Dia desses li aqui no Monitor que a Prefeitura de Campos planeja uma revitalização do Centro. Para tanto, ouviu as propostas de alguns lojistas da cidade. Provavelmente acha que isso é o suficiente. Se interessa ao comércio, interessa a todos, devem pensar. Como é comum acontecer, não discutiram o assunto com a população e, de uma hora para outra, apresentarão um projeto que será implementado na marra, fruto da mente iluminada de um ou dois arquitetos.
Isso já aconteceu antes. Foi assim com a praça São Salvador. E foi assim até mesmo em outros momentos em que se falou em revitalização do Centro, embora nada tivesse – talvez para nossa sorte – saído do papel.
Dos fragmentos das intenções manifestadas até agora, me chamou a atenção a ideia de alargar algumas ruas do Centro. Embora não tenham pedido a minha opinião, peço que não o façam. Esse crime já foi cometido em Campos, na primeira metade do século XX, e gostaria que ele não se repetisse.
O charme do Centro de Campos, que tem em muito a ver com o jeito meio anárquico e labiríntico das cidades portuguesas, já foi suficientemente atacado pela mentalidade do “progresso” do automóvel. Deixemos isso para a Pelinca e para outras áreas propensas à expansão, como a que envolve o Shopping Estrada. Preservemos o Centro antigo.
Uma vez, em Brasília, ouvi de um taxista que ele gostaria que Lúcio Costa e Niemeyer morassem na cidade. “Eles fizeram e se mandaram. Nós é que sofremos aqui”, disse. E justamente um motorista profissional, que lucra com as distâncias antissociais daquela arquitetura bonita de ver e com a qual é terrível de conviver.
No caderno Mais, da Folha, no último dia 2, o urbanista norte-americano Marshall Berman comenta algo semelhante em relação à capital brasileira. “Quando ouvi falar pela primeira vez na cidade, pareceu-me que havia grande coisa lá. Mas os moradores viram que era um desastre levar a vida em uma cidade cujos segmentos não interagem”, comentou, para adiante acrescentar: “Em Brasília, Niemeyer não queria funis aonde todos confluíssem. É importante ver o que isso tem de antidemocrático”.
Não espero muito de uma prefeita que, quando governadora, plantou aquele monumento de concreto à feiúra, a tal ponte que leva seu nome e cobre o Obelisco da avenida XV de Novembro. Mas peço encarecidamente: não pense nos automóveis quando “revitalizar” o Centro antigo. Pense nas pessoas e na história do município. E não dê ouvido somente aos comerciantes, que apenas querem clientes que possam estacionar seus carros em fila dupla às suas portas.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, agosto 09, 2009
Por favor, não alarguem as ruas do Centro
Postado por Vitor Menezes às 10:19 Marcadores: campos, Gaveta do Povo, patrimônio histórico, prefeitura de campos
7 comentários:
Esse é um "crime" que os governantes objetivistas e q visam o imediatismo tem praticado p tds os cantos.
Na nossa santa terrinha, Miracema, q conseguiu preservar um pouco mais de seu centro histórico no noroeste, os políticos fazem uma bandalheira pq querem o asfalto e enganam o povo com conversas vis na rádio comunitária, acusando as pessoas de terem conseguido tombar o centro histórico tb pelo estado.
òtimo texto, Vítor!
infelizmente os governantes brasileiros sempre pensam nos motorizados, afinal, os motores representam o "progresso" mesmo que pra isso toda cultura de uma região tenha que ser extinta.
essa idéia de "progresso" junto com o descaso em preservar a história que mata o centro de Campos.
além disso essa centralização do "progresso", o comércio influente todo num só lugar gera uma grande desigualdade, já que os imóveis das regiões centrais são supervalorizados. se o comércio buscasse se espalhar pelos bairros, certamente a cidade poderia crescer mais e reduzir o caos no trânsito. pelo menos essa é a minha opinião.
A cada dia que passa, mais me entristece e aborrece morar em Campos. Uma cidade que tem um potencial econômico incrível e que não faz juz a isso. É uma cidade de pessoas de mente atrasada, de pessoas egoístas e de políticos interessados apenas em fazer a sua imagem e encher seus bolsos. Campos tem uma arquitetura eclética incrível (ficando atrás apenas do Rio), e o que vemos são esses prédios se acabando no tempo. Preferem dar uma falsa aparência "progressista" pra cidade, fazendo obras como essa. O centro vai perder o seu charme. Campos vive sofrendo com isso, basta olharmos fotos antigas da cidade. O centro era lindo. Aqui, não se dá valor à história e à cultura e sim a decisões individualistas de cada governante. Cada um faz o que quer, passando por cima da história da cidade. Lamentável. Fico imaginando Campos daqui a uns 15, 20 anos. Se hoje, as pessoas não conhecem a história do lugar em que vivem, imaginem com o passar desse tempo.
Caro Vitor,
Seu artigo está primoroso e vem de encontro ao meu pensamento e (por certo) de outros tantos leitores.
A beleza de qualquer centro de qualquer cidade é justamente o retrato de uma época e que o tempo se incumbe de preservar.Se necessário(é claro!) restaurar fachadas,prédios,...Além do mais caminhando por estas ruas e que surgem meus personagens prediletos que retrato em minhas crônicas.
Abraço fraterno,
Walnize Carvalho
Meu Deus, a cada dia penso no crime que representou para nosso município a eleição desse grupo político que aí está. Cada dia um pedacinho dessa cidade é jogado no lixo.
Sou fascinada pelo desenho das ruas do centro e os comerciantes deveriam pensar que o que faz com que o comércio de rua sobreviva é justamente o fluxo de pessoas (a pé) pelas ruas estreitas e antigas do Centro. As ruas largas e movimentadas favorecem o movimento dos shoppings na Pelinca. Parem para pensar na história dessa cidade e nos próprios negócios de família que sobrevivem nas centenárias ruas centrais.
Os arquitetos, Lúcio Costa, Orcar Niemeyer os comerciante não sabem nada só o grande bloqueiro acha que sabe tudo...
Deveriam limitar bastante o acesso de veículos No centro(só o necessário)
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