domingo, abril 05, 2009

Do tempo da ETFC

Sou do tempo da ETFC. Que ainda sonhava ser Cefet e nem imaginava se tornar IFF. Não chego aos Aprendizes Artífices, mas já posso ser considerado um veterano da Escola Técnica Federal de Campos, a Federal para os íntimos, que neste ano completa seu primeiro centenário.

Gosto tanto desta escola que, por respeito, não fui buscar meu certificado de “eletrotécnico”. Acho que não o mereço. Me satisfiz com uma declaração atestando a minha formação em segundo grau para poder seguir para a faculdade de jornalismo, minha verdadeira paixão.

É que se tem uma coisa que não sou é técnico, e não queria manchar a história da escola, que formou tantos profissionais competentes, com um documento que certificava um conhecimento que, por minha opção e falta de aptidão, não quis ter.

Na escola, o meu grande aprendizado foi no movimento estudantil e nas disciplinas ligadas ao campo das ciências sociais. Nas disciplinas técnicas, sobrevivia como podia e me empenhava para chegar ao 7,0 necessário para passar.

Sinto saudades das campanhas para o grêmio Nilo Peçanha – entidade que, com muito orgulho, cheguei a presidir – e dos papos em volta da caixa d`água. Onde atualmente há quadras e um simpático quiosque, havia apenas um amplo gramado.

O ginásio, assim como hoje, se prestava às práticas esportivas, claro. Mas não apenas. Era nos cantos das arquibancadas, amparado pelas largas colunas de concreto, nos horários mais improváveis, que era possível namorar, fazer reuniões políticas e até tirar uma soneca, tendo a mochila por travesseiro. Atividades, digamos, mais ousadas, eram reservadas para as repúblicas, fora dos limites sagrados da escola.

Frequentei as filas do pão com goiabada e do leite achocolatado, fiz protestos contra a direção, desfilei pelas ruas com aquela enorme régua “t”, me senti o máximo com o jaleco azulão do meu curso – embora, hoje posso admitir, achasse mais bonito o de química, todo branco –, fui um feliz proprietário de uma calculadora científica, sofri nas aulas de física do professor Amaral, apoiei greves dos professores, aguardei ansiosamente pelas edições do jornal apócrifo “A Tocha” e testemunhei boa parte das positivas transformações pelas quais passou a escola.

Outra boa recordação é a do “clube do livro”, que funcionava numa pequena sala no canto da biblioteca e estimulava os alunos à leitura. O acervo era, em parte, formado por doações dos próprios estudantes, e o acesso era mais amigável que o da biblioteca tradicional, como se fosse uma sociedade secreta da literatura em meio ao mar de livros técnicos. Devo a este projeto, e a seus livros da coleção “para gostar de ler”, parte do meu gosto por ficção.

Me considero privilegiado por ter sido aluno da ETFC. E agradeço pelos bons professores que tive e pelos amigos que lá formei. Em tempos de certezas passageiras e crenças líquidas, posso contar com a memória sólida de um porto seguro.

[Artigo publicado hoje pelo Monitor Campista]

13 comentários:

Anônimo disse...

Acho que estudamos na mesma época...
O envolvimento com o Clube do Livro era muito incentivado pela dona Vilma, Profa. de Matemática. Bons tempos!

Jéssica Carvalho disse...

Camarada Vitor Menezes, Excelente texto!
Sou uma aficcionada por história e pode ter certeza levarei esse texto aos meus amigos do grêmio do cefet para que quem sabe implantem algumas das boas idéias do passado.

Maxsuel Barros Monteiro disse...

Acho que somos contemporâneos da Escola Técnica. Sou do tempo da oficina na então Rua Formosa. Do pão com café com leite servido com aquela concha em nossas canecas de plástico. Lembro-me da banda marcial comandada por Heraldo e que tinha no bumbo o falecido Norberto. Elço Peralva, D. Julia, Zenilda, Helvia Torres, Conceição Docek e outros tantos professores. Lembro-de de Sr. Félixa, Adir, Nilton, inspetores de alunos. Não me formei lá, mas também participei do curso de Eletrotécnica. Quantas saudades.

Maxsuel

Flavia D'Angelo disse...

Nossa....voltei no tempo com o seu post.Quantas recordações.Como jogava vôlei, me lembrei dos jogos internos, das disputas acirradas entre os cursos mecênica e eletrotécnica!!Adorava o uniforme do time.E o prof.Isac, da natação...quanta gente boa!!Aquele pão com goiabada vai ficar na memória!!Bons tempos que não voltam.Ficam as amizades!!

Anônimo disse...

pois é meu caro Vitor, fomos da mesma turma de eletrotécnica, bons tempos aquele... gremio estudantil, sala de música, violão no intervalo, microestágio em São Paulo, professor Laurentino, helinho, César, Rubinho, os colegas de fora, as repúblicas, de repente passou um filme dos bons tempos de ETFC que não sei se existe mais.Porém ficaram as lembranças, amizades e acima de tudo a formação de caráter e profissionalismo em cada um de nós.
Um abraço!!
Leo.
leossmota@oi.com.br

Rodrigo Manhães disse...

Rapaz, essa do clube do livro foi do fundo do baú mesmo! Me lembro que era em um cantinho da biblioteca - pelo menos lá pela primeira metade dos anos 90.

Grande artigo, um abraço!

Vitor Menezes disse...

Rsrsrsrs, pois é, senhoras e senhores, estamos ficando velhos! Abraços!

Rodrigo Rosselini disse...

Pois é...
Sempre fui coadjuvante nessa história... estudei em outra escola mas sempre que podia estava por lá. A Federal tinha cara de universidade, mesmo antes de ter o Ensino Superior. Aulas em tempo integral, as competições esportivas... todo o aparato técnico das oficinas... e o que mais me invejava mesmo eram as rodinhas de violão por todo o canto. A Federal cheirava a Legião Urbana.
Lembro muito dos shows que rolavam na feira do saber fazer saber: Banda quarto reich, banda ardósia, nova era, naja... eram tantas!!! justamente ali em volta da caixa d'água, onde hoje tem as quadras e os quiosques... lembro também das festas juninas... bons tempos!!!
Se há uma instituição com memória é a escola, não há dúvidas, por isso me encanto tanto com os estudos sobre memória escolar.

dickmachado@ig.com.br disse...

Caramba!!!!!!Como o tempo passa e nós não notamos...depois de ler este artigo me veio na memória tudo o que se passou comigo na minha eterna e saudosa "Federal"...foi nela que passei boa parte da minha adolescência e posteriomente a minha juventude...tive maravilhosos 10 anos da minha vida passada nessa escola...lembro-me dos embates ferrenhos que tinhamos com o pessoal do Liceu...dos namoricos com as garotas do IEPAM e do Nossa Senhora Auxiliadora...das peladas de futebos de salão após as aulas...das minhas tardes de namoro no Horto com algumas coleguinhas...saudades da banda...que um dia enverguei orgulhoso o seu uniforme...caracas...sinto saudades até dos esporros do Heraldo...kkkkk...
Não poderia esquecer dos nossos professores...dona Vilma(OOOO VVVVIIIIILLLLLLMMMMMMAAAAA)...Skef...argh...a linda dona Lúcia...dona Zenilda...Sérginho...Dadau...
Do meu saudoso amigo Norberto...com um coração maior que ele...Do joelson galinha...Bião...Bebê...André...são tantos amigos que não caberiam nessa mensagem...
Quanta saudade...Como diria uma amigo meu...nós éramos felizes e não sabíamos disso...
Um abraço a todos os colegas saudosistas da nossa Federal.

Dilmo...

Luiza Botelho disse...

Vitor, que delícia, viajei no tempo! Anos antes que você: Pró-Técnico em 1979 e Edificações diurno de 80 a 82. Mesmo assim, vivi e senti tudo isso na Federal -ETFC.
Em 1981 tive ainda o prazer do Teatro com "O Boi Pintadinho" do Artur Gomes. São tantos os professores e amigos queridos que passeiam na lembrança... ainda bem que eu era feliz e já sabia! rsrs
Beijo grande, Vitor!
Luiza Botelho

Anônimo disse...

Caraca Vitor...
Bons tempos....Hoje lembro-me de grandes momentos que vivi na "Federal"! Como foi bom.... grandes amigos e muitas farras... grêmio... aulas, esportes....Excelente...
Simone CArdoso

Anônimo disse...

A minha eterna ETFC.
Compartilho meu sentimento com todos os signatários das notas de saudosismo fundamentados dos colegas neste site.
A instituição ETFC foi e até hoje continua sendo para mim um de meus alicerces profissional e social.
Não consigo passar pela nossa ETFC de carro ou a pé sem sentir emoção, nostalgia. Nessa hora, estando com alguém me acompanhando sempre faço referencias a importância da instituição na minha vida como um todo. Se até agora ainda não tive a oportunidade de agradecer publicamente a todos os professores, inspetores, diretores e serventes, faço agora de todo o coração.
Sérgio Brito, ex-aluno da turma de eletrotécnica de 1976.

Cassio Peixoto disse...

Meu Caro Vitor, só hoje li seu artigo sobre a ETFC, esse é um tempo que guardo com muitas saudades. Sou técnico de informática, me formei na primeira turma de informática da Federal, e como tec de informática, sou um excelente jornalista...
Guardo na minha memória todas as semanas so Saber Fazer Saber, todos os projetos que eu não coloquei e como eu me preocupava mais em tocar ao lado da banda 4º Reich do que em estudar. Passava horas na sala dos instrumentos com a chave de Nilton no bolso e utilizando as caixas de som e as guitarras da Federal. Lé me formei como bom roqueiro que sou. Aprendi a protestar, a andar de preto, a surrar os calouros e a comer pão com goiabada. Guardo como uma das maiores emoões da minha vida tocar para um pátio lotado uma versão tosca de uma música do Plebe Rude e uma do Echo & The Bunnymen na Semana do Saber Fazer Saber. Tempo bom que não volta nunca mais.

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