domingo, outubro 19, 2008

O mercado eleitoral

Chegou a um ponto em que compra de votos faz lembrar jogo de bicho. É proibido, mas todo mundo sabe onde apostar, inclusive o policial que protege a banca. Tolerado como parte do cotidiano, a população nem mais vê o crime como crime, mas como uma oportunidade de reter ao menos uma pequena parte do gigante bolo que desaparece nas mãos dos mais espertos e mais poderosos.

Até que vez por outra, como na última sexta-feira, alguém vai preso sob acusação de ter cometido o crime que não parecia mais crime. Incrédulos, muitos pensam no quão rápida deverá ser a soltura. Outros, lembram as centenas de outros casos que não mereceram a devida investigação e punição.

O fato é que bem pouca gente se importa realmente em combater a compra de voto. A Polícia Federal, por exemplo, tem 60 agentes para cobrir toda a região. As demais polícias não se envolvem com isso. E as denúncias anônimas são tantas e sempre tão suspeitas que dificilmente se transformam em provas e prisões.

Cada caso que chega a gerar uma prisão serve apenas de exemplo didático para os demais infratores e um mínimo de satisfação aos que ainda se preocupam com o assunto na sociedade. É como se alguém dissesse: olha, até prova em contrário, essa prática ainda é errada, e você está sujeito a ser preso do mesmo modo, embora isso seja uma espécie de loteria às avessas, ou seja: muito dificilmente você será o sorteado.

Durante a eleição, pelos quatro cantos ouvem-se relatos sobre o leilão dos eleitores. E pelas ruas, uma modalidade de compra indireta e constrangedora se materializa por meio do exército arregimentado para segurar placas nas esquinas.

A propósito, não é ilegítimo que recebam para atuar na divulgação dos candidatos — como o fazem produtoras dos programas de TV, marketeiros, empresas de material de propaganda, assessores de toda ordem. O problema é a sujeição a um trabalho degradante, sem quaisquer direitos, e ainda se sentir grato a ponto de dever ao seu contratante o seu próprio voto e o da sua família, possivelmente para perpetuar a sua própria condição de segurador de placa em uma próxima eleição.

Mas há também votos mais caros. E estes também são disputados e difíceis de comprovar. São pelo menos duas modalidades: os votos dos que compram votos, e os votos dos que dão o dinheiro para fazer a compra. Há muito que esse mercado já está terceirizado, e a disputa por estes “profissionais” é acirrada.

Tornaram-se especialidades valorizadas. Os primeiros são como jagunços de bairro, sujeitos que garantem — e não raramente cumprem — que farão brotar das urnas de determinada localidade uma certa quantidade de votos.

Cobram por isso e fazem a intermediação da operação, embolsando parte do dinheiro que vem do candidato e distribuindo outra parte entre os eleitores. E os segundos são empreiteiros e demais empresários interessados em relações privilegiadas com o poder público. Eles doam para a campanha o que nem sempre aparecerá oficialmente na contabilidade.

No dia da apuração, o resultado de uma mistura de imponderável, traições e comércio bem-sucedido é proclamado oficialmente.

[Publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

3 comentários:

Anônimo disse...

Blogueiros peço a ajuda de vocês se possível. Na localidade de Conselheiro Josino no bairro do barro vermelho existe uma caixa d'agua comunitaria e desde ontem estamos sem água, as pessoas estão dizendo que a pessoa que toma conta da bomba falou que se o seu candidato não ganhar a eleição ira cortar a água de todos e isso é só amostra do que poderá acontecer. Sinto me inojado com tudo isso pois tenho criança pequena e não sei o que fazer. Tem hora Claúdio que fico tão revoltado que dar vontade de virar bandido e pegar numa arma matar todas estas pessoas, sou religioso e sei que Deus não compactua com estas coisas. Se puderes me ajudar fico agradecido. Será que tem algum telefone útil para quem possa ligar?
Um abraço e me ajude por favor...

Anônimo disse...

É Vitor,este esquema é tão antigo quanto usual.E não tem corte ideológico pois hà muito candidato que se arvora defensor do voto livre mas que "compra" pacotes fechados de determinados "jagunços"a título de pagamento de gente para trabalhar,mas que nada mas é que "o velho e bom voto comprado".
E como bem disse você este esquema é tão antigo e naturalizado que quase não me espantei ao saber de um famoso rapaz do IPS com antigos serviços prestados a um ex-vereador que recentemente vendeu pacotes para campanha de um deputado com muita saúde de Niteroi.

Anônimo disse...

Se é público e notório que até as instituições que deveriam "moralizar" aceitem participar de reuniões onde de chofre lhe são oferecidos 2milhões e meio de motivos para fazer vista grossa só pra ela e ser firme com ele...impossível julgar o pobre infeliz do coitado que aproveita o período eleitoral para ganhar algum.
O voto não deve permanecer sendo obrigatório, talvez este seja um dos pontos importantes de uma futura reforma política.

No mais, só a médio e longo prazo.

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