Nesta semana foram libertados os três acusados de prática de compra de votos no distrito de Vila Nova, em Campos. Supostamente trabalhavam em favor da prefeita Rosinha Garotinho e do vereador não reeleito Marcus Alexandre, como disse a Polícia Federal – ainda que admitisse não ter como provar que os dois sabiam do esquema. Houve festa na comunidade.
O caso provavelmente dará em coisa alguma. E não surpreende no que tem de específico, mas no que tem de generalizado. A compra de votos – assim como jogo de bicho, estacionamento sobre calçadas, sonegação de impostos, caixa dois, entre tantos – se tornou um daqueles ilícitos tão comuns que nem mais parecem ilícitos.
Durante a campanha eleitoral as ofertas eram fartas, em todos os cantos do município, partindo das mais diferentes, embora sempre abastadas, candidaturas. A eleição para a Câmara de Vereadores, especialmente, parecia uma daquelas velhas eleições de rei e rainha da festa junina da escola, aonde vencia o aluno que vendesse mais votos aos amigos e familiares – provavelmente a intenção pedagógica era acostumar as crianças com a política do mundo dos adultos.
Daí a razão da festa em Vila Nova e da sensação de injustiça na comunidade em relação aos três queridos cabos eleitorais. Parece perseguição quando “todo mundo faz” e só alguns pagam a conta. De criminosos, os diligentes rapazes se tornaram vítimas. Não vai demorar até que alguém tenha a idéia de processar o Estado pela prisão temporária de dez dias. E não me surpreenderia se ainda fossem indenizados.
Em um país em que parlamentares consideram normal distribuir passagens aéreas entre parentes e amigos, o presidente do Supremo Tribunal Federal é acusado por um colega ministro de manter “capangas” em Mato Grosso, e o presidente da República garantiu que nada sabia sobre a compra de votos de deputados e senadores, que perigo podem oferecer três simpáticos compradores de votos de uma comunidade interiorana?
A percepção popular para estes casos é de extrema naturalidade. Política é assim mesmo, dizem. E há elevada cobrança para com políticos que não jogam esse jogo. Os que não empregam nos cargos comissionados ou nas empresas prestadoras de serviços, são acusados de esquecerem os que os ajudaram.
E, a propósito, esta é a mais desabrida forma de compra de votos. Começa com o pagamento de cabos eleitorais durante a campanha, e termina com a nomeação para algo do tipo “supervisor de serviços municipais” – como, inclusive, era um desses três heróis de Vila Nova, em status um pouco inferior ao de um outro, que chegou à patente de subsecretário.
Este governo e a atual Câmara de Vereadores não atuam para combater estes vícios, pelo simples motivo de que são deles beneficiados. Enquanto isso, de cinquentinha em cinquentinha, a política real se apresenta. E em festa.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, abril 26, 2009
A festa da política real
Postado por Vitor Menezes às 10:17 Marcadores: campos, eleições 2008, Gaveta do Povo, política
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