segunda-feira, junho 09, 2008

Caderno da Folha força a mão na defesa dos jornais

Reprodução
O Caderno Mais!, da Folha de São Paulo de ontem, cometeu uma desonestidade editorial que pode ser sintomática do desespero dos jornais impressos. A capa do caderno destacava a simpática imagem do cãozinho entregando um jornal, ilustrando as chamadas “Com vendagens em ascensão em países como Brasil e China, diários põem em xeque previsões pessimistas e reafirmam seu papel no debate público” e “Eric Alterman analisa os desafios vividos por jornais como o ´New York Times´ diante do crescimento da internet´. Ambas se relacionavam com a “manchete”, em caixa alta, “De volta para o jornal”. Ou seja, quem ficou na capa pode ter acreditado que os impressos têm um futuro promissor.

Mas quem leu os dois artigos que sustentam o tema viu que não é bem assim. O primeiro, da editora-executiva da Folha, Eleonora de Lucena, faz a apologia da importância histórica da imprensa, antes de se ancorar na informação de que “A venda de jornais continua a crescer no mundo (2,6% em 2007), muito impulsionada por países como China e Índia — e Brasil, que teve alta de 11,8%”. Depois, deita mais elogios aos impressos. Todos pertinentes, diga-se, e bastante conhecidos. Parecem ter saído de um release da ANJ (Associação Nacional de Jornais).

A cereja do bolo do caderno, no entanto, é o artigo de Alterman, publicado originalmente na New Yorker, em 31 de março deste ano. E este mostra um cenário de mudanças onde os jornais perderam muito prestígio e poder, embora ainda conservem algum papel organizador do noticiário do dia. Algumas das suas constatações:

“Por muitas décadas, publicar o jornal dominante —ou único— de uma cidade dos EUA de porte médio equivalia a deter uma licença para imprimir dinheiro”.

“Na era da internet ainda não apareceu ninguém com uma solução para salvar o jornal, nos EUA e no mundo”.

“Talvez isso ajude a explicar por que o número decrescente de americanos que compram e lêem jornais diários gasta cada vez menos tempo com eles: a média é inferior a 15 horas por mês. E meros 19% doa americanos com idade entre 18 e 34 anos declaram consultar jornais diários. A idade média do leitor de jornais é de 55 anos — e a curva aponta para cima”.

“Quem vai tomando o lugar, como se sabe, é a Internet, que está a ponto de ultrapassar os jornais como fonte de informação política para os leitores americanos —coisa que já aconteceu entre os jovens e os politicamente engajados. Já em maio de 2004, os jornais ocupavam o último lugar entre as fontes de notícia preferidas pelos leitores mais jovens”.

“Segundo relatório ´Abandoning the News´ (Abandonando os Jornais), publicado pela Carnegie Corporation, 39% dos entrevistados com idade inferior a 35 anos acreditavam que, no futuro, usariam a Internet como fonte de informação. Apenas 8% disseram que recorreriam a um jornal”.

E vários outros dados e cenários são listados pelo autor, inclusive alguns que fazem justiça aos jornais — como o que lembra que, na blogosfera, grande parte do que se publica e se comenta nasceu (como este post!) em um impresso.

É verdade que o autor não diz que os jornais acabarão, e advoga a importância do veículo, mas a perspectiva que traça é bem mais sombria do que fez crer a capa do Mais!.

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