Em função da indústria do petróleo, Campos e Macaé são duas cidades economicamente integradas há décadas. Milhares de cidadãos dos dois municípios trabalham ou estudam na cidade vizinha. E todos têm como única rota viável a BR 101.
As constantes mortes na rodovia, que motivaram campanhas e, agora, voltam a causar impacto popular em razão do trágico acidente que matou o vereador petroleiro Renato Barbosa – um destes milhares de trabalhadores que moram em uma cidade e atuam profissionalmente em outra – já deveriam ter despertado o mínimo senso de responsabilidade de governantes campistas e macaenses para a necessidade de criar novas formas de integração entre seus municípios.
Seja por meio de modernos trens, seja por meio de uma nova rodovia duplicada partindo de algum ponto da Campos-Farol, o fato é que não é mais admissível que para fazer uma viagem relativamente curta, que se tornou uma necessidade de rotina, tantos tenham que passar pelos riscos de uma rodovia federal de trânsito pesado e frequentemente assassino.
A falta de integração política entre os sucessivos representantes de Campos e Macaé, além das demais cidades da região, produz impactos negativos também em outras áreas. Todos teriam a ganhar se o Norte Fluminense fosse pensado como tal, e não, como acontece, com cada município desenvolvendo as suas ações isoladamente.
Um exemplo é o turismo, que poderia ser fomentado regionalmente por meio de roteiros que incluíssem atrações de várias cidades. Atualmente, apenas Quissamã trata seriamente a questão, e acaba sem interlocutores, por exemplo, em Campos.
Tempos atrás ouvi o relato de um guia turístico de Quissamã sobre algo que ilustra este descolamento entre as cidades. Ele orientava um grupo de turistas em sua cidade que demonstrou interesse em conhecer Campos. Ao tentar encontrar alguma empresa campista para o trabalho receptivo, para que pudesse encaminhá-los, o guia simplesmente descobriu que o serviço não existe na maior cidade da região. E os turistas voltaram para suas cidades sem conhecer esta terra de José Cândido e de José do Patrocínio.
Mas, de fato, a mais trágica consequência da falta de espírito público e de visão regional dos governantes tem sido o elevado número de acidentes e mortes na BR 101, justamente em um dos trechos mais perigosos da rodovia.
No século XIX, o Império já pensava na necessidade de integração entre as duas cidades, com a construção do Canal Campos-Macaé e, logo em seguida, com a estrada de ferro. Hoje, passados mais de 130 anos, governantes se comportam como se estivessem em vilas isoladas, no século XVIII.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, setembro 27, 2009
Para Rosinha e Riverton pensarem
Postado por Vitor Menezes às 10:05 Marcadores: Gaveta do Povo, prefeitura de campos, prefeitura de macaé
7 comentários:
Uau! Que voltem os trens!
Vítor:
sua visão a respeito da ligação entre as duas cidades está correta e a ideia de uma nova estrada é simplesmente brilhante.
Talvez lutar por uma nova estrada seja menos difícil do que lutar pela duplicação da BR-101 (há outros interesses envolvidos, neste último caso), até porque deve ser possível o aproveitamento de estradas que já existem (o que diminuiria a necessidade de desapropriações e aceleraria o processo) para por em prática essa nova empreitada.
Parabéns!
Parabéns, Vítor!
Perfeita a abordagem. Serve p o noroeste tb.
A opção mais segura será a ferrovia, que já existe e só depende da força políca.
Um trem ligando Rio das ostras a Campos, na certa evitaria muitos acidentes. E além de mais barato é muito mais seguro.
Trem! É isso. Também gosto. Gostei muito desta ideia de trem.
Caro Vitor,
Faço coro com os outros comentadores: excelente texto!
Mas, ando criticamente resignado nestes dias. Passaste no blog do Ricardo André e viste lá os posts sobre as faixas de trânsito da cidade ??????? Algo infinitamente mais simples, dependente exclusivamente do poder local, e desconsiderado. Eu já perguntei aqui mesmo sobre a Emut... Em uma cidade em que os sinais de trânsito são sistematicamente desrespeitados diariamente a despeito do horário. Nos finais de semana a coisa só fica ainda mais evidente.
Ando tão cansado, criticamente resignado, que ando até duvidando da capacidade de sensibilização da sociedade civil sobre a classe política em Campos particularmete. Desconfio que lágrimas de sangue, passeatas e pancadarias sequer tocariam a vontade política do poder local.
Abçs e eu ainda fico na esperança de que algum dia de fato importantes observações como as do seu texto possam gerar oxigenação no poder local e arredores. Quem sabe nas próximas gerações possam ler novamente seu texto?
Abçs
George
George, o diálogo, como dizia Paulo Freire, é a melhor arma para se chegar a uma conclusão. E mesmo que não chegue. Foi a Esquerda que trouxe o DABATE para a política. Foi a esquerda cristã ainda por cima. Tudo bem que o cristianismo social não consegue muita coisa porque fica só a nível de mente racional. Mas que vale como busca da Verdade, vale. Somos seres da fala. Do diálogo, cara.
"Lágrima de sangue, passeatas e pancadaria" só serviram para mostrar que é a humildade que tudo vai vencer, George.
Vamos ao diálogo.
Somos seres dialógicos.
Querendo paz
Rosângela.
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