Há gente que experimentou ter mobilidade social como fruto do seu trabalho, do seu talento ou da sua aptidão para o mundo dos negócios. Parte disso se relaciona com a considerável estabilidade econômica do país. Previsibilidade, segurança nos investimentos, crédito disponível (ainda que a juros altos), elevação na renda e aumento no número de empregos formais. Esse é o cenário que tem permitido algum enriquecimento para boa parte da classe média, além da ascensão a este patamar econômico de grande parcela anteriormente caracterizada como pobre. Tudo isso, claro, apesar dos muitos pesares.
Pode ser então que tenhamos aí uma parte da gênese dos tais novos ricos brasileiros e, conseqüentemente, de alguns campistas.
Mas não parece ser deste novo rico que trata a Rede Blog de hoje. O que alarma aqui é novo rico que virou sinônimo de escárnio. É aquele que estaciona a sua impunidade com duas rodas sobre a calçada, ou pára na faixa principal da pista, liga o pisca-alerta e aguarda o filho sair pelo portão da escola particular especializada em inclusão na coluna social.
O problema, portanto, não é ser rico. O problema é ser rico à custa do saque que tem retirado uma oportunidade de vida melhor para milhares de pessoas desta e de futuras gerações. É ser rico feito um neo-pirata que festeja enquanto promove a divisão do butim, e encoraja-se a seguir saqueando, reorganizar a quadrilha para superar eventuais revezes, e acreditar que tudo isso valerá a pena, por que o mundo não é feito para os medíocres, mas para quem tem coragem para aceitar as coisas como são e deixar de lado preceitos morais bobocas.
Vivendo aqui, procuro separar o que é preconceito de classe — que trago da minha adolescência marxista —, ojeriza católica ao capitalismo — idem —, do que é apenas uma indignação contra a bandidagem institucionalizada, que produz ramificações profundas também nos menos endinheirados.
Por isso não devoto menos asco ao empreiteiro corrupto do que ao pedófilo flagrado por uma dessas câmeras de noticiário sensacionalista. São bandidos que incorrem em crimes diferentes, mas têm em comum a prioridade absoluta que atribuem a um “eu” gigante, capaz de se sobrepor a qualquer outro direito individual ou coletivo. Atitude muito parecida, inclusive, com a que é fomentada por escolas que ensinam os filhos destes novos ricos a ser superiores em tudo, a não ver limites para os seus desejos, e a conhecer apenas a lógica da competição.
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