Sempre acreditei que essa história de dizer que quem manda em gestões de Rosinha Garotinho é o marido, tanto no Estado quanto em Campos, é puro preconceito. Sempre desconfiei até mesmo do contrário: de que é ela quem manda nele. A inversão, aqui, tem o efeito anedótico que dá bem a dimensão da relevância do tema: nenhuma.
Política é algo feito em grupo, do contrário não seria política. Quando elegemos alguém a escolha na verdade recai sobre um determinado agrupamento. Se você não gosta do Garotinho, não deveria mesmo ter votado na Rosinha. Não adianta bancar o surpreendido com todo o peso que o político tem na administração da esposa e, o que importa para o caso, aliada política.
Mais importante do que saber quem manda é constatar que os dois, ou sejam lá quantos forem, mandam mal. A cidade continua melancolicamente à espera de um governo, mesmo após sete meses de uma gestão. Não surpreendem a falta de ideias e de intervenções robustas para melhorar o município, mas não é incrível que nem mesmo o tradicional marketing de maquiagem, típico dos Garotinho, tenha dado às caras?
Das ações de grande impacto, até agora, somente a passagem a R$ 1, iniciativa de cunho social relevante, embora discutível em seus custos, procedimentos e conseqüências. O mais importante, no entanto, que é a resolução do crônico problema do transporte público, continua intocado.
Tudo leva a crer que a estratégia é encher o caixa para gastar depois. Nos bastidores da Prefeitura todos sabem que não há um só gasto do município que não tenha que ser comunicado ao Garotinho chefe. E todos sabemos no que ele pensa fixamente — o que pode nos dar pistas sobre onde o nosso dinheiro será empregado.
O pior é constatar que continuamos sem alternativas a este descalabro. A mais animadora notícia que tive recentemente sobre algum suspiro de cidadania neste município veio do movimento por controle social das contas públicas, iniciativa em gestação numa daquelas incubadoras da Uenf.
Câmara de Vereadores, partidos, entidades, imprensa, blogs e eleitores em geral continuamos atuando na superfície, entre inertes e levemente incomodados, mas não passamos disso. Quando muito, podemos contar com as limitadas possibilidades de atuação do Ministério Público e da Polícia Federal, dependência que apenas confirma a nossa inapetência, já que pode-se constatar que há algo errado com uma sociedade que precisa da justiça e da polícia para fazer política.
Enquanto isso, sigamos entretidos pela falsa polêmica sobre quem manda neste desgoverno.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, agosto 02, 2009
Quem manda neste desgoverno?
Postado por Vitor Menezes às 10:15 Marcadores: campos, Gaveta do Povo, prefeitura de campos
6 comentários:
Parabéns Vitor! Conseguiu tirar-nos a máscara e expressar realmente o que falta no município: Sociedade Forte e Vigilante, como éramos num passado muito distante.
Caro Vitor,
Recentemente enviei um email para o blog do herval junior colocando a necessidade dos blogs defenderem questões concretas.
já mostramos a força para levantar questões e debater sobre elas. Nossa força já está comprovada, vide a merenda escolar que todos os blogs encaparam o tema e daí saiu um ação.
O que me parece agora é que devemos encampar uma ação concreta, seja ela política ou social.
Então sugiro que comecemos pela inércia do governo municipal, pois é ele o grande empregador(infelizmente, é a realidade local)
Não seria os blogs a terceira via, tão buscada e propagada, tal como os cara-pintadas, guardada as proporções.
Não gostaria e não quero me sentir tão impotente diante do que vejo acontecer em nossa cidade.
Por isso, minha sugestão é que façamos algo concreto,sério e que possa traduzir nossa força e conhecimento.
Também quero deixar claro que não sou política ou algo parecido, mas uma cidadã que percebe o que acontece aqui e que sonha com os pés no chão.
Espero seu contato pelo email:candocagoytaca@gmail.com
Um abraço
Candoca
Excelente texto, VM. Faço-lhe vênias!
Quem deveria mandar, seria o Povo, já que, segundo diz nossa Constituição, o poder dele emana e em nome dele deve ser exercido.
Isso é belo, é poético, mas, na nossa cidade, não passa de palavras sem o devido recheio.
Vemos uma sociedade inerte, assistindo um governo mais inerte ainda. E há quem ache que tudo está indo as mil maravilhas, quando não está.
Licitações milionárias, conduzindo o poder para empresas privadas, transporte público caótico, rede de saúde entregue às baratas, a educação indo de mau a pior.
O artigo de Vitor disse tudo que era para ser dito, não podemos cair na armadilha barata de se discutir quem verdadeiramente manda na prefeitura, isso é para lá de óbvio, o grupo político que tomou o poder tem um líder, com um projeto político claro e evidente e vai usar de todos os meios para atingí-lo, custe o que custar.
O que interessa mesmo é que a sociedade se mobilize e cobre do poder público as ações que sirvam para beneficiá-la, pois para isso, esse grupo foi eleito. Foi eleito para exercer o poder em benefício do Povo, nada além disso.
Gente vcs estão reclamando de quê? Não foram vcs que trouxeram esse casal de volta? Esses dias ouvir uma professora reclamar numa rádio local que não estava recebendo um dinheiro que eles têm direito, ora, na hora de votar os professores se esqueceram do gás de pimenta que levaram e levantaram bandeira para eleger dona rosinha, agora estão reclamando... É uma pena que muita gente que não votou nela e olha que foi muita gente, porque sabemos como ela conseguiu ganhar, tenham que aturar esse governo mais uma vez, mas quem eu sei que votou eu dou meus pêsames pela triste escolha.
Caro VÍTOR
O seu artigo revela a necessidade de reflexão franca por toda a sociedade campista. Você foi extremamente preciso em suas palavras. É isso aí, devemos estabeler um debate sobre os meios para superar toda esta estagnação.
Saudações.
Graciete Santana
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