segunda-feira, agosto 19, 2013

[croniquinha de segunda]

Resposta comercial
Vitor Menezes

Querida TAM,

Não sei se vocês estão preparados para a notícia que vou dar. Ainda assim, embora seja dolorosa, vou ser direto. O fato é que meu pai morreu. E isso aconteceu em 1989. De modo que não poderei comprar para a ele a passagem aérea que você me oferece por e-mail nesta promoção do Dia dos Pais. Me desculpe por frustrar a sua expectativa.

Agradeço pela oferta e, sobretudo, pela oportunidade de me dar conta de que meu pai nunca foi seu cliente. Nem de nenhuma companhia aérea, pois simplesmente nunca andou de avião, ao menos que eu tenha tido notícia.

Ele percorreu muitos cantos do Brasil, mas era de um tempo em que os mais pobres só podiam fazer isso de ônibus ou de carro. Ele fazia de carro e de moto. Adorava dirigir. Creio até mesmo que, se ainda fosse vivo, e com condições financeiras para aproveitar as suas promoções, ele iria preferir rodovias a aerovias.

Era um típico ser da era do automóvel, amadurecido para o mundo durante os anos de encantamento brasileiro com este tipo de veículo, nos anos 50 e 60. Foi proprietário de Jeep Willys e de moto Harley-Davidson, e experimentou com estas máquinas prazeres que não estão acessíveis aos espremidos passageiros das aeronaves comerciais.

Gostava de viver ao ar livre, de pescar e de caçar, quando não havia restrições politicamente corretas a nenhuma destas preferências. E viajava bastante pelo interior do País, onde até hoje não existe muita oferta de voos.

Talvez nenhum dos seus marqueteiros tenha ideia do que seja percorrer mais de setecentos quilômetros, no conforto restrito de uma Variant, somente para pescar na curva específica, de um rio específico de uma cidade específica no Sul da Bahia. E voltar com quantidade de peixes não muito diferente da que encontraria em qualquer rio da sua região.

Obviamente você deve ter pensado na “relação custo-benefício”, esta mesma que você pensa quando me oferece uma oferta. Mas ele não se importava com isso. Seu benefício foi ter vivido de bem com as suas escolhas, e isso a todo custo.

Atenciosamente,

Vitor

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