domingo, novembro 23, 2008

Um erro monumental

Tratar um monumento como mero adorno de praça, feito um quadro remanejado para combinar com o sofá. Não perceber que memória coletiva é algo delicado e qualquer intervenção na sua construção deve ser amplamente discutida e cautelosamente pensada. Agir como se administrasse um negócio privado, ou dispusesse de uma coleção particular, e pudesse mexer em suas peças sem dar satisfação a ninguém.

Este foi o comportamento do governo do prefeito Alexandre Mocaiber, nesta semana, no triste episódio da remoção do conjunto de estátuas em homenagem à Abolição, instalado em 2003, por sugestão do poeta Antônio Roberto Fernandes, em frente ao Palácio da Cultura – e próximo ao Panteão dos Heróis Campistas, onde estão os restos mortais de José do Patrocínio, um dos representados na escultura.

Quando nem mais se imaginava que este governo pudesse se superar em trapalhadas, após ter alçado a cidade à condição de merecedora do escárnio nacional, e que apenas um melancólico fim de mandato se daria, eis que o campista é presenteado com mais esta.

Este governo não tem mais legitimidade nem para tomar boas decisões, quanto mais para as ruins. Tudo que dele sai traz a marca da desconfiança. E o mais prudente seria é se mantivesse apenas os sinais vitais da administração, abstendo-se de qualquer decisão que pudesse interferir mais acentuadamente na vida da cidade.

O melhor que pode fazer o atual prefeito é não tomar nenhuma medida importante. Fará menos mal aos munícipes se fingir-se de morto até 31 de dezembro.

A mal assumida decisão de remover o monumento, que não mereceu defesa inclusive de muitos setores do governo - a começar pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – foi rechaçada por vários segmentos da cultura do município, que não haviam sido consultados.

Na administração, não se consegue apontar claramente quem foi o responsável pela idéia. Há constrangimento até mesmo entre secretários municipais. Até o momento em que escrevo (às 6h da sexta, 21), o site da Prefeitura não havia dado uma linha sequer sobre a remoção que ocorrera na terça, 18, foi denunciada em primeira mão por este Monitor na quarta, 19, e ganhou maior repercussão na imprensa na quinta, 20.

O mínimo que a sociedade pode exigir, agora, é que se reponha o conjunto de estátuas no lugar e que se responsabilize administrativamente quem tomou a decisão de removê-las. Inclusive condenando-o a cobrir, com dinheiro próprio, os custos decorrentes desta lambança.

O prefeito Alexandre Mocaiber deve ter a grandeza de voltar atrás nesta insanidade e pedir desculpas à população.

Se não por respeito à cidade, se não por humildade para admitir o erro monumental, ao menos que seja em memória do poeta Antônio Roberto, que preferiu partir antes de ver a gestão do município ameaçar manter José do Patrocínio sob a mira de um canhão.

[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

10 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vc Vítor. O conjunto de estátuas deve ser reposto no mesmo lugar. Não entendo o pq destas obras de última hora e acho que sem qualquer planejamento. Uma das praças de Goitacazes está toda revirada e pelo que entendo sem necessidade de obras. O dinheiro a ser pago deveria ser canalizado para a Linha do Limão que fica alagada por qualquer chuva. Ao governo atual falta lisura e planejamento, itens que considero fundamentais para o progresso da nossa cidade.

Anônimo disse...

BRAVO!!!

Anônimo disse...

Vitor, ótimo texto, expressa muito bem o que como campista tenho sentido e o grau de insatisfação a que este governo chegou.
abç

Anônimo disse...

Os governos Mocaiber/Arnaldo (e os que com eles compactuaram) além de não terem respeito à sociedade campista não têm a mínima noção da importância do patrimônio histórico da cidade(vejam também o caso da praça São Salvador e da praça do Jardim Benedito). E muitos da sociedade o aplaudiram ou se silenciaram...

Anônimo disse...

" Agir como se administrasse um negócio privado, ou dispusesse de uma coleção particular, e pudesse mexer em suas peças sem dar satisfação a ninguém".
O brilhante colega jornalista Vitor Menezes não necessitaria escrever mais nada quando diz diante de elegância, ética e justiça tudo o que precisaria ser dito com relação à remoção das estátuas para um outro lugar.( Artigo publicado no Jornal Monitor Campista, edição de hoje:23/11/2008)
O povo se irritou e com razão. Dê uma passada em frente ao Palácio da Cultura Não há quem não se comova diante da cena grotesca.

Hilda Helena Raymundo Dias disse...

Excelente reportagem !!!!A inércia dos nossos representates fere até o patrimôno histórico de nossa cidade!!!

Anônimo disse...

Cara, nem me fale! Nessas horas só me lembro do grande filósofo meu avô: "só uma surra de gato morto até o gato miar 3 vezes".

Afe!!!

Rodrigo Rosselini disse...

Concordo! Não se mexe em estátua assim! Aliás, estátua não se mexe, não é verdade? Rsrsrs. Bom, gostei também da sua fúria em atacar o prefeito. É isso aí!!!
Só espero que o próximo governo não faça como o de São Fidélis, que colocou uma estátua do casal Garotinho na praça principal.
Por aqui, a ponte já se chama Rosinha, o carnaval desse ano terá como tema um campista ilustre, que não imagino quem seja. Se tivermos tal estátua por aqui, espero que possamos contar também com essa mesma mobilização dispensada ao Patrocínio.
Um abraço.

Anônimo disse...

Passei em frente a praça do canhão hoje e nem o canhão está lá.
Alguém sabe onde foi parar?
Temos que ficar de olho nisso também senão pode acontecer como ocorreu com o pelourinho que ficava no centro da cidade e o descaso, fez com que este fosse quebrado e atualmente se não estou enganada, seus restos mortais estão em Tócos...

Gustavo Rangel disse...

perfeito!

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