Por Murillo de Aragão, retirado do Blog do Noblat.
Finalmente, a internet e as redes sociais tiveram um papel mais relevante nas eleições brasileiras. Porém, como bem disse Pedro Doria em artigo no Estadão (31/10/10), ninguém venceu na rede. O empate entre os candidatos nesse meio de comunicação revela que, no limite, as redes sociais não favoreceram ninguém nem foram decisivas para o resultado final.
O Brasil de 2010 ainda é um país em que a penetração da internet é baixa, apesar da vocação do brasileiro para a rede e do seu potencial de crescimento explosivo. Sendo assim, não houve qualquer episódio nas redes que modificasse de modo claro e decisivo as tendências do processo eleitoral. No futuro, no entanto, não deverá ser assim.
Alguém diria, de pronto, que a campanha de desinformação em torno de Dilma Rousseff e o tema do aborto podem ter-lhe roubado votos na reta final do primeiro turno. Mas o estrago causado pela ação na web foi bem menor, por exemplo, que a maciça cobertura da mídia eletrônica em torno do caso Erenice Guerra.
A situação seria diferente se tivéssemos um empate técnico, no qual “detalhes” como as redes sociais poderiam pender em favor de um ou de outro candidato. Ao pontuar tais aspectos volto a dizer que a internet e as redes sociais foram importantes, mas não decisivas.
A campanha teve aspectos interessantes ligados à internet e às redes sociais e que merecem destaque. O fato que mais me chamou a atenção foi o uso do twitter na mobilização da militância partidária e de simpatizantes dos candidatos. No caso brasileiro, é o que importa: mobilizar enormes contingentes eleitorais em favor de uma candidatura. O twitter também serviu para informar eventos e antecipar direções. Em especial, para repercutir as prévias das pesquisas, abundantemente comentadas na rede.
Um segundo fato é que o uso da internet na disseminação da informação teve no anonimato o seu pior e mais perverso aspecto. Nesse sentido, alinho-me a Arthur Schopenhauer, que dizia que o anonimato serve para tirar a responsabilidade daquele que não pode defender o que afirma. O anonimato na internet é um grave problema que termina por minar a própria credibilidade do meio. No futuro, vejo a credibilidade das redes sociais sendo avaliadas por seu grau de transparência.
Na prática, o Código Penal não vale na internet e, de forma esperta, alguns grandes sites e redes se escudam nas legislações mais complacentes do mundo para não atuar de forma enérgica contra a prática de crimes que envolvem a honra.
Aos românticos, o anonimato tem um doce sabor libertário. Quando se está a favor, tudo é lindo e maravilhoso. Porém, quando se é vítima de difamação e calúnias é como sofrer de bullying sem saber a identidade de seus agressores e sem ter a quem reclamar.
Como há complacência nas redes, poderemos ter, como efeito colateral, ações restritivas no âmbito regulatório. Não devemos esquecer que vai haver uma discussão sobre o marco regulatório da internet no Brasil. Eleitoralmente falando, a questão é importante, já que no futuro as redes sociais e a disseminação de informações por outras mídias terão peso ainda maior para a construção de tendências e, claro, para a definição de resultados eleitorais.
A internet será, cada vez mais, o meio de informação da cidadania sobre tudo e sobre todos. Não necessariamente na forma tradicional de acesso a sites. Vejo que a explosão de recursos, como o twitter, por exemplo, tende a ganhar destaque. A partir da experiência eleitoral de 2010, partidos, políticos e Justiça Eleitoral deveriam debater intensamente a questão com vistas às próximas eleições.
Murillo de Aragão é cientista político
3 comentários:
Mais um que analisa a internet com a cabeça ainda no século XX. Parece até com os ministros do TSE naquele julgamento do direito de resposta no twitter. Perdidinhos, perdidinhos. E, diante do desconhecido, só pensam em controlar, controlar e controlar.
Também acho. É que a cabeça desses caras pensa só no número de votos. A organização, de baixo para cima, para discutir as questões, essa sim é importante.Deixe como está. Daqui a pouco a cobra estará mordendo o rabo deles.
Estou para dizer que quem definiu esta eleição foram os evangélicos falsos. Os evangélicos maria vai com as outras que não são cristãos. Pode acreditar. Se evangélicos foram o alvo da Dilma em julho, é porque ela sabia que eles poderiam definir. Mas acontece que os que definiram foram justamente os evangélicos preferidinhos dos intelectuais e céticos: "Aqueles patetas que não sabem discernir a esquerda da direita". Sabem nadica.
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