domingo, novembro 15, 2009

Teses, especulações e desconfianças sobre o assassinato do Monitor

Recebi de um caríssimo amigo um relato sobre o caso Monitor. Sem identificá-lo, e omitindo alguns nomes de pessoas e empresas campistas por ele citados, reproduzo o seu raciocínio para dar o máximo de transparência ao que se discute nos bastidores, lembrando que tudo não pode ser considerado além do terreno das hipóteses:

Ele diz assim:

"Caro Vitor

A essa altura do campeonato muitas informações sobre o “Monitor Campista” já circulam. Mesmo vindas de fontes diferentes, muitas delas são coincidentes ou complementares, por esta razão acho conveniente fazer uma análise:

    * Os “Diários Associados” somam um passivo de 23 milhões de reais tendo já obtido 15 milhões para pagar suas dívidas, faltando conseguir “apenas” os 8 milhões restantes.

    * Embora o prédio do “Monitor Campista” esteja avaliado em R$ 800.000,00 e o jornal valha 3 milhões o comprador está disposto a pagar os 8 milhões que os “Diários Associados” precisam.

     * Mesmo esbanjando saúde financeira e longe de ser deficitário, os “Diários Associados” vêm jogando anualmente para baixo a contabilidade do jornal encontrando desta forma a justificativa que precisam para vende-lo.

     * A Prefeitura Municipal de Campos é efetivamente a compradora do jornal, “salvando” este patrimônio cultural e histórico da nossa cidade. Com essa manobra o título “Monitor Campista” continuaria a existir e o jornal seria o diário oficial da cidade noticiando também as ações (positivas é claro) da prefeitura. A Secretaria de Comunicação seria transferida para o recém-adquirido prédio da Rua João Pessoa.

     * A diferença entre os 8 milhões pagos e os 3 milhões e oitocentos mil do valor real ajudariam a aquecer a campanha de Garotinho para o governo do estado, inclusive com a cessão de horários na Radio Tupy para os programas radiofônicos de Garotinho.

     * O jornal passaria a ser impresso com a participação dos menores da Fundação Municipal da Infância e da Juventude, numa “belíssima ação social”. Isso justificaria inclusive a aquisição de um parque gráfico que, como é de se esperar, não serviria exclusivamente à impressão do jornal.

    * Os funcionários do “Monitor Campista” não seriam readmitidos por não serem concursados. A prefeitura utilizaria seus jornalistas e funcionários lotados na Secretaria de Comunicação.

Estas, entre outras notícias que podem ter o seu fundo de verdade, me fazem pensar na possibilidade de estarmos fazendo o papel de “inocentes úteis”. O que fazer?"

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O que acho de tudo isso?

1 - Parte desta trama havia sido publicada pelo urgente! (aqui, em 26 de setembro). Mas nada disso é fato comprovado, embora todos os indícios sejam plausíveis.

2 - Diante da perspectiva do fim do jornal (seja um fim de verdade ou um fim em forma de transformação do jornal em veículo chapa branca da Secretaria de Comunicação), tínhamos dois caminhos iniciais a seguir: reagir de alguma forma ou não reagir (a tese do não querer ser "inocente útil").

3 - Preferi a primeira opção. E creio que tem sido acertado. Temos conseguido mostrar que o Monitor Campista tem quem se preocupe com ele. Seja para reagir ao seu fechamento, seja para reagir a uma hipotética trama como a que foi relatada acima.

4 – Se confirmada esta negociata, haverá várias denúncias a serem feitas: a do assassinato do Monitor como jornal de credibilidade e com redação independente; a do superfaturamento do valor do jornal; a da utilização do dinheiro público para gerar benefícios eleitorais pessoais; entre outras que podem surgir.

5 – Mas, diante do jornal efetivamente fechado, não poderíamos esperar que toda essa história fosse confirmada para que tomássemos algum posicionamento.

6 – Creio que a nossa pressão pode ajudar a criar um ambiente em que o futuro do jornal, caso exista, seja melhor do que este tramado pelos seus supostos futuros donos (até mesmo porque, se tudo for confirmado, os futuros donos serão os cidadãos campistas, e não os Garotinhos).

7 – Não podemos perder de perspectiva que também é importante a continuidade do título do jornal, mesmo que com a necessidade de combater todos os vícios deste processo neste momento. Daqui a 50, 100 anos, isso poderá ser uma poeira numa história de quase 300 anos. Ou seja, não podemos esquecer que estamos lidando com um patrimônio de longo prazo, e não com uma troca comercial qualquer.

8 – Dito de outro modo: o jeito como os Diários Associados trataram a questão já demonstra suficientemente a insensibilidade do grupo em relação ao jornal. Não tiveram dó em matá-lo seja lá em nome de que interesse for e em articulação seja lá com quem seja. E não tínhamos meios para impedir que um proprietário privado tratasse tão mal a sua própria propriedade. Agora, se toda esta conspiração se confirmar, já teremos de quem cobrar um tratamento adequado da questão, partindo inclusive da correção de todos os vícios de origem no processo.

9 – Isso quer dizer também que não creio que toda a solução que venha do poder público seja necessariamente descabida ou desonesta. E que o governo municipal não pode se meter nisso, por se tratar de uma empresa privada. A questão é como se meter.

10 – Imagine se houvesse royalties na época do Trianon (um teatro privado) e algo tivesse sido feito para preservá-lo. Hoje não teríamos essa culpa da sua demolição.

11 – Uma boa solução pode sim ser construída em parceria com poder público e de modo transparente. E é possível sim fazer jornalismo público de qualidade e com forte fiscalização da sociedade. Há bons exemplos, basta querer. E basta haver quem cobre por isso. Isso, claro, não descarta a denúncia de que nem mesmo isso era necessário para o caso Monitor, já que, como se sabe, a empresa poderia tocar a sua vida de modo privado seguramente. Mas agora isso é passado. Não pudemos evitar que os Diários Associados fizessem o que fizeram.

12 – Quanto aos trabalhadores do Monitor, é preciso que se registre que eles são os responsáveis pelo jeito firme como o jornal se comportou ultimamente nestas tormentas eleitorais. Alguém poderá dizer que não fizeram mais do que a obrigação. Mas isso não impede de reconhecer o quanto é difícil cumprir a obrigação nestas terras. Eles são legitimamente parte a ser considerada em um possível futuro para o jornal. Seja em forma de cooperativa, associação, fundação, seja lá como for, creio ser justo incorporá-los não ao funcionalismo público, mas à construção do novo Monitor, que será tão melhor quanto puder preservar do velho.

13 – Nos meus melhores sonhos, por exemplo, imagino que Campos poderia ter daqui a 100 anos o mais antigo jornal impresso diário do país, que fora preservado pela ação dos que criaram uma certa Fundação Monitor Campista para preservá-lo. Seria uma atração turística, quando quase todos os impressos teriam acabado, e um centro de preservação de memória da imprensa (não apenas acervo, mas do modo de fazer dos impressos), com função jornalística desenvolvida por todos os meios tecnológicos disponíveis no futuro, mas com o luxo de manter uma pequena tiragem impressa, para assinantes, como prova do orgulho do campista pela sua existência. Será obrigatório visitar em Campos a livraria mais antiga do Brasil e o jornal mais antigo do Brasil (sim, porque creio que, do modo como os Diários Associados tratam os seus patrimônios, não demorarão a exterminar o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio).

14 – Para mim, a tese do “inocente útil” é uma deficiência de perspectiva, daqueles que colocam a luta contra Garotinho na frente de qualquer outra luta. Não nego a necessidade da primeira – dados os aparentemente incorrigíveis vícios políticos deste personagem –, mas não creio que ela sirva de paralisia para as demais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vitor Menezes, se não estou enganado, em um postado, sugere a criação da Fundação Jornal Monitor Campista, o que achei em principio uma excelente idéia.

Aproveitando a idéia e tentando avançar na discussão da proposta, sugiro a formação de um comitê pró-fundação, que poderia ser constituída pelos funcionários e representantes da sociedade civil.

Esse comitê teria com principal objetivo criar a fundação, além de mostrar a importância da manutenção em atividade do terceiro mais antigo jornal do país, e buscar apoio através de doações e venda de cotas de publicidade, junto ao comércio, instituições públicas e privadas e a órgãos dos governos municipais, estadual e federal, com o objetivo de criar um fundo para arrendar e posterior compra dos Diários Associados, do titulo “Monitor Campista” e do prédio da redação.

Acho também que para mostrar lisura e dar credibilidade à proposta que deveria ser criado um conselho gestor do jornal e posteriormente da Fundação Jornal Monitor Campista, composto por representantes das principais organizações civis de nossa cidade, como por exemplo, associações de classe, sindicatos, conselhos de profissionais liberais, etc.

É lógico que está proposta é bastante incipiente, mas a intenção é propor o inicio de uma discussão pró ativa do assunto, deixando de lado o desanimo, as lamurias e a sensação de impotência pelo fato consumado.

agitadorcultural disse...

Mais uma vez vemos o preço que pagamos pelo sistema econômico em que vivemos. Perde-se a memória e a cultura, porque ninguém quis bancar o jornal. Os jornalistas e todos os trabalhadores que fizeram o jornal poderia continuar a fazê-lo e imprimi-lo como foi durante todas essas décadas, não fosse o atraso da "instituição dinheiro" por trás disso tudo. Minha referência é ao documentário "Zeitgeist Adenddum", que mostra como nosso planeta insiste em não evoluir, crescer e se desenvolver por causa do dinheiro.

Anônimo disse...

deu no comunique-se

Diários Associados fecham Monitor Campista e dizem que título está à venda

Izabela Vasconcelos, de São Paulo

Os Diário Associados fecharam o terceiro jornal mais antigo do Brasil, o Monitor Campista, de Campos dos Goytacazes (RJ). A empresa diz que o fechamento foi motivado pelo fim da publicação do Diário Oficial da Prefeitura de Campos, incluído no veículo por mais de 100 anos. O presidente da publicação, Maurício Dinepi, informou que a empresa tem interesse em vender o título do jornal, fechado no último domingo (15/11).

“Se alguém quiser comprar o título, estamos abertos para isso. Dependendo da oferta, faria isso imediatamente. Isso me dará uma alegria enorme”, explicou ele, que é presidente dos Diários Associados no Rio de Janeiro.

Dinepi informou que foi procurado por algumas pessoas físicas, que não atuavam na área e ofereceram valores muito abaixo do valor real do título. “Não vamos entregar o título dessa forma porque o jornal tem uma história de mais de 150 anos”, afirmou.

Fim do Diário Oficial e prejuízos
O presidente do veículo disse lamentar muito o fechamento do jornal, mas alega que não encontrou outro caminho. “Me sinto desconfortável de fechar um jornal de 175 anos, mas não podia mantê-lo no prejuízo. Estávamos acumulando prejuízo, mandávamos para Campos o dobro do que vale o jornal, o que empresarialmente era uma loucura”, declarou.

No domingo (15/11), a empresa publicou uma nota comunicando o encerramento das atividades, por decisão do Condomínio Acionário dos Diários Associados, mas sem informar os motivos que levaram ao fechamento da publicação.

A publicação do Diário Oficial correspondia a 50% da receita do veículo. O informativo da prefeitura foi retirado do jornal após a Justiça alegar que não havia licitação para a publicação no Monitor Campista e que o Diário Oficial deveria ser aberto à concorrência de outros veículos, por meio de licitação. A Justiça atendeu a uma ação movida pela Folha da Manhã contra o Monitor.

O diretor do jornal, Jairo Coutinho Maia, negou que o veículo não tivesse licitação. “Já publicávamos o Diário Oficial há mais de 100 anos. Mas fizemos uma licitação, através de uma agência, para pagar o administrativo e institucional”, rebateu Maia.

Na época do fim da publicação do Diário Oficial, as especulações eram de que a prefeitura de Campos deixou de investir no jornal porque teria intenção de comprá-lo posteriormente. Em reunião com a Associação de Imprensa Campista, a Secretaria de Comunicação Social da prefeitura negou que o órgão tivesse a intenção de comprar o veículo. A prefeitura alegou também que estava surpresa com o fechamento do jornal e que apoiaria os jornalistas para manter o veículo com recursos do Fundecam, ou com a criação da Fundação Monitor Campista.

Situação trabalhista
Os jornalistas que atuaram no veículo se desligaram da empresa nesta segunda-feira (16/11), e foram convocados para resolver as últimas questões trabalhistas. De acordo com Dinepi, não ficará nenhuma pendência. “Será o primeiro jornal do país que encerra suas atividades sem dívidas com os funcionários".

Manifestações
Amanhã (17/11) os profissionais do Monitor e representantes da Associação de Imprensa Campista (AIC) irão realizar um ato público contra o fechamento do jornal. “Queremos saber o que a empresa fará daqui pra frente, o que podemos fazer e pedir o adiamento da Assembleia com os acionistas, marcada para o dia 23/11”, disse Vitor Menezes, vice-presidente da AIC.

Segundo Ricardo Vasconcelos, editor do Monitor Campista, a última notícia era de que a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, confirmou uma reunião com Maurício Dinepi. O encontro deve acontecer nesta terça-feira às 16h, para discutir os possíveis rumos do jornal.

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