Menina Clarissa Matheus recebeu o diploma de vereadora do município do Rio de Janeiro na última quinta-feira. Estavam lá repórteres do Brasil inteiro e ela - que provavelmente nem sabe disso - foi a primeira e única a entrar pela porta da frente a falar com a imprensa - por mais incrível que possa parecer. Mas antes, claro, falaram seus progenitores: Pai Anthony, após certa insistência, falou sobre disputas no partido e sobre os bens bloqueados na Justiça; em seguida falou Dona Rosa sobre as enchentes de Campos e - sem ninguém ter perguntado, e sem ninguém entender a importância do assunto - sobre os shows de verão do Farol de São Thomé. (Em tempo: 90% dos jornalistas - exceção apenas de mim e de um coleguinha da Folha de São Paulo que, por desventuras do destino, passou a infância naquele paraíso de casuarinas e mar revolto chamado Farol de São Thomé - só compreenderam depois de explicarmos qual era a importância da declaração da ex-governadora diante do novo desafio de ser a xerife de Campos. Enfim.)
Fato é que, após honrosas declarações, menina Clarissa se dispôs a falar sobre seu primeiro mandato. Garotinhos acompanhavam a primeira entrevista oficial com um olhar atento e um pouco tenso. Clarissa degustava cada palavra (até com grande propriedade) enquanto eu, meio sem querer, mantive meu olhar nos ex-governadores, que por sua vez olhavam fixamente para a boca da filha, como se lá houvesse as linhas de um ventríloco. A primeira pergunta respondida sob aquele mutirão de repórteres foi:
- Você vai seguir projetos dos seus pais? Já tem uma perspectiva definida sobre sua atuação na câmara, deve ficar com a direita, a esquerda, ou vai se manter independente?
A resposta, claro, não fugiu do padrão que exigia a ocasião:
- O prefeito foi eleito com a maioria de votos, o que for bom para a população e tal e aí vai e vamos que vamos.
Não tinha como fugir: ela era uma das estrelas do dia, ao lado de Carminha Jerominho e Cristiano Girão, principais expoentes da bancada miliciana da nova Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
A diplomação se deu do jeito de sempre: por 51 vezes todos bateram palmas, trocaram beijos e tapinhas nas costas. Em seu momento, Clarissa Barros Assed Matheus de Oliveira, de meros 26 anos, recebeu seu diploma no altar do povo, estendeu aos seus pais, depois aos céus, e então trocou os cumprimentos de praxe.
Em sua primeira entrevista oficial, aquela, na porta da Câmara, Clarissa honerou referências padrões, sem definir exatamente sua posição. O prefeito, eleito, claro, merecia consideração, afinal, mas tudo depende da conjuntura do que for discutido, como deve ser numa democracia, como não? Mas, após a resposta, um repórter insistiu:
- Então você vai ser independente?
- Foi o que eu acabei de dizer - respondeu a vereadora, sucinta, sem reticências, enquanto seus pais, logo atrás, inclinavam a cabeça, com um leve consentimento, esboçando um sorriso maroto. Linda, maravilhosa, no ponto. Uma gata. Morre fácil, com todo o respeito à vossa excelência.
- Na época da greve de fome de Garotinho ela era muito melhor - comentou o coleguinha do Farol. - Agora está embarangando, parecendo a Rosinha. Já tem até uma verruga nascendo no canto do queixo.
Exagero danado. Esse povo da imprensa é muito maldoso, pensei depois, relembrando, enquanto via a vereadora recém-diplomada dar entrevista ao Diário de São Paulo, CBN, Tupi, Globo Online e quetais. Ela dizia:
- Estou muito feliz! Acho que sou a primeira campista a ser vereadora do Rio! Ando nas ruas e quando vejo alguma coisa errada tenho logo vontade de fazer um projeto! Na hora reúno minha equipe para escrevermos o projeto e apresentarmos assim que for possível! É um entusiasmo muito grande!
"Já tenho 26 projetos prontos, 26 como os meus anos!", ela disse, inocente, perfeita, linda, mesmo carregada de maquiagem. Vinte e seis, prontinhos. Benditos projetos, excelência. Reclamar dos padrinhos políticos nem seria um pecado assim tão grande.
sábado, dezembro 20, 2008
Coluna social urgente!
Postado por Sáles às 04:03
10 comentários:
É UMA PENA QUE UM BLOG DESTA CATEGORIA QUE TEM PRESTADO SERVIÇO RELEVANTE,VISTO QUE NOSSA IMPRENSA TRADICIONAL TEM DEIXADO GRANDE LACUNA EM NOS INFORMAR CORRETAMENTE ,SE PRESTE A UM PAPEL RÍDICULO DESTE,COM COMENTÁRIOS MALICIOSOS,FORA DO CONTEXTO PELO QUAL ESTAMOS PASSANDO, DE PÉSSIMO GOSTO, PRECONCEITUOSO,DISCRIMINATÓRIO COM JOVENS DO SEXO FEMININO. ESTOU ABISMADO COM O BAIXO NÍVEL APRESENTADO PELO AUTOR DESTA POSTAGEM,QUE NÃO NOS ACRESCENTA NADA, SOMENTE REPÚDIO E INDIGNAÇÃO.
MUITO BOM!!!
Fantástico como você cobriu uma - sempre chata - diplomação com gosto, diversão, além do chato e tradicional jornalismo...
E, mais, você se posicionou, isso é bom, porque jornalista tem o péssimo hábito de se esconder atrás do mito da imparcialidade. como se isso fosse possível...
muito bom
Adorei o texto.Bem equilibrado. Falou de forma divertida sobre a diplomação. Além disso colocou a opinião de maneira correta já que foi escrito para um blog.
E o melhor de tudo é que tive o prazer de ler, mais uma vez, o texto de um colega queridíssimo de faculdade, muito inteligente por sinal.Parabéns Sáles.Kamilla Coutinho.
Sensacional, seu Sáles. Arrebentou!
Quando eu era criança amava ver jornalista. Queria ser jornalista, ser repórter, queria ser diplomata... Mas como só tirava nota baixíssima no Liceu do ano 70 desisti da façanha...
Hoje, quando vejo este tipo de reportagem... este tipo de texto. Fico me perguntando: Por que um palavreiro precisa usar de tantos sarcasmos, ironias, palavras vãs, quase amaldiçoando... quase querendo ver tudo dar errado. Será que queremos um Brasil melhor mesmo? Ou queremos ver políticos fazendo tudo errado para termos palavreados que incitem "contras"... Será que jornalistas e repórteres querem mesmo que a coisa dê certo. Ou querem que a coisa dê errado, para terem do que falar usando de palavras esquerdistas, niilitas, etc... mas sem verdades.
Até do físico, até do trejeito... Meu Deus... onde vai parar o Brasil ... Só DEus sabe, pois a maldade e corrupção está em todas as áreas. O que seria corromper... o que seria corrupção no jornalismo???? Esta palavra está tão encarnada, que ela vem no inconsciente coletivo.
Os jornalistas palavreiros cheios de verdade e boniteza com seriedade, poderiam ser um veículo de desmancha corrupção... Mas
Se nem sempre a corrupção está ali, diante do jornalista, está dentro de suas palavras , trejeitos, pensamentos, e até dentro daquilo que não diz... mas que quer deixar no inconciente dos leitores...
Clarissa, minha filha... vc é muito corajosa... O mundo é mal.
SE vc fosse filha deste comentarista... ele veria tudo com outros olhos... falaria tudo com outras palavras, e amava com o coração.
E olha... é deste tipo que o mundo gosta... é deste tipo de texto...
E agora vendo os comentários, posso perguntar: Se fosse sua filha, Vitor menezes? Fala a verdade?
Ao anônimo nem vou perguntar. Vou afirmar:
Bem equilibrado: de um lado não compromisso com a verdade, e de outro malicia sem misericórdia.
Amar um texto porque é de seu amigo e porque é de uma pessoa inteligente... vejo algo meio desequilibrado aí... para um blog.
Outra: Que coisa mais de partidária!!!! Parece mais uma bronca mesmo. Um desabafo jocoso... meio cheio de veneno...Que pena.
Se fosse algo de humor com mais delicadeza seria mais inteligente...
Mas não posso descartar a inteligencia do Sáles. Ele escreve muito bem... faz um jogo de frases bem criativo.. pena que usa as pessoas...e deixa um gosto de sadismo no ar. Que pena.
Sáles demonstra sua competência, capacidade e inteligência sempre que usa da palavra escrita. É um jornalista de mão cheia e um escritor de talento, embora alguns comentaristas que mal sabem escrever e que sequer são capazes de interpretar um texto com tal excelência venham aqui dar opiniões contrárias.
Sáles, estou orgulhoso.
Abração.
Pelo menos agora teremos um bom motivo pra ir à Câmara de vereadores do Rio.
Isso se a vossa excelência 'vinte e seis aninhos' frequentar o planário, claro...
Jumentinha corrigindo o texto:
Hoje, quando vejo este tipo de reportagem... este tipo de texto,fico me perguntando: Por que um palavreiro precisa usar de tantos sarcasmos, ironias, palavras vãs, quase amaldiçoando... quase querendo ver tudo dar errado?
Tem mais erros em meu texto. Não sou jornalista. Não consegui ser diplomata.
Sou jumentinha que quer ver o mundo mais bonito, e menos cruel.
Quanto ao Sáles, sem dúvida: Muito inteligente, muito competente, muito bom escrevente.
Eu? Tadinha de mim! Quem sou eu para escrever neste blog, não?
Mal sei escrever e mal sei interpretar textos.
Realmente tenho muita dificuldade em interpretar textos, meu negócio é interpretar contextos com pretextos.
Textos não são mesmo meu forte.
Sou uma jumetinha...
Sabe, li de novo o texto do Sális... Li devagar... li com o meu coração mais aberto. E pensando bem teve mais elogios indiretos que maldades.
Pensando bem... ele até pareceu apaixonado...
Acho que quem foi cruel fui eu.
Perdoa eu Sális. Li seu texto com mais amor e com mais humor.
Como diz a galera jovem: Foi mal... perdoa aí.
Postar um comentário