Já escrevi para a última edição de um jornal uma vez. Mas nunca o fiz para algum que tivesse 175 anos e a importância deste Monitor Campista. É um privilégio às avessas e simplesmente não sei como fazê-lo. Até porque não quero acreditar que esta realmente seja a sua derradeira aparição pública. Isto em muito se assemelha à negação da morte de um parente muito querido, naquele momento em que “não cai a ficha”, e você se protege para não enfrentar a insustentável dor da perda.
Não é possível tratar com distanciamento. Mas também é temerário entregar-se de modo passional a um texto que circulará em nebulosa situação de indefinição em relação ao futuro deste jornal — sim, futuro, ainda creio em seu futuro.
Tanto quanto me é possível, registro apenas que esta suspensão na circulação que se faz hoje é absolutamente injustificável. E que o fim do jornal seria não apenas desnecessário, mas criminoso. E isso não no sentido figurado, mas naquele preconizado pelo Código Penal mesmo.
Que a história saiba que este jornal não morreu em razão de suas supostas deficiências financeiras – que, a rigor, não existem. Ele está sendo assassinado. É um caso de homicídio que precisa ser investigado e ter seus responsáveis punidos. Ao que tudo indica, o colocaram em uma não esclarecida cesta de acordos comerciais, como se produto qualquer o fosse, e desprezaram a sua importância para o Brasil e para o Norte Fluminense.
Desdenharam a opinião pública campista e até mesmo a dor dos próprios funcionários do jornal, com a completa ausência de informações sobre a situação da publicação e a razão para este momento triste pelo qual passamos.
E, ao contrário de contribuir para mantê-lo, significativos setores das elites políticas e econômicas locais se mostram mancomunados com um ardil de tal vilania que sequer têm coragem para expô-lo publicamente.
Muito provavelmente foi este o motivo por não terem comparecido no ato público na última sexta-feira, quando leitores e representantes de várias instituições vieram abraçar simbolicamente o jornal, em uma manifestação histórica em frente à sua sede. Como iriam explicar publicamente o que tramam?
Despedir-se em um dia como hoje, em que se lembra a passagem de 120 anos da Proclamação da República — fato, inclusive, coberto por este jornal —, parece uma ironia diante da constatação de que assuntos como a sobrevivência de um patrimônio como este ainda não sejam tratados de modo republicano e transparente.
Se o Monitor não voltar, hipótese que não aceito, que a história saiba ao menos identificar seus assassinos. Mas, como acredito na força deste jornal, que já superou outros momentos de suspensão de circulação, prefiro me despedir com um “até breve”.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
2 comentários:
Até breve Monitor. Continuemos na luta.
Mas um sinal inequívoco de que as coisas nessa cidade incrivelmente andam pra trás!! Eta cidadezinha...
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