Ele biografou dezenas de pessoas que dão nome a ruas de Campos, mas não tem, ainda, o seu na plaquinha do poste de alguma delas. A cidade deve, portando, uma homenagem ao escritor campista Waldir Pinto de Carvalho, que morreu há mais de um ano, em 31 de dezembro de 2007, aos 84 anos, e merece ter seu legado preservado.
E tanto melhor que seja mais que uma plaquinha e uma rua. Sua contribuição para a cultura campista parece mais compatível com uma homenagem em forma de biblioteca ou centro cultural. Uma idéia simpática, por exemplo, seria a restauração da estação de trem de Santo Amaro para, nela, ser criada uma casa de cultura com o nome do escritor – como ocorreu com José Cândido de Carvalho, em Goitacazes.
A propósito, os dois Carvalhos têm a coincidência da forte ligação com a Baixada Campista. José Cândido por ter feito nela nascer o coronel Ponciano de Azeredo Furtado, personagem principal do seu O Coronel e o Lobisomem. E Waldir de Carvalho por ter, ele mesmo, nascido em uma fazenda próxima a Santo Amaro.
Como é comum até hoje a muitos escritores, Waldir de Carvalho acumulou a sua principal vocação com outras atividades que o faziam transitar pelo cotidiano da cidade, o que acabava por se tornar alimento da sua ficção. Foi alfaiate, servidor público, advogado. Mas foi com as palavras o seu maior convívio.
Com elas criou e redigiu peças teatrais e programas de rádio como “Jornal de Ontem” e “O Dr. Mata A. Machado”, para a Cultura. Também fazia sucesso com suas rádio-novelas, e em algumas delas utilizou como fio condutor a trajetória de personagens da história do município, como em “A Epopéia de Patrocínio”, sobre o abolicionista campista.
Para a Campos Difusora, produziu, na década de 70, o programa semanal “Nossa Terra, Nossa Gente”, que antecipava a sua boa obsessão pela preservação da história de vultos campistas. Essa preocupação o motivou a escrever os três volumes de “Gente que é nome de rua”, editados em 1986, 1988 e 2001.
Também publicou em três volumes as obras “Na Terra dos Heréos” (1987, 1996 e 1999) e “Campos depois do Centenário” (1991, 1995 e 2000), além de “O escravo cirurgião” (1988), “Cantos e Contos” (1989), “A Roda dos Expostos” (1994), “O Sorteado” (1994), “Até que chegue a Primavera” (1997), “Padre Nosso” (1998) e “Se não me trai a memória” (2003).
Como se não bastassem o teatro, o rádio e a literatura, Waldir de Carvalho também se aventurou pelo cinema, com a autoria de “A Carona” e “Desajuste”, inscritos no Festival de Cinema Super-8, até hoje lembrado como marco de um bom momento de efervescência desta arte no município.
Que Campos não esqueça de um dos seus mais importantes escritores e das suas muitas ruas transitadas.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, abril 19, 2009
As ruas de Waldir de Carvalho
Postado por Vitor Menezes às 10:06 Marcadores: Gaveta do Povo, Waldir Carvalho
6 comentários:
Gente! Cadê os comentaristas? Será que foram atrás dos "Spam"?
Venham, comentaristas!venham! venham!
Só não comento aqui porque nem precisa, né? Já "tá" tudo bem explícito e implícito...
Por que será que os comentaristas só aparecem quando a pauta é na "ponta" da lingua contra governo?
Não estou dizendo que o governo deve ficar ao Deus dará sem interferências críticas necessáris e bem vindas... Não é isso... E nem preciso explicar o que quero dizer pois os "não comentários" dizem mais que mil palavras...
Cadê os que expulsaram a jumentinha? Cadê?
Sinceramente? Pensei que todos passariam a vir aqui fazer comentários "socratianos", àqueles que partem idéias e trazem cada vez mais lucidez aos leitores..
Mas ... Pensando bem, os mesmos que diziam que não estavam aqui comentando por causa da presença da jumentinha eram os mesmos que nunca estiveram antes... ( fiz questão de fazer uma retrospectiva. (Demorada, hein?... mas valeu. Jamais falaria algo que não tivesse verificado antes...tá doido!).
Gente... o mundo tá estranho, não? Muito estranho...
Que Deus venha logo com sua misericórdia acariciar os carentes...
Haja paciência, tolerância, amor, benignidade, bondade, fé domínio próprio para continuarmos a caminhada...
Tenho um nome para tudo isso: IMATURIDADE!
olha a palavrinha: adeant..rsrsrs
seu vitor, bela lembrança carinhosa. tive o prazer de ser amigo do waldir de carvalho, sócio proprietario de boas conversas e observaçoes afiadas q compartilhava com alguns - afortunado, eu era um deles. tracei um perfil dele na primeira materia q fiz sobre sua vida e obra, o q me rendeu portas abertas em sua casa e uma amizade q me permitiu fazer dele personagem de um conto - a primeira e única pessoa q pedi "autorizaçao" para retratar num escrito qualquer. por motivos q ate hj nao entendo, acabei nao mostrando o conto a ele, publicado no livro q eu e vc, seu vitor, organizamos. andando meio desligado de campos, soube da morte dele algum tempo depois, em uma conversa com meu pais. espero a ideia de um centro cultural com o nome dele ganhe vida. quero estar presente à inauguração.
Legal isso Jorge Rocha!
Prezado Vítor,
Necessário se faz agradecer( em meu nome e de minha família) a bela homenagem por você feita ao meu pai.
O seu texto calou fundo aos que " pelo homem simples e amantíssimo de sua terra"nutriam igual apreço.
Walnize Carvalho
Não gosto muito dessa história de "gente que é nome de rua" não, de exaltação à aristocracia campista, que é uma tradição literária por aqui... mas reconheço a importância de Carvalho e de tantos outros escritores que se dispuseram a documentar a história desta cidade, produzindo fontes tão importantes para tantos trabalhos acadêmicos que se desenrolaram nos últimos anos.
Bela homenagem, espero que renda outras mais.
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