Escrevi algumas vezes que acredito no fim dos jornais impressos. Cada vez estou mais convicto disso. E agora me vejo em campanha na defesa da volta de um deles às bancas, o Monitor Campista, que encerrou suas atividades no domingo passado, dia 15, após 175 anos de uma existência que o colocou no posto de terceiro mais antigo do Brasil.
É que penso na volta do Monitor e na sua sobrevida não pela sua viabilidade como jornal impresso, mas na sua validade como patrimônio cultural. Somente este caminho, para mim, o legitimaria.
Se, como disse Alberto Dines, o papel do jornal é se fazer necessário, a necessidade do Monitor está em estabelecer para Campos uma liga de pertencimento simbólico de quase dois séculos. É um lastro que uma comunidade não dispensa com facilidade – daí a comoção em torno do fechamento do jornal, mesmo que manifestado por muitas pessoas que nem mais o liam.
Por isso tenho insistido na idéia de criar a Fundação Monitor Campista. Na minha concepção, daqui a 50 anos, por exemplo, a versão impressa do Monitor seria apenas um dos produtos de uma instituição que terá como principal missão a preservação da memória jornalística da cidade.
A circulação impressa será uma espécie de luxo a que se permitirão alguns assinantes e leitores de banca (ainda existirão?) que decidiram preservar este modo de produção jornalística e, sobretudo, esta marca cronológica de longevidade. Seria como se uma empresa centenária de transportes, que passou por várias gerações tecnológicas e hoje possui modernos ônibus e até aviões, tivesse decidido conservar em operação alguns dos seus bondes – somente por apelo histórico e turístico, como em Santa Tereza.
Como veículo jornalístico de relevância no presente, só considero o Monitor crível se ele for reinventado na internet. Para isso terá que encontrar uma receita que nenhum jornal encontrou até agora (basta dizer que, na busca de um norte, o The Guardian contratou blogueiros para fazer a cobertura local). A lógica engessada dos que se habituaram a ser verticalizados emissores não anda casando com o espírito horizontal da internet. Mesmo com as tentativas desesperadas de alguns.
Estou confiante de que o Monitor Campista voltará às bancas. Isso é necessário para que ele retome de onde parou, não deixando órfãos os seus leitores ainda apegados ao impresso. Mas isso não será suficiente para que ele dure por mais décadas e décadas. Ele precisará ser mais defendido, mais relacionado simbolicamente entre os poucos elementos que ainda nos dão orgulho, mais útil não apenas como jornal, mas como um dos pilares da nossa identidade de moradores de uma mesma cidade.
Nenhum outro veículo de comunicação tem condições, hoje, em Campos, de exercer este papel. Como se vulgarizaram na mera sobrevivência comercial ou na arte de tirar proveito da política menor, não podem ser alçados a uma função subjetiva tão nobre quanto a de ser um elemento de nossa cultura, ou um nosso porta voz além de partidos e disputas pontuais. Não oferecem grandeza para atravessar os tempos. Não têm densidade. Não mais se diferenciam de um negócio qualquer.
Com o Monitor pode ser diferente. E creio que será.
domingo, novembro 22, 2009
Monitor pode sobreviver ao fim dos jornais
Postado por Vitor Menezes às 10:00 Marcadores: Gaveta do Povo, monitor campista
4 comentários:
Caro Vitor
Parabenizo você pela clareza e sensibilidade expressa neste texto sobre o Monitor Campista. Sem dúvida ele permanecerá através dos tempos, contando uma História que outros veículos impressos não seriam capazes de produzir, porque escolheram capitular diante do forte apêlo comercial, descolados do compromisso com o povo de campos. VIVA MONITOR!
Ótima idéia! espero que a proposta se torne realidade
Essa falta de postagem do Urgente realmente está me incomodando. E isso faz com que pensemos algo muito próximo do ocorrido com o Monitor. Um dos jornais mais antigos do país acabar, seja porque não vendia mais tanto quanto deveria, ou pela pilantragem dos outros grupos de jornais, faz com que paremos e refletimos um pouco sobre tudo isso. Enxergo claramente a importâcia de se manter vivo o jornal como forma de se preservar a memória, mas confesso também que não lia o Monitor, não assinava e nem pretendia fazê-lo. Minha fonte de leitura sobre notícias de Campos, no momento, são os blogs. Talvez o Monitor, assim como outros jornais, tenham que se reiventar na internet mesmo. Se os outros dois jornais de Campos também acabarem amanhã, não me fará nenhuma falta. Agora, o Urgente não pode levar mais tanto tempo assim para nos atualizar! Imagina se os outros blogs "pararem" também? A rede blog tem mais é que crescer, multiplicar-se. O Monitor pode deixar saudades, os outros dois jornais não deixarão nenhuma, mas os blogs deixariam muito mais.
rs, ok agitador. Também acho. Mas o tempo, esse maldito tempo, nos é tomado por compromissos nem sempre tão estimulantes quanto o blog. Além disso, tive que concentrar meu percentual diário de blogagem no blog da campanha viva monitor. Mas a vantagem dos blogs é essa, enquanto um recua, dez avançam... Abração!
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