestrutura e a gestão do sinal não serão controlados por quem faz os programas. Com isso, se busca aumentar a diversidade e a concorrência neste mercado.
Capítulo 4: Fim dos Monopólios 
Define as regras para impedir a formação de monopólio nos meios de comunicação, proibindo que um mesmo grupo econômico seja proprietário de rádios, televisões, jornais e revistas numa mesma localidade, com exceção dos pequenos municípios. Estabelece também quantas licenças de rádio e TV um mesmo grupo pode ter nacionalmente.
Capítulo 5: + Brasil na TV e no rádio, + Direito de antena
Reforça os princípios do Capítulo 2 e proíbe a censura prévia de conteúdos. Define o direito de antena para grupos sociais (horário gratuito em cadeia nacional, como têm os partidos políticos), o direito de resposta, a presença de conteúdo nacional e regional. Conteúdos que façam apologia ao discurso do ódio, da guerra, do preconceito de qualquer tipo não são permitidos. Garante a proteção da infância e adolescência.
Capítulo 6: + Participação Social na regulação
Define os órgãos do Estado que terão o papel de regular os serviços e serão os responsáveis por observar o cumprimento da lei. Também define como se dá a participação social na elaboração, debate e acompanhamento das políticas de comunicação para o país, com a criação do Conselho Nacional de Políticas de Comunicação.

quinta-feira, maio 02, 2013

quarta-feira, maio 01, 2013

Confira a programação do 2º Festival de Bandas de Garagem de Campos

Começa hoje o 2º Festival de Bandas de Garagem de Campos, no auditório do Palácio da Cultura, com entrada gratuita. Confira a programação:

DIA 01/05, 17 horas

1 - PRODUTO DO ROCK
2 - TUBARÃO MARTELO
3 - CLÁSSICOS ETERNOS
4 - MOINHOS DE VENTO
5 - EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE

DIA 02/05, 19 horas

1 - LOKOMOTIVO
2 - PRIMITIVA
3 - ORIGENS
4 - CANEXÃO JAPA
5 - AUDIOATIVA - SÃO FIDÉLIS

DIA 03/05, 19 horas

1 - PSICOPATO
2 - RAREFEITO
3 - EMANUEL
4 - PROJETO ZERO
5 - VÓ KUSTÓDIA
6 - EIXO NACIONAL

DIA 04/05, 17 horas

1 - OLD SUMMER
2 - ANTI MATÉRIA
3 - MOBY JAM
4 - ATTIVITÀ POWER TRIO
5 - FOUR HANDS
6 - ERRO DE SISTEMA

DIA 05/05, 17 horas

1 - SURFACE
2 - RIDER MACHINE
3 - ATHE MARIA
4- OLD KITCHEN
5- CASANOVA
6- COLDEST DAY

DIA 06/05, 19 horas

1 - BENTI.VI
2 - BOSSA JUNKEBOX
3 - ELTHERON
4 - G.O.A.T
5 - INNER SIDE

DIA 07/05, 19 horas
1 - CÓDIGO INVÁLIDO
2 - MÊNADE
3 - KORION
4 - ENDORAMA
5 – PARADOXO INVERTIDO
6 – RED JACK
7 - COXINHA GORDUROSA.

Wesley Machado fica em 3º lugar no Prêmio João Saldanha

Wesley Machado recebe o prêmio do diretor da Capemisa
 Seguradora Laerte Tavares. Foto: Divulgação/Check

O jornalista Wesley Machado ficou com o terceiro lugar na categoria "Interior " do III Prêmio João Saldanha de Jornalismo Esportivo da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (ACERJ). A premiação foi realizada na segunda-feira (29) na sede histórica do Botafogo de Futebol e Regatas, no Rio de Janeiro. Pela colocação, Wesley faturou o troféu de bronze, entregue por Laerte Tavares, diretor da Capemisa Seguradora, uma das patrocinadoras do evento, junta do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Wesley Machado concorreu com a reportagem "O leão da coroa ainda resiste", sobre o centenário do Campos Atlético Associação, publicada na edição de 26 de outubro de 2012 do Jornal "O Diário".

A reportagem vencedora da categoria "Interior" do III Prêmio João Saldanha foi "Do futebol direto para a igreja", escrita por Leonardo Barros e Kiko Charret para o Jornal "O São Gonçalo", sobre o ex-jogador do Fluminense, Roberto Brum; que virou pastor. O segundo lugar ficou com o ex-jogador do Americano e do Fluminense, atual jornalista e escritor, José Roberto Padilha, o "Zé Roberto", com a crônica "Eternos Vilões" para o "Entre-Rios Jornal". Na primeira fase, foram eliminadas 10 reportagens, de um total de 13 nesta categoria. Ao todo, a ACERJ recebeu 81 inscrições para todas as categorias. Outro campista, Cahê Mota, ficou com a prata na categoria site com a reportagem "Encontre os Super-Humanos/ Perfis dos jogos Paralímpicos" para o "Globoesporte.com".

- Foi uma emoção estar no templo do meu clube do coração, o Botafogo. Recebendo um prêmio que tem o nome de um grande botafoguense, João Saldanha. Num dia em que outro botafoguense, e campista, foi homenageado, Oldemário Touguinhó. Senti-me em casa. Até porque vários campistas estavam presentes, como o Elso Venâncio; o escritor Péris Ribeiro; o pesquisador Humberto Rangel e outros amigos. Sem contar, claro, o dono da festa, o presidente da ACERJ, Eraldo Leite, que também é campista e botafoguense. Aliás, está de parabéns Eraldo por esta iniciativa de instituir o prêmio de jornalismo esportivo, que já deu certo, batendo recorde de inscrições este ano. Agradeço-o por valorizar o interior com uma categoria. Quero concorrer outros anos. Todos os anos temos campistas concorrendo e ganhando. E espero que outros jornalistas também se interessem em concorrer  - disse Wesley Machado.

segunda-feira, abril 29, 2013

Jornalistas: Maioria feminina, jovem e com renda menor que 5 salários mínimos

Da Assessoria 
 
O Núcleo de Estudos sobre Transformações no Mundo do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (TMT/UFSC) lança, no dia 6 de maio, o relatório “Perfil do jornalista brasileiro – Características demográficas, políticas e do trabalho jornalístico em 2012”. 
 
A publicação, da editora Insular, apresentará os resultados quantitativos da enquete com 2.731 profissionais, realizada entre setembro e novembro do ano passado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O projeto teve o apoio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).
 
O estudo indica que a categoria tornou-se majoritariamente feminina (64%) e jovem (59% têm até 30 anos). Entre outros dados, o levantamento constata que 98% da categoria tem formação superior e 40% já com pós-graduação. Dos jornalistas, 59,9% recebem até cinco salários mínimos, aproximadamente 50% trabalham mais de oito horas por dia e 27% trabalham em mais de um emprego. 
 
A pesquisa aferiu a distribuição dos profissionais por tipo de atividade: os que atuam principalmente na mídia são 55%, os que atuam em assessoria de imprensa ou outras atividades jornalísticas fora da mídia são 40%, e os que atuam como professores são 5%. 
 
O lançamento do relatório ocorrerá no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, às 19h. A publicação também será divulgada durante o II Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo (Mejor 2013), de 7 a 10 maio de 2013, em Natal (RN). Dois artigos resultantes da pesquisa serão divulgados nesse evento.
 

segunda-feira, abril 22, 2013

[croniquinha de segunda]

Nós lotamos o seu evento

Vitor Menezes


Nada de grandes utopias, grandes causas, grandes revoluções. O projeto agora é encontrar a grande sacada. Aquela ideia de negócio para a internet que transformará o adolescente obscuro no mais novo milionário cortejado.


Não sou mais adolescente e nunca fui candidato a gênio da internet. Mas tive aqui com minhas teclas uma promissora eureca empresarial: o aluguel de público para eventos, manifestações e até reuniões particulares.


É a indústria da figuração aplicada à vida real.


A festa que você organizou está um fracasso? Chame a nossa empresa e levamos quantos convidados desejar. Quer protestar contra algo? Colocamos manifestantes em marcha para você. Quer quinhentas pessoas no auditório para ouvir a palestra motivacional? Lotamos as cadeiras e ainda colocamos alguns atentos ouvintes de pé, escorando-se pelos cantos.


Também simulamos coberturas para coletivas de imprensa, multidões para comícios, familiares para aniversários, estudantes para salas de aula.


Reunimos ainda audiências para conferências online, amigos para facebook, carolas de igreja, torcida de futebol, enlutados para velório.

Chega de se preocupar com o público. Nós cuidamos disso para você.

Nossos figurantes estão preparados para registrar tudo com celulares e máquinas fotográficas. Seu evento vai bombar nas redes sociais.

E não se preocupe com o custo. É menor do que aquele existente para atrair espectadores de verdade.

Bando de espíritos de porco!


quinta-feira, abril 18, 2013

Nota da AIC sobre demissão do jornalista Luiz Gonzaga Neto


AIC repudia demissão de jornalista da Inter TV


A Associação de Imprensa Campista repudia com veemência a demissão do jornalista Luiz Gonzaga Neto, que até a última terça-feira (16/04/13) respondia pela edição e apresentação da edição noturna jornal local da Inter TV e trabalhava há quatro anos na empresa.

Há consistentes evidências de que a demissão foi motivada pela veiculação de matéria que mostrou o fato de a Prefeitura de Campos dos Goytacazes adquirir de uma empresa privada, por meio de licitação, materiais didáticos que são oferecidos pelo Ministério da Educação (MEC).

Antes mesmo de a matéria ter ido para o ar, na noite da segunda-feira (15/04/13), houve reunião entre representantes da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Campos e a direção da Inter TV, onde a pauta foi discutida, sem a presença do jornalista.

No dia seguinte à exibição, na terça-feira (16/04/13), outra reunião entre a direção da TV e a Secom de Campos foi realizada, também sem a presença do jornalista. Na edição da noite da própria terça-feira, uma longa nota de resposta feita pela Secom foi lida pelo apresentador, que, em seguida, fez o comentário editorial de que, em resumo, o material escolar era fornecido pelo MEC, mas a Prefeitura de Campos havia escolhido fornecer outro de melhor qualidade aos alunos da rede pública.

Na quarta-feira (17/04/13), o jornalista foi demitido, sem nenhuma justificativa formal por parte da empresa.

A Associação de Imprensa Campista vai enviar ofícios para a direção da Inter TV e para a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Campos dos Goytacazes para cobrar explicações sobre a demissão.

Na tarde de hoje, os VTs com a matéria e a nota de resposta da Prefeitura de Campos não estavam mais disponíveis no Portal G1.

A AIC entende que veículos de comunicação que prezam pela prática de um jornalismo de qualidade não podem se dobrar diante de pressões de fontes que são alvos de denúncias, muito especialmente quando estas fontes são do poder público. O papel de cobrar, e até mesmo a liberdade de opinar, são garantias constitucionais inegociáveis.

A entidade manifesta ainda toda a sua solidariedade ao jornalista Luiz de Gonzaga Neto e se coloca à disposição da categoria e da sociedade para prosseguir no debate e no acompanhamento deste caso.

Campos dos Goytacazes, 18 de Abril de 2013

Diretoria da AIC

segunda-feira, abril 01, 2013

Procurador do Estado do Rio afasta tese separatista


Em entrevista ao Boletim Petróleo, Royalties & Região, o procurador do Estado do Rio, Luis Roberto Barroso — um dos signatários da Ação Direta de Inconstitucionalidade que permitiu a manutenção, ainda que provisória, das regras de distribuição dos royalties do petróleo — avalia que a deflagração de uma guerra fiscal seria "a pior coisa que poderia acontecer" para o País.

Ele também afasta qualquer possibilidade de que o Estado venha a avalizar algum movimento separatista em razão de uma eventual perda dos royalties. Ele explica que sequer haveria um caminho jurídico para tornar isso possível.

"A Constituição prevê que a União é indissolúvel e que a Federação é uma cláusula pétrea. Logo, não há caminho jurídico para essa possibilidade. Mas se de fato o Rio virasse um país, seria um dos mais lindos do mundo. Mas ficaria empobrecido, por não ser parte do Brasil", disse Barroso.


Clique aqui para baixar o Boletim.

domingo, março 31, 2013

[croniquinha de segunda]


A testemunha

Vitor Menezes

Adalberto era o responsável pela caldeira. Era dele a tarefa infinita de manter o inferno aceso com os celsius suficientes para a produção não parar na usina de Torres Altas. Jamais uma falta. Jamais um contratempo. Jamais uma contrariedade. Jamais um questionamento. E naquela noite quase igual, quando toda a turba dormia, Adalberto descobriu para o que de fato servia.

Foi quando um carro preto entrou pelo portão dos fundos, por onde à luz do dia entrava a diretoria, e nele estavam homens que Adalberto não conhecia. Um alto magro de bigode. Outro de chapéu escuro e óculos de grossa armação. Passaram sem ser parados pelos seguranças da portaria e seguiram para o galpão.

Adalberto de longe olhava, estranhando a movimentação. Como pode que ele, o chefe, que a tudo controlava, não soubesse da situação?

Na área ampla pararam o automóvel. Juntos desceram por ambos os lados e se dirigiram ao porta-malas. O bigodudo trazia as chaves, e moveu com vigor o tambor da fechadura. O segundo ajudou a erguer a tampa. Os dois lançaram-se com profissionalismo sobre o cadáver que dali se alçaria. E o corpo inimigo foi atirado ao fogaréu.

Adalberto teve até a intenção de interferir no que assistia. Mas pensou que talvez fosse coisa que a ele não pertencia. Gente graúda, de poder, endinheirada. Muito além do seu entendimento. Decidiu que não vira nem ouvira nada. E que nem ali estava naquele momento.

sábado, março 30, 2013

A despedida do Viomundo, por Luiz Carlos Azenha

Azenha, despedida do Viomundo
Reproduzo abaixo a despedida do Luiz Carlos Azenha, publicado originalmente aqui, onde o jornalista  explica as razões para interromper o trabalho no site Viomundo. Mais que um desabafo, o texto acaba por se tornar revelador sobre as relações de poder nos grandes veículos de comunicação e as pressões enfrentadas pelos profissionais.

Considerado um mito por muitos, é a "imparcialidade", ou a impossibilidade de exercê-la durante a cobertura de uma eleição presidencial, que motivou a saga iniciada por Azenha em 2006. Quando somente se afirma que ela é inatingível, abre-se a guarda para que se admita também toda sorte de artifícios de parcialidade, como os denunciados pelo jornalista. Mas quando, ao contrário, a tomamos como um método, uma especificidade e uma prerrogativa do trabalho jornalístico, renovamos o sentido e as mais nobres tradições desta profissão.

O que tem sido enfrentado pelo Azenha é algo bastante identificado pela literatura da área. Nas teorias do jornalismo poderia ser situado na chamada "Teoria organizacional", nascida por meio de pesquisa de Warren Breed na década de 1950, nos Estados Unidos, com 120 jornalistas, para responder à clássica pergunta "porque as notícias são como são?".

De modo muito resumido, Breed chegou à conclusão de que a "cultura organizacional" (as leis e costumes internos das empresas) têm maior peso sobre a produção das notícias do que a "cultura profissional" (aquilo que tradicionalmente os jornalistas consideram boas práticas da profissão).

Os jornalistas acabavam por se conformar com limites internos para a sua atividade, e até mesmo as razões para este conformismo foram identificadas na pesquisa, como mostrou Nelson Traquina. E entre elas estão as punições institucionais, os sentimentos de estima em relação a superiores, as aspirações de mobilidade na carreira, a ausência de outros grupos de lealdade tão poderosos quanto a própria empresa, o prazer da atividade e o entendimento de que a notícia é um valor maior do que qualquer demanda ou insatisfação pessoal (uma das razões para raramente jornalistas entrarem em greve).


Azenha não se conformou, e enfrentou boa parte destas barreiras internas até o ponto de não mais suportá-las. Pediu demissão da TV Globo, algo inimaginável pela grande maioria dos calouros das faculdades de jornalismo. Movido pelo seu senso de "cultura profissional", devendo lealdade a algo maior do que a uma empresa (a sua própria consciência), ele não apenas deixou  a emissora, mas a denunciou, e vem arcando com as "punições institucionais" mesmo após ter saído do emprego cobiçado por tantos.

Confira o seu relato:

"Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa

publicado em 29 de março de 2013 às 20:32

por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira."

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