segunda-feira, abril 21, 2008

Eleitores não punem maus administradores

Um problema na abordagem do tema sugerido para a Rede Blog hoje é a premissa que haveria um “comportamento eleitoral do campista”. Ou seja: algo que fosse típico do eleitor da cidade, o que parece ser uma hipótese frágil. Minha contribuição para o debate de hoje caminha em outro sentido. Trata-se apenas de uma sugestão de leitura do estudo dos economistas Marcos Mendes (doutor em economia pela USP) e Carlos Alexandre Rocha (Mestre em Economia pela Unb e London School of Economics), consultores legislativos do Senado Federal que produziram análise dos resultados eleitorais no Brasil em 2000 para verificar o comportamento dos eleitores em relação à reeleição de prefeitos.

Os resultados encontrados podem ajudar a compreender o cenário brasileiro e, claro, também elucida o comportamento eleitoral em Campos. Para este momento pré-eleitoral, quando se organizam candidaturas e é aventada a possibilidade de uma chamada “terceira via” que enfrentasse os aparatos já consolidados na cidade, a leitura também pode oferecer sinalizações importantes.

Os autores, por exemplo, mostram que os eleitores não costumam punir os maus administradores. Prefeitos austeros com os recursos públicos não têm melhor desempenho eleitoral em razão disso, enquanto recebem melhor votação os que gastam mais, independentemente da qualidade destes gastos.

Mas há um senão: “Os prefeitos acusados de cometer crime grave amplamente noticiado na imprensa (CRIME) estão mais sujeitos a ser expelidos do processo político, tendo a sua probabilidade de candidatura à reeleição reduzida, seja pelas instituições políticas que cassam seu mandato (câmara de vereadores e justiça eleitoral, principalmente), seja pelo comprometimento de sua imagem junto aos eleitores, diminuindo a sua chance de reeleição e levando-os a desistir da candidatura”. O que parece ser o caso de Campos neste momento, em relação ao prefeito afastado Alexandre Mocaiber.

No entanto, se estes conseguem sobreviver às barreiras institucionais e se candidatam, suas chances de reeleição são praticamente as mesmas dos que não sofreram acusações, como explicam os autores:

“Note-se que CRIME é significativo apenas na equação de candidatura, indicando que, nesses casos, a filtragem ocorre no momento de definir a candidatura. Uma vez que consiga candidatar-se, o prefeito acusado não tem sua probabilidade de reeleição afetada. Dos 101 prefeitos acusados, 41% não se candidataram (...). Dos 60 acusados que se candidataram, porém, 55% foram reeleitos, percentual muito próximo aos 58% de sucesso obtido entre os não acusados que se candidataram”. Este parece ter sido o caso, em Campos, de Arnaldo Vianna.

Clique aqui para ler a íntegra do estudo.

3 comentários:

Paulo Sérgio Ribeiro disse...

Muito boa sua análise, assim como o estudo referenciado. A possibilidade de uma "terceira via" em Campos é demasiadamente improvável, o que nada invalida o esforço coletivo em torno da ampliação substantiva do debate público nessa rede.

Vitor Menezes disse...

Pois é, Paulo Sérgio, concordo com você. Além do mais, os números não explicam tudo e toda generalização é sempre precária. O que aconteceu, por exemplo, com os 42% de prefeitos não reeleitos? O que pode ser específico em Campos neste momento em que as pessoas estão cansadas dos mesmos personagens? O que parece cada vez mais claro aqui é que algo precisa ser tentado. Abs!

Paulo Sérgio Ribeiro disse...

Certamente, Vitor. Uma análise que foque o problema de novas agendas e lideranças (sem recair no dirigismo à moda) é necessária, ainda que não se possa mediante uma demonstração (em um artigo jornalístico e/ou científico) convencer alguém de um valor ao qual não adere. O "papel" do jornalista e do cientista social atenta para um tratamento crítico deste problema ao reconstituir analiticamente os múltiplos atores que se batem pela sua resolução.

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