Como jornalista, me interesso bastante pelo tema que foi sugerido para hoje na Rede Blog, embora discorde do seu enunciado. Em "A falta de uma imprensa decente em Campos e a 'obrigação' dos blogs em passar uma informação ágil e com credibilidade" há praticamente uma sentença que, na minha opinião, é frágil em alguns aspectos.
O primeiro deles é a generalização. É claro que Campos poderia ter uma imprensa muito melhor. Assim como a cidade poderia ser melhor em muitos outros setores. O problema é que imprensa não vem de Marte. Ela é parte de um contexto social e histórico e está submetida às mesmas leis de parcialidade, precariedade e jogo de interesses existentes até mesmo em outras instituições aparentemente mais nobres, como a religião e a ciência.
Isso não significa que devemos nos contentar com o que temos. Até porque informação com qualidade é um direito da cidadania, um pressuposto da democracia. Assim como a população deve exigir água tratada na torneira, fornecimento de energia sem interrupção, jornalismo sério é um serviço que deve ser constantemente reivindicado.
Há algum esforço para que isso aconteça em Campos, apesar dos pesares. O problema é que esses tais “pesares” ofuscam este esforço. Trabalhando na imprensa, conheci gente séria e disposta a fazer jornalismo bem feito, mas o resultado, no atacado, não dá muita visibilidade a estas exceções.
Há graves carências na imprensa das cidades médias e pequenas. Há problemas na precisão da informação, no enfoque provinciano, na acentuada interferência das idiossincrasias dos “donos”, no comportamento antiético, na extrema proximidade com as fontes. Quase sempre isso se relaciona com a precariedade de leitores e de recursos, o que, não raramente, leva empresas jornalísticas a saltarem do mundo dos bons negócios para o submundo dos negócios escusos.
Os blogs
Outro aspecto a relativizar no enunciado é a “obrigação” dos blogs, apropriadamente já sugerido com aspas. Como são expressões individuais, os blogs não têm “obrigação” alguma. Cada blog pode ser o que quiser, e terá o leitor que se identificar com a opção feita. Ou, dito de outro modo, cada blog decide qual é a sua “obrigação”.
No caso específico de blogs com pretensão jornalística, é preciso considerar que boa parte dos problemas que dizem haver na imprensa, os há também neles próprios. Umbiguismo, exibicionismo, falta de precisão, guerra de torcidas, interesses não confessos, sensacionalismo, falta de profissionalismo e, não se enganem, se um dia eles se tornarem iniciativas lucrativas, também estarão expostos às mesmas tentações de picaretagem.
Sou um entusiasta dos blogs — do contrário não estaria aqui no urgente! há mais de cinco anos. E acho que o que faz bem para eles é o mesmo que faz bem para a imprensa: a pluralidade. Os males de um e de outro só se amenizam com muitas vozes, e nisso os blogs têm particular vantagem em razão do custo praticamente zero para ser suporte da expressão individual ou de um pequeno grupo, antes praticamente inviável.
Muitos blogs têm prestado bons serviços, inclusive contribuindo na pauta da imprensa tradicional. Mas isso não significa que possam substituí-la. Há uma dose muito excessiva de voluntarismo e amadorismo nos blogs. Ao mesmo tempo que isso é seu encanto e o seu vigor, há também nisso uma limitação intrínseca.
Em se tratando de jornalismo, os blogs podem muito, mas não podem tudo. Se é para nos preocupar com credibilidade, comecemos por reconhecer isso.
6 comentários:
A "rede blog", pelo visto, prega a censura de comentários que não se coadunem com o comando. Deprimente.
?
Peço desculpas pelo comentário acima, uma vez que pensei ter o meu outro post, anteriormente escrito e já publicado (abaixo), censurado pelo blogueiro.
Vejo blogs que de tão democráticos nos comentários, demonstram o baixo nível do debate. E isso constatamos na invasão de anônimos que baixam totalmente o nível de qualquer debate proposto.
Não se pode apenas culpar a imprensa. Nem generalizar. O 'Monitor Campista por exemplo tem se mostrado independente em várias situações. É o melhor jornal da cidade há tempos!!! Só não vê quem não quer. Até pq é mais importante e dá mais status sair nas colunas socias antigas e jovens de outros periódicos locais.
E o que dizer de programas radiofônicos que escancaram nas propaganadas oficiais??? Fiquem De olho nesta cidade!!!
EStou como anônima,pois não sei colocar para meu nome aparecer, mas meu nome é Silvia, sou professora do Estado há 22 anos, moro no IPS e sou mais uma campista triste com a realidade que bate à minha porta.
Não vejo lá essa independência do Monitor, um jornal que pode a cidade estar pegando fogo que não denuncia nada, não quer ficar contra ninguém porque é Diário Oficial e não quer perder o privilégio.
Porque "imprensa decente"? O jornalista Vitor deveria se informar melhor sobre a história da imprensa brasileira. Ele acha que só existe imprensa indecente em Campos? Será que o professor ignora as práticas das Organizações Globo, contrárias às eleições diretas, que promoveu as fraudes do escandalo Proconsult e que editou o debate do Lula com o Collor, em 1989? A Ultima Hora, de Samuel Wainer, nos anos 50, era um jornal isento, como deve pautar a conceituação do "exigente" jornalista? Essa história de jornalismo isento num país subdesenvolvido, onde poucos tem acesso a informação é hipocrisia. Quem compra o produto-jornal é uma elite a que o jornal serve enquanto empresa que trabalha segundo os interesses dessa mesma classe média à qual deve pertencer o jornalista. Nos EUA, jornais assumem as suas posições, através de editoriais e matérias de forma aberta. O Diário defende os projetos e idéias do Garotinho. Da mesma forma que a Folha sempre foi o jornal dos ricos e das oligarquias politicas economicas de Campos. Cabe a quem tiver simpatia por uma dessas duas linhas que vá a banca e adquira o produto final, ora.
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