O segundo turno nas eleições foi criado para conferir, por meio de nova votação, mais legitimidade a quem for escolhido pela população. Nas cidades onde há apenas um turno, com menos de 200 mil eleitores, dependendo do número de candidatos e da destinação dos votos, é possível que um prefeito seja escolhido por 20% ou 30% dos votantes, por exemplo, o que cria problemas para a governabilidade se não houver uma aliança estável com os demais concorrentes e uma gestão convincente.
Com novo turno — casos, no estado, de Campos, Petrópolis e Rio —, o eleito assume o governo tendo obtido, ao menos, a confirmação de 50% mais um voto dos eleitores. Chega ao governo, portanto, minimamente referendado para exercer suas atribuições.
No entanto, se conseguir fazer uma leitura mais realista da sua votação — capacidade rara em políticos, que quase sempre superestimam a aprovação popular à sua figura —, o eleito precisa considerar outros indicativos, como a rejeição aos políticos de uma forma geral, ao seu próprio nome de modo específico e, sobretudo, à ausência de alternativa melhor para a escolha dos eleitores.
Isso vale, em Campos, para qualquer um que seja eleito hoje. Tanto Rosinha (PMDB) quanto Arnaldo Vianna (PDT) tem lá o seu eleitorado convicto e cativo, mas é possível notar que boa parte da motivação do voto em um ou em outro está baseada no que popularmente se chama “escolher o menos pior”, o que deveria promover uma séria revisão dos seus métodos.
Na última pesquisa Ibope que verificou a rejeição aos candidatos em Campos (contratada pela Inter TV Planície e registrada na 100ª ZE com o número 365/2008), realizada no final da campanha do primeiro turno, os dois candidatos que restaram para o segundo turno aparecem com índices elevados de eleitores que declararam não votar neles de modo algum. Do total de 602 respondentes nos dias 29 e 30 de setembro, 30% disseram que não votariam em Arnaldo Vianna (PDT) de jeito nenhum, o que ocorreu com 31% em relação à candidata Rosinha (PMDB).
Na estratificação por renda familiar, a rejeição a Vianna variou de 28% (dois a cinco salários mínimos), a 37% (superiores a cinco salários mínimos). No caso de Rosinha, esta variação foi de 28% (um a dois salários mínimos) a 48% (superiores a cinco salários mínimos). E na estratificação por idade, a rejeição de Vianna variou de 23% (de 40 a 49 anos) a 40% (16 a 24 anos), enquanto Rosinha variou de 26% (acima dos 50 anos) a 37% (de 40 a 49 anos).
Ao contrário de se julgar uma liderança imbatível, um ungido pela graça popular, ou algo que o valha, o novo prefeito ou prefeita será mais prudente e mais compatível com a realidade se aceitar o fato de que a cidade o vê com desconfiança, de que terá que trabalhar muito e com muita seriedade para recuperar a crença na política e na administração pública e, quem sabe, conquistar um nível de legitimidade um pouco mais consistente. E hoje, pode até comemorar o resultado das urnas, mas com moderação.
[publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
2 comentários:
Caro Jornalista,
É preciso que tomemos boa nota das eleições de hoje, como dito aí, "votar no menos pior".
Teremos agora 4 anos à frente, para que, espero, apareça de fato, e com valor, a chamada "terceira via".
Não dá mais para esperar.
Aquele abraço.
perfeita leitura do pleito eleitoral em Campos.
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