segunda-feira, julho 29, 2013

[croniquinha de segunda]

Quase conhecido

Álvaro Marcos

Não, não é tão simples assim te cumprimentar. É estender afeto a quem praticamente desconheço de rosto. O que é uma feição? Pode o dicionário explicar como traços simbólicos e identificáveis de alguém. Pelo menos é minha definição sobre. Não te ver, pessoalmente, resume-se a mero detalhe fotográfico. A afinidade singela de frases nunca trocadas até hoje ultrapassa a falta do frente a frente. E palavras poderiam ter apenas sido escritas, transmitidas da frieza dos teclados para as redes sociais. Sem o som que identifique timbres ou deixe rastros de emotividade escancarados ao contato visual.

E foi dessa distante maneira que tentei, em vão, parabenizá-lo. Digitei poucas sílabas antes da conexão à internet desabar. Essa operadora não tem jeito mesmo. Sobram reclamações inclusive no mesmo Facebook onde arrisquei expressar minha admiração logo no dia do seu aniversário. Não importa. Pode ter passado essa oportunidade de calendário; sobrarão chances vida afora. Ou não. Ou até em outras vidas, quem sabe. Quem sabe, até, essa proximidade, essa discretíssima afinidade, não venha de outros mundos, de contatos longínquos e muito, muito inexplicáveis...

Ouvi falar de ti ainda jovenzinho, recém-saído da adolescência. O tio da primeira namorada, quando vinha de outra cidade (interior de Minas), não cansava, durante os encontros familiares, de relatar e enaltecer a amizade contigo. Enumerava as aventuras em sua companhia enquanto dedilhava um bem conservado violão. Fanhoso, às vezes se tornava incompreensível. Tinha vergonha do problema na dicção. Isso o irritava e constrangia. Compensava com o talento musical e a sensibilidade de uma artista adormecido conhecedor da enorme capacidade perceptiva.

Soube também, por notícias via imprensa, de sua entrega ao teatro quando novo. Fez parte de um grupo histórico na cidade, integrado por gente que ganhou notoriedade governamental. Um grupo que te pinçou a vida pública. Não à política. Esta, creio, presente em ti desde quando se entendeu por gente. Acompanhei notícias sobre seu desempenho como parlamentar estadual. As informações sempre destacaram uma honestidade raríssima no meio. Curioso, percebi que ao deixar o mandato não ostentou riqueza. Simples deduzir: não a acumulou, como a maioria, em apenas quatro anos.

Seu nome permeia minha fase adulta. No Rio de Janeiro dividi apartamento com um amigo que se relacionou com sua sobrinha. Ela, também talentosa - e parece coisa de família -, engrossou o coro a enaltecê-lo. É admiradora, fã. Filha do irmão médico, que preferia identificar-se profissionalmente como poeta. E era dos bons. Assim como você, de fino trato com o verbo. Li poemas seus soltos por aí. Certo dia encontrei no supermercado um conhecido, artista plástico. Coincidência ou não, seu amigo e admirador! Mais um para a enorme e incalculável coleção. Destilou maravilhas a seu respeito.

Vi, sim, você. Duas vezes, que me lembre. A primeira na fila do banco, quando estava acompanhado de uma mulher. Talvez a esposa, não posso precisar. Na outra ao volante de um carro estacionado bem em frente a um hospital. Tive vontade de perguntar se precisava de algo. Cansado, vindo do trabalho em outro município cem quilômetros distante, recuei. Resta ler sua página virtual, sempre traduzindo a perspicácia peculiar. Te acompanhar e te curtir, sim. Ainda, por timidez, não te compartilhei. Percebo que elogia duas crianças, imagino seus netos. Então, felicidades! Um abraço.

sexta-feira, julho 26, 2013

'Um grito de liberdade' no Cine Jornalismo deste sábado (27)

Com o filme "Um grito de liberdade", a Associação de Imprensa Campista (AIC) apresenta neste sábado (27), às 16h, o projeto "Cine Jornalismo" cuja entrada é franca. Após a exibição, o público vai poder bater um papo com o jornalista Ricardo André Vasconcelos, do blog "Eu penso que..."

O filme conta a história de uma amizade memorável entre dois homens inesquecíveis. A tensão e o terror da atualidade da África do Sul é poderosamente retratada neste emocionante filme realizado por Richard Attenborough, que nos conta a história de um ativista negro Stephen Biko (Denzel Washington) e de um editor liberal de um jornal branco que arrisca a sua própria vida para divulgar ao Mundo a mensagem de Biko.

Depois de ter conhecimento dos verdadeiros horrores do Apartheid, através das descrições de Biko, o editor Donald Woods (Kevin Kline) descobre que o seu amigo foi silenciado pela polícia. Determinado a fazer ouvir a mensagem de Biko, Woods embarca numa perigosa aventura para escapar da África do Sul e divulgar ao mundo a impressionante história de coragem de Biko.

segunda-feira, julho 15, 2013

Vídeo de TCC de Jornalismo perguntava em 2008: a juventude vai para a rua hoje?

É muito bacana rever este vídeo de 2008 após tudo o que aconteceu no Brasil em junho:

1968 - 40 anos depois from Leonardo Torres on Vimeo.

domingo, julho 14, 2013

quarta-feira, julho 03, 2013

Hoje tem mais...


segunda-feira, julho 01, 2013

[croniquinha de segunda]

A solução

Álvaro Marcos

O carro para no sinal. Vem uma lourinha de mais ou menos um metro e sessenta e cinco. Aquele tipo que passa despercebida em uma festa mas que, invariavelmente, acaba virando o pescoço masculino para trás nas calçadas. Era uma, entre centenas, de distribuidoras de folhetos da cidade. A calça jeans justíssima, curvilínea, abaixo da linha da cintura, chamava mais atenção que o tal papelzinho anunciando uma loja de informática com todo tipo de computadores e acessórios.

Vidro do motorista abaixado, mão esticada, e um rápido olhar no panfleto, que logo vai parar sobre o painel. Ajeita o retrovisor, vê o filho de seis meses dormindo no bebê conforto preso pelo cinco de segurança no banco de trás, pisa a embreagem, passa a primeira e acelera. Segue com a mania de dirigir apenas com a mão esquerda, enquanto a direita fica sobre o câmbio. O calor é intenso. Nem o ar-condicionado dá jeito. Põe no dois, no três... Aperta o botão da circulação.

Deixa o neném com a mãe dele porque tem que treinar. Para variar, está atrasado. Chega ao estádio esbaforido mentalmente. Aos 32 anos, 13 de futebol profissional, sabe que o rendimento não é o mesmo. Bom foi quando, aos 19, arrancava pela esquerda, dava um corte seco no beque na diagonal da grande área e já batia firme na bola, sem chance para o goleiro. Fazia isso até nos recreativos de sábado pela manhã sem se importar quem tinha pela frente.

Agora tem que jogar com a cabeça. Recuou do ataque para ser o quarto-homem-de-meio-de-campo. Ainda lida bem com os dois pés. Cabelo ralo, feição madura, é chamado de "tio" pela molecada que saiu recentemente dos juniores. O preparador-físico, um sujeito mais novo que ele, já está lá no círculo central. Apito na mão, ordena "piques-curtos" entre as balizas fincadas no gramado. Um exercício chato, mas que tem como finalidade aprimorar o "jogo-de-cintura" dos atletas.

Pensa no filhote, na separação, nas brigas com a ex-mulher... Lamenta ter perdido a grande chance da carreira, quando foi vendido para o time da capital ainda novo. Lá até que foi bem. Depois perdeu espaço por causa das noitadas e, especialmente de alguns "rabos-de-saia". Bonitão, fazia sucesso fora das quatro-linhas também. Devorava tudo que lhe era apresentado. Foi parar no Nordeste. Rodopiou ainda pelo interior do Rio Grande do Sul indicado por um técnico fã de seu estilo agressivo.

Cotovelos na cobertura do banco de reservas, observa a movimentação. Não aguenta mais ter que dar explicações sobre sua vida pessoal para justificar as ausências no horário marcado. Simular contusão é feio e contra seus princípios. Faz o sinal da cruz. E cara de poucos amigos. Ouve um "vem correr com a gente". Dez voltas no circuito improvisado. Alguém comenta sobre o sol. Diz dois "e aí" e um "foi mal" a manhã inteira. Embaixo do chuveiro, refresca a alma.

Almoça no restaurante de um dirigente do clube, acompanhado do herdeiro resgatado poucos instantes atrás dos braços da avó. Mais uns carinhos no baby e é hora de levá-lo embora. Troca meia dúzia de palavras com a ex. Sorri quando o porteiro do prédio onde morou diz que apostou em um gol dele no fim de semana. Perde dez minutos de prosa com o camarada, um negro alto, que até daria um bom zagueiro pelo porte atlético. Sozinho, parte novamente. Sem muito destino, dessa vez. De tarde, sempre gostou de tomar uma cerveja. Mas a taxa elevada de ácido úrico não deixa.

Passa no mesmo cruzamento do início da manhã. E lá está a garotinha sapeca, ainda com algumas folhas. Dá uma espiada mais insinuante e se surpreende quando ela o fita. Massageou seu ego de macho. Imagina as peripécias da qual não é capaz. Estaciona em frente ao rio que corta a cidade ao meio. Não sabe como agir agora. Uma coisa é certa; mesmo com o baixo salário e todas as dificuldades que virão, não concorda com o aborto que a namorada, grávida de quatro semanas e meia, quer fazer.

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