quinta-feira, agosto 06, 2009

No tempo em que se lia Zé Cândido no jornal

Foto: Arquivo do Monitor Campista
Na década de 70, o escritor José Cândido de Carvalho publicava no Monitor Campista a coluna “Sempre aos domingos”, com pequenas histórias. Ontem, o caderno Mais Cultura, do jornal, para marcar a passagem do dia em que Carvalho completaria 95 anos — ele, que pegou caminho indicativo para o Céu de modo a manter encontramento com o coronel Ponciano em 1989 — publicou matéria de Carla Cardoso dando conta de que um livro de inéditos vem por aí.

O Monitor reproduziu imagem de uma das colunas de José Cândido, e uma das duas historinhas que tem nela é a que segue:


Água mineral não combina com feitiço

E Argemirando Viana, depois de pular de doutor em doutor, fez descer sua doença na mão do curandeiro Nonô Saquarema. Nonô, que trabalhava com fumaça de charuto, passou para Argemirando essa receita:

— Bote numa garrafa de cachaça da marca Chora no Barranco, cinco colheres de pólvora, duas pedras de enxofre, meia caixa de fósforos, treze pelos de rabo de macaco, duas penas de urubu novo, quatro unhas de coruja, uma raiz de agrião, duas pitadas de colorau, meia dúzia de pimenta-de-fogo, dois pauzinhos de canela, cravo do sertão, tucumã de cozinha, teia de aranha de quarto de moça donzela, dois pregos enferrujados, um retrato picadinho de Herodes e um dente de alho bem amassado. Tu enterra por dois dias a beberragem para depois tomar na parte da manhã e na parte da noite.

Por entre a fumaça do charuto o curandeiro ainda avisou:

— Se fumegar é que a garrafa está em ponto de bala.

Argemiro bebeu, inchou e explodiu. O curandeiro, preso em Capão de Piaus, justificou assim a explosão de Argemirando:

— Tinha que arrebentar! Maluco da cabeça! No lugar da medicativa cachaça Chora no Barranco, o sujeito botou essa tal de água mineral, uma desgraça que já salta da garrafa na ponta dos cascos, fazendo borbulha feito panela de pressão!

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