Foto: Thiago Macedo/Ascom Fafic
Evidentemente sou suspeitíssimo para emitir uma opinião, mas os comentários estão aí mesmo para os questionamentos. O fato é que achei muito bacana a mesa sobre a campanha da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, realizada na noite de ontem, na Fafic. Deu para esclarecer muitos pontos com a moçada e houve uma troca interessante de impressões e apreensões sobre o tema. Serviu para aproximar os estudantes do assunto que, ainda, parecia muito distante.
A mesa, formada por professores de jornalismo, entre os quais me incluía, e por jornalistas recém formados, era naturalmente favorável ao diploma. Como registrou o próprio release do evento, o objetivo era fazer um ato político a se somar à campanha nacional pela obrigatoriedade da graduação. O posicionamento do curso, portanto, é nítido quanto ao assunto.
Isso não impediu, no entanto, que alguns dos fortes argumentos contrários ao diploma fossem levantados, entre eles o que deu origem à sentença prolatada pela Juíza Carla Rister, acerca da liberdade de expressão garantida a qualquer pessoa, independentemente de ser ou não jornalista.
Eu mesmo lembrei que há países importantes, como os Estados Unidos e alguns europeus, onde não há obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.
Também foi lembrada a atuação dos blogueiros, inclusive de Campos, que dão furos jornalísticos e por vezes se mostram mais atuantes do que os jornalistas.
Claro que contra-argumentos aos expostos acima igualmente foram apresentados. Mas o bacana é que ficou amadurecida a percepção de que não se trata de uma guerra do bem contra o mal, onde o certo e o errado são nítidos, mas de uma opção a tomar, tendo nossa história, nossos costumes e a nossa noção de jornalismo como guias.
sábado, agosto 16, 2008
Debate bacana sobre o diploma
Postado por Vitor Menezes às 21:14 Marcadores: campanha do diploma, fafic, fenaj, jornalismo
6 comentários:
Vitor, como bom profissional que você é, seu texto possui a imparcialidade daquele que tem uma posição tomada, mas começa a dúvidar se o outro lado não é o certo.
Não vou mais discutir a questão da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Já ouvi tanta besteira que não tenho fôlego para suportar. Tem gente que argumenta a favor do diploma dizendo que oprofissional além de melhor preparado tecnicamente, o é tambémmoralmente, eticamente etc.. Tantos absurdos me fez omisso em relação ao tema.
Mas gostaria que alguém defendesse o diploma morando e trabalhando em regiões fora da costa e das capitais. Ou seja, na maioria dos municípios brasileiros. Mas, para emitir opinião, deve ir lá. Escolha uma cidade de Minas, de Matodo Grosso, da Paraíba, da Bahia, do Amazonas, sei lá... desde que não seja ao lado de capitais e na costa e vá lá, fique alguns dias e seja imparcial na hora de opinar sobre a obrigatoriedade do diploma. Coloque-se no lugar do jornalista que estiver atuando. Poderia citar Miracema, aqui perto. Quem veio de lá fazer jornalismo, não volta para trabalhar. Quem fica, cursa faculdade como?
Outro argumento, que não uso mais porque cansei, é ouvir os bons e velhos jornalistas em todo o país. Tornaram-se bons jornalistas devido o diploma? Sempre fui favorável a que as pessoas estudem sempre mais, se aperfeiçoem. Mas sempre fui contra a obrigatoriedade do que não é técnico. Exemplo: médico, engenheiro, dentista, professor, mecânico, eletricista, enfim, o que depende da técnica deve ser exigido o curso técnico. Quanto ao poeta, escritor, historiador, memorialista, jornalista, dramaturgo etc.etc., cabe ao profissional fazer ou não um curso. Até porque a técnica, nessas esferas do conhecimento, é complementar, secundária. Se pudesse, aconselharia todo mundo a não parar de estudar. Não necessariamente numa escola, mas de preferência. Só que deve ser, sempre, uma opção de quem deseja aperfeiçoar-se. Quando alguém estuda jornalismo, já é. Não sendo, nem o diploma o tornará um. Qualquer professor de jornalismo sabe disso. E é capaz de apontar os poucos jornalistas que saem com seus diplomas. A maioria não será ou será apenas porque tem o diploma. Mas estes serão sempre medíocres. Finalizando: uma faculdade de engenharia forma engenheiro, uma faculdade de medicina forma médicos. Mas uma faculdade de jornalismo não forma jornalista.
Parabéns a Avelino!
Esse Avelino é outro preguiçoso que não gosta de estudar e fica na contramão do movimento pelo registro da profissão. É a típica mentalidade provinciana que mantém bons jornalistas reféns dos donos desses jornalecos (como os dessa cidade), sem ao menos uma legislação que possa protegê-los dos desmandos dos ditos coronéis da informação. Quem já trabalhou nesses jornais campistas sabe bem do que estou falando...
Sem contar que é o discurso do personalismo, anti-profissional, que deve vigorar para que esses jornalistas de mentirinha atuem sempre pela influência e pelo jogo de interesses...
E esse Avelino como sempre viveu de cargo político, e por isso conseguiu uma boquinha no jornal do seu chefe, é o mesmo que encontrei bêbado fazendo cobertura do carnaval de Campos em 2008 para esse mesmo diário.
Não dá pra ser profissional, nunca...
Avelino, sei bem do que você está falando. Realmente a barra nestes lugares é pesada e há verdadeiros heróis abnegados que brigam para tornar públicas questões que contrariam interesses poderosos. E há pouca sustentação econômica para que o jornalismo se firme como atividade contínua e, tanto quanto possível, autônoma.
Ocorre que olhar para o umbigo e constatar: eu não sou formado em jornalismo e, mesmo assim, sou um jornalista, não é um modo muito republicano de encarar a questão. Isso, para mim, é exceção, e a manutenção da obrigatoriedade do diploma, que vigora desde a regulamentação de 69, é uma regra geral que, na minha opinião, beneficia o jornalismo.
Jornalistas veteranos como Nilson Lage, que acabou por se tornar também um pesquisador respeitado do jornalismo, reconheceram o quanto os cursos universitários melhoraram o jornalismo. Em um delicioso artigo ("À frente, o passado" - se quiser, te mando), ele conta o que era ser jornalista antes do ensino das faculdades, e, acredite, não era algo muito abonador.
É engraçada essa coisa de opinião... Sabe que essa situação do interior é justamente, para mim, um dos principais motivos para defender a manutenção da obrigatoriedade do diploma... É que criando maior rigor e exigência para o exercício do jornalismo, aumentam-se as chances de que se tenham profissionais mais conscientes do seu papel na sociedade e menos suscetíveis às pressões patronais ou dos tais poderosos locais (ou de ambos).
O argumento do autodidatismo, no fundo, vale para qualquer profissão. Mesmo as mais “técnicas”, como você diz. Não é impossível que alguém, estudando sozinho, se torne um médico. Já havia médicos antes das faculdades de medicina — como, aliás, ocorre com qualquer atividade humana. Se fossemos nos pautar por essa exceção, jamais exigiríamos diplomas. É evidente que essa exigência é uma construção histórica.
Com o tempo, a sociedade confere tal nível de legitimidade e de especificidade a um fazer, que ele se torna uma profissão, e daí estabelecem-se requisitos para o seu exercício. Até mesmo em muitos países onde não há obrigatoriedade do diploma, há grande preferência por profissionais formados e são constituídas formas de legitimação para o exercício do jornalismo.
Talvez essa seja uma diferença entre nós: eu acredito que o jornalismo tem esse nível de especificidade técnica e tem um ethos consolidado. Acredito que o jornalismo seja, portanto, uma profissão. E acredito ainda que é melhor para a sociedade que a regra geral seja a de que os jornalistas saiam das escolas de jornalismo.
Gustavo, sou realmente mais sensível a alguns argumentos anti-obrigatoriedade. Mas não a ponto de considerá-los de maior peso em relação aos argumentos pró-obrigatoriedade. Isso, claro, não significa que conheço todos os argumentos possíveis de um lado e de outro (rs rs rs rs), o que, logicamente, abre a possibilidade de mudança de opinião. Mas, até agora, e até onde sei, mantenho-me firme com o diploma.
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