quinta-feira, dezembro 30, 2004

Aí, viu?
O site da turma do Arte Independente já está no ar. Une artistas plásticos, músicos, poetas e escritores do Rio de Janeiro, Niterói e mais uma cabeçada de Campos dos Goytacazes. O objetivo do evento é o seguinte: distribuir arte; aquele que gostar de um quadro, por exemplo, assinará um termo de compromisso de não-comercialização da obra e a passará adiante quando bem entender. Performances, shows de bandas e mais uma porrada de coisas acontecerão nos próximos dias 21, 22 e 23 na rua Joaquim Silva, na Lapa, Rio de Janeiro. Só vamos torcer agora para todos saírem ilesos do ambiente.

Solidariedade
E Campos, não vai ajudar as vítimas do Tsunami não? A primeira ajuda anunciada pelos Estados Unidos teve valor equivalente a R$ 45 milhões, menor que os R$ 46 milhões empregados para reconstruir a Praça São Salvador, a chegada da cidade em Guarús e a Orla do Farol de São Thomé.

Denúncia
Não satisfeita em inserir merchandising em suas telenovelas, a Rede Globo de Televisão agora incute também mensagens jornalísticas subliminares em seus produtos ficcionais, visando audiência ainda maior em seus noticiários. Primeiro ataca com “Como uma onda”; depois “Começar de novo” e, por fim, “Senhora do destino”.

O locutor da madrugada
Comandante JR publicou conto meu lá no Patife. Olha só aqui (e antes que a as meninas Quésia F. e Simone Pedro me processem, vou logo avisando: eu NÃO sou sociólogo! Eu NÃO sou sociólogo!).

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Já viu?
Olha que bacana o formado dessa revista literária feita pelo pessoal do Capitu.

Tá dominado
Finalmente criou-se um domínio para o site do Aglomerado Terra Plana. Vai lá no www.terraplana.org para conferir.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Eita! Eita! Eita!
Contrariando todos os prognósticos, o urgente! chega a dois anos de existência. A marca era considerada tão improvável que nem chegou a ser lembrada aqui no último dia 22, data do primeiro post (já pedindo férias), em dezembro de 2002. Abração para todos os bravos leitores e colegas urgentistas.

[momento am]
Abração para o coleguinha Antônio Fernando, que desanca a elite campista em artigo hoje no Monitor.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Na Geléia
Olha aqui um desabafo sobre os problemas enfrentados para que o Fest Campos de Poesia Falada saísse em 2004.

Imagens de Interrogações
Enquanto o Olho Cru não sai da enfermaria do Ferreira Machado, olha aqui algumas fotos do nosso bravo César Ferreira.

Idéia polêmica
Em entrevista à coleguinha Flávia Ribeiro, no Monitor do último domingo, a futura secretária de educação de Campos, Elizabeth Campista, defendeu uma idéia que pareceu estranha: fechar algumas pequenas escolas e transportar os alunos, de ônibus, para outras escolas maiores. Seu argumento é o de que a integração destas crianças com outras de outros bairros ou distritos contribui para o seu desenvolvimento e ampliação de visão de mundo. Pode ser. É um bom argumento. No entanto, fica batendo aqui na minha cabeça o preconceito contra o local que pode estar embutido nisso, além do esvaziamento simbólico de determinadas comunidades. Se as suas crianças têm de deixar o local para estudar, este é o primeiro passo para rejeitar este local e, conseqüentemente, os seus laços familiares. Certamente estaremos formando adultos que não vão querer ficar no local onde nasceram — o que não é necessariamente ruim, mas não é inofensivo.

Perda
Uma escola não é apenas um lugar onde se ensinam algumas coisas a algumas crianças. É uma instituição que é uma das peças de coesão social numa determinada comunidade. Seu trabalho traz conseqüências para pais, funcionários, demais familliares, vizinhos. Seu fechamento, portanto, produz perda na formação da solidariedade (para usar um termo durkheimiano).




Propostas para a literatura
Comecei a conversar aqui sobre o que de bacana o novo governo de Campos poderia fazer pela literatura. De cara, acho que seria interessante a criação de um selo editorial local, com avaliação impessoal dos originais, metas para o ano, recursos específicos, em parceria com alguma editora de porte médio ou grande. O que você acha?

quinta-feira, dezembro 23, 2004

[momento am]
Abração e Feliz Vinho Dom Bosco para o bravo e querido Zé Henrique, que anda dando as caras aqui.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Fim de ano no urgente!
E o pulso, ainda pulsa.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Alguém ainda lembra do velho livreiro?
Demorou, mas apareceu conto novo lá no sebo do Durvalino. Aqui.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Não ofende
Ei, você já viu no Patife o especial sobre o Encontros de Interrogação?

domingo, dezembro 19, 2004

Urgente! serviço
Olha aí o resultado do VI FestCampos de Poesia Falada, realizado ontem à noite no Palácio da Cultura:

Poesia:

Primeiro Lugar – Ele Bebe Toró
Autor: Luciano Carvalho, de São Paulo-SP

Segundo Lugar – Panis Et Circense
Autor: Antônio Roberto Góis Cavalcanti, de Campos-RJ

Terceiro Lugar – Elo Perdido
Autora: Adriana Medeiros, de Campos-RJ

Quarto Lugar – Entre Deus e Pernas
Autora: Adriana Medeiros, de Campos-RJ

Quinto Lugar – Ave-Marias
Autor: Paulo Barbosa Alves, de São Paulo-SP

Intérpretes:

Primeiro Lugar – Adriana Medeiros, de Campos-RJ
Segundo Lugar – Luciano Carvalho, de São Paulo-SP
Terceiro Lugar – Filipe Manhães, de Campos-RJ

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Detalhes da Lapa I
Numa determinada rua há uma daquelas placas de sinal de trânsito avisando que é proibido seguir adiante – representada por uma seta apontada para o céu e sendo cortada por uma faixa vermelha. Até que um sacana, sagaz, foi no espaço em branco da placa e escreveu: “Deus não existe”.

Detalhes da Lapa II
Num botequim, próximo ao quartel general arrudiano, há uma daquelas propagandas do governo federal contra o cigarro que diz assim: “Este produto contém mais de 4 mil substâncias tóxicas”. Só que logo ao lado, colado, tem uma outra propaganda dos cigarros Shelton que complementa: “Você merece sempre mais”.

Universo paralelo
Hoje é o segundo dia da Micareta Literária no RJ, para marcar o lançamento da revista-livro Paralelos - 17 contos da nova literatura. As atividades de hoje são conversa de botequim, polêmicas e leituras com os escritores paralelos. Como tem um conto meu publicado na bagaça e eu não estou no RJ, os caros amigos Cassiano Viana e Löis Lancaster irão me representar, tanto hoje como amanhã – para isso, até rasparam a cabeça e deixaram crescer bigode e cavanhaque. E amanhã vai rolar uma festa na rua Dias Ferreira, 45 B, Leblon, onde se localiza a Livraria Dantes, contando com uma renca de DJ’s.

Mais uma
Acaba de sair do forno a nova edição da Revista Zunái.

Casa nova
João Filho execrou o Blogger.com. O malacomano agora faz parte da famiglia Cabeza Marginal. Tô falando: é tudo patife mesmo.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Os donos da rua
O objetivo é realizar um evento de artes no Rio de Janeiro, mais precisamente na rua Joaquim Silva, na Lapa, reduto boêmio e de confluência de tribos, inclusive internacionais. Nada de burocracias ou fins comerciais; simplesmente utilizar o espaço público para veiculação gratuita de todo tipo de arte. Porém, somos logo informados que a rua tem dono, e então, ora pois, tivemos que pedir o aval dos donos, que não só apoiaram a idéia como garantiram a segurança do evento – policiais militares, como não? Se fizéssemos folders, teríamos que colocar lá “Apoio: Tráfico de Drogas do Rio de Janeiro”. Além, claro, de praticamente todos os estabelecimentos do local, coniventes e/ou reféns dos bandidos.

Os donos dos Arcos
A próxima etapa era pedir uma tomada emprestada. O espaço dos Arcos também tem dono, dessa vez não o tráfico de drogas, mas o pessoal da comunidade, sambistas, boêmios e mendigos, que cuidam do ponto (disputadíssimo entre os artistas de rua) para que sejam realizadas, noite-após-noite, as rodas de samba do bloco das Carmelitas e demais agregados. Sem problemas; “temos diversas tomadas 0800 mermão. A gente marca direitinho, é só se achegar”.

Dependência ou morte?
Um dos integrantes do projeto recuou. “Não quero ser conivente com a situação que aí está. Quero me manter neutro. Se tivesse que negociar com os policiais seria a mesma coisa. Além do mais, essa rua está muito violenta. Procurem outra”. O problema então foi: qual?, qual rua seria totalmente livre do assédio e interferência do Tráfico e da conivência do poder público? Qual arte é capaz de ser totalmente independente, seja do assédio publicitário ou dos narcotraficantes? Pior: se for para se render a tudo que consente com a bandidagem (seja ela qual for), o que sobreviverá? No fim das contas, o cara acabou reconsiderando a decisão.

Regurgigoogle
Para mascar Google, clique aqui. (Parece coisa do pessoal do Cocadaboa, mas, se for, é até legal. Trata-se de uma tentativa de simplificação das inúmeras funções ocultas do Google.)

Bum!
Aristides Soffiati arrebenta em seu último artigo, onde analisa a crise ambiental da atualidade, classificando-a como a primeira que ao mesmo tempo é planetária e antrópica. E manda também um conceito sobre ser ecocidadão. É mais ou menos uma sugestão para o que pode vir a ser os “Oito Mandamentos” quando o mundo chegar ao fim. Diz ele:

Ser ecocidadão implica em:
1- Trabalhar para que todos os humanos tenham direitos civis, políticos e sociais.
2- Respeitar a individualidade, a diferença e a subjetividade do outro, seja ele quem for.
3- Batalhar para a construção da democracia, respeitando as diferenças culturais.
4- Respeitar a diversidade cultural dos povos, assegurando, juntamente com eles, o direito de manter e perpetuar sua cultura.
5- Propugnar por um contrato natural em que os ecossistemas e os seres vivos tenham direito à vida e à perpetuação de suas respectivas espécies, buscando o ser humano inserir-se no contexto ecossistêmico.
6- Restaurar e revitalizar os ecossistemas para recuperar o equilíbrio perdido.
7- Empenhar-se na busca de uma nova aliança que assegure a todos os seres vivos e aos ecossistemas integridade, dignidade e direitos intrínsecos.
8- Cultivar a espiritualidade, mesmo que ela não perpasse as confissões religiosas existentes.

domingo, dezembro 12, 2004

Na rede
Clique aqui para ver o especial sobre o bar do Assis, com contos do Aglomerado Terra Plana, que a dona Simone Pedro (palmas para ela, gente!) acabou de colocar no ar.

Nas bancas
Corre até à banca pra comprar O Dia de hoje. Tem matéria do nosso bravo colega Álvaro Marcos sobre o Aglomerado Terra Plana. Está com preguiça? Então clique aqui.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Mais um secretário
O prefeito eleito Carlos Alberto Campista já escolheu o novo secretário de Obras. Arquiteto, ele ocupa hoje cargo importante na prefeitura, mas seu nome ainda não foi anunciado por se tratar justamente de uma pasta delicada na engrenagem pública. No encontro entre os dois, na casa de Campista há seis dias, o novo prefeito deu a seguinte ordem: "Austeridade, meu caro, austeridade".

quarta-feira, dezembro 08, 2004

No ar...
Está no ar o site com o Trabalho de Conclusão de Curso de Felipe Sáles, Klênio da Costa e Renata Lourenço, que no último dia 26 recebeu honroso 10 de Vitor Menezes, digo, da banca examinadora na Faculdade de Filosofia de Campos. Como quase ninguém é louco de ler essa porra toda, gostaria que detivessem especial atenção ao Jornal, digo, à Revista, ou melhor, ao Suplemento Especial que nomeamos de Entrelinhas. O sociólogo, jornalista, diagramador e escoteiro mirim, Klênio Dá Costa, realmente caprichou no trabalho, fruto de um levantamento inédito na região (!) sobre o submundo do sexo em Campos, contado, claro, narrativamente. Os leitores do Urgente! já sabiam que na Prefeitura de Campos rola muita sacanagem, mas só os leitores do Entrelinhas sabem até que ponto vai a sacanagem naquele antro. Há-há. A visita vale também uma olhada nos nossos agradecimentos, que daquela forma foram parar nas mãos da banca examinadora, numa tentativa canalha – porém frutífera, como se viu – de despertar empatia em um dos jurados. A exceção dos agradecimentos, devidamente corrigida na versão on line, ficou por conta da digníssima homenagem ao bar e boate Play Man. Enfim. Visitem porra! Deu um trabalho fudido. Ah, sim. Aqui.

Ah, o Império...
Curiosos menos preguiçosos que quiserem se inteirar do assunto Jornalismo Narrativo poderão ter acesso, no site comentado acima na seção “Textos”, aos dois artigos elaborados por mim e por Klenio que serão apresentados no X Simpósio de Pesquisa em Comunicação da Região Sudeste, hoje, na Uerj. Por lá estará também nosso orientador, professor e amigo Gerson Dudus, com o trabalho “Miríade e multidão: Serres, Negri e a Poética da Comunicação”, proveniente de seu mestrado na UFRJ mês passado com uma mais que honrosa nota 10.

terça-feira, dezembro 07, 2004

[momento am]
Abração para o caro João Cândido Ventura (João Sucubu para os não íntimos), mais um da terra plana que se aventura em cometer literatura em blog. Olha aqui.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

De bandeja
Matéria que ocupou três páginas do Globo neste domingo, sobre a farra dos royalties em Campos e região, foi amplamente subsidiada por informações da Ong Cidade 21 e pelo pesquisador especialista no tema, Rodrigo Serra, da UCAM. Nenhuma das duas fontes, no entanto, foi citada.

Enquete urgente!
Diz aí o que você achou da decoração de Natal feita pela Prefeitura de Campos:

a) Natal, que Natal?
b) Decoração, que decoração?
c) Prefeitura, que prefeitura?
d) Campos, que Campos?
e) Não respondo a enquetes, tenho mais o que fazer.

[momento am]
Abração para a coleguinha Flávia Ribeiro, do Monitor, que também é chegada a um ócio criativo. Olha só aqui.

sábado, dezembro 04, 2004

Copa da Maconha
Jornalismo Gonzo com o pé no freio. Tem gente que vai para Amsterdã avaliar níveis de THC, qualidade de seda, cachimbo, etc., fuma maconha de todas as partes do mundo e são pagos por isso. E ainda acham tudo muito bonito. Arthur Veríssimo já cobriu essa pauta para a Trip, só que, como gonzo jornalista, foi obrigado a provar todas as ervas, coitado. E o mais incrível: lembrou-se de tudo para nos contar depois. Agora, nessa matéria, uma repórter sóbria dá a sua visão das coisas que acontecem nesse campeonato. Aqui.

Syará
Dois indivíduos chegam numa dessas lanchonetes ambulantes num momento em que o sol surge com suas inconveniências. Levemente alterados e com o estômago rugindo, efeito de generosas colheres de Biotônico Fontoura ingeridas pela manhã. Um deles pede um X-Tudo. O outro, curioso em aproveitar ao máximo os ingredientes do cardápio, pergunta qual a diferença do X-Tudo para o Egg-X-Tudo. “O Egg não tem ovo”, responde o nordestino recém-chegado em terras cariocas. “Como o Egg não tem ovo?! Egg é ovo porra!, como um Egg-X-Tudo não vem com ovo?!”. “Desculpe, senhor, mas foi o que meu tio me disse...”. O tio chega, desculpando-se, explicando que o garoto tinha acabado de chegar do Ceará, ainda não sabia das coisas. Revoltado, o cliente responde: “Ah, porra... o cara não sabe inglês mermão, como é que quer trabalhar em lanchonete... Ta, esquece. Me vê um hot-dog. Cachorro-quente, OK?!”.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Desligue a TV e vai ler um livro
Bacana a campanha que a MTV tem feito há duas semanas. De repente, pára a programação e surge uma tela preta com a frase: “Desligue a televisão e vá ler um livro”, acompanhado de um som renitente que, se não atinge o objetivo principal, no mínimo faz o telespectador mudar de canal, já que a propaganda (?) mantém-se no ar por cerca de 15 minutos (!!!). Seria sonhar demais se num determinado dia do ano todas as emissoras fizessem isso por alguns segundos.

Para Oviedo e Rimet

Taí o texto que não consegui linkar:

Lula planeja oásis no NE para conter os migrantes
Raymond Collit (do Financial Times)
Em Salgueiro (PE)


Após oito horas de trabalho intenso sob o sol escaldante, Manuel Souza dos Santos, de 13 anos, estava desesperado por um copo d'água para umedecer os seus lábios rachados e tirar a poeira da boca. Nesta remota cidade do Sertão - a vasta e árida região de savana no nordeste do Brasil -, ele só tem como opções consumir a água salgada de um poço ou um líquido lamacento e esverdeado de um lago quase seco.

Há meio século, as mesmas condições difíceis de vida levaram Luiz Inácio Lula da Silva a abandonar esta região desértica em uma jornada épica de 13 dias até São Paulo, na carroceria de um caminhão.

Ele foi um dos milhões de indivíduos da área que fugiram de suas cidades: atualmente esses migrantes representam pelo menos um terço dos cerca de 18 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo.

Agora, como presidente do Brasil, ele planeja contribuir para acabar com um dos maiores movimentos migratórios do mundo, construindo centenas de quilômetros de canais para levar água à região a partir do rio São Francisco, que tem 2.800 quilômetros de extensão.

O projeto oficial - o maior do mandato de quatro anos de Lula - deverá ser licitado em janeiro. O presidente defende o astronômico custo de R$ 4,5 bilhões, argumentando que o preço pago por não se fazer a obra seria ainda maior.

De fato, em 1998 o governo gastou US$ 2 bilhões com as vítimas da seca. E, acima de tudo, o presidente diz que se trata de "um projeto humanitário".

A motivação do presidente é não só pessoal, mas também política. De olho na reeleição em 2006, ele pretende dar mais ênfase aos seus programas sociais, incluindo um, até agora fraco, projeto de erradicação da fome, que seria a bandeira da sua administração.

A idéia de utilizar a água do Rio São Francisco foi proposta pela primeira vez pelo imperador Dom Pedro 2º, em 1847. De acordo com a proposta atual, a água será bombeada para dois canais ao norte e a leste do rio, com extensões de 402 km e 220 km, respectivamente.

Cada um desses canais alimentará represas e cursos d'água já existentes, que, por sua vez, abastecerão cidades, vilas e propriedades rurais. No papel o projeto promete benefícios substanciais. Ele fornecerá água para pessoas que moram em cidades e vilas e irrigará 47 mil hectares de terra fértil, gerando até 200 mil empregos.

Atualmente, os açudes e canais de distribuição existentes operam bem aquém da capacidade devido a chuvas insuficientes e muito irregulares, à falta de rios perenes e a uma taxa de evaporação de 75%. As pessoas que vivem nos locais onde serão construídos novos canais e reservatórios receberão indenizações e serão transferidas para outros locais.

Elas poderão optar pela compensação monetária ou pelo recebimento de uma casa e de um pedaço de terra nas chamadas "vilas produtivas", que deverão ser irrigadas por canais. Embora muitos se preocupem com o aspecto das futuras casas, a maioria dos fazendeiros e moradores ao longo dos cursos d'água planejados vê a idéia, a princípio, com simpatia.

"Aqui, água é vida: sem ela não fazemos nada", explica Edmundo Rodrigues, pequeno agricultor que mora 50 km ao norte da cidade de salgueiro. Existem preocupações de ordem ambiental, embora algumas delas, tais como a possibilidade de que o Rio São Francisco seque, sejam exageradas.

O projeto utilizará apenas 1,5% do volume d'água total do rio. Outro problema é o impacto potencial da migração dos peixes sobre a biodiversidade da região. O projeto, na verdade, promete promover um longamente adiado trabalho de limpeza e dragagem do rio, que deixou de ser navegável em certas partes devido ao assoreamento causado pela construção de represas e pelo desmatamento ao longo de suas margens.

Mas há outros riscos. Um deles é que não existem garantias de que um sucessor de Lula venha a completar o projeto, condenando-o ao mesmo destino que tiveram vários elefantes brancos abandonados na região.

A construção de tubulações de distribuição que levariam água às pequenas cidades dependerá grandemente dos governos estaduais, que podem não contar com verbas ou desejo para realizar o projeto, especialmente naqueles Estados governados por partidos de oposição.

Bombear água através de um ambiente semidesértico é algo como transportar ouro nos dias do Velho Oeste e pode se constituir no maior dos desafios para as autoridades. A tubulação que leva água a Salgueiro possui tantas conexões ilegais que a água freqüentemente deixa de chegar à cidade. "A água sai das torneiras dia sim dia não", diz Maria José, que vende milho na praça principal.

Embora o governo insista que a autorização para o consumo de água em pequena escala seja uma mera formalidade, alguns moradores temem que empecilhos burocráticos e políticos possam favorecer os influentes.

"Isso pode se transformar em uma ferrovia de alta velocidade sem estações de parada do trem", alerta Gerlândia Vieira de Moraes, secretária do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade de São José de Piranhas, no Estado da Paraíba. "O que nos garante que teremos acesso à água?".

Essas e outras questões determinarão se Lula será capaz de afirmar que modificou a vida no Sertão. "Sonho com os nordestinos indo a São Paulo não para lutar pela sobrevivência, mas como turistas", diz Gerlândia.

Tradução: Danilo Fonseca

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