sexta-feira, julho 03, 2009

Vida de assentado

Fotos: Vitor Menezes

Numa friaca miserável (uns 8º), por uma destas obrigações profissionais, acompanho desde ontem um evento nacional de petroleiros em um Assentamento do MST na cidade de Lapa, no Paraná. Isso mesmo, num assentamento.

Depois de gastar dinheiro com vários hotéis país afora para realizar seus eventos nacionais, os petroleiros decidiram construir alojamento, cozinha industrial, refeitório e, de quebra, um parquinho para as crianças do Assentamento do Contestado. Tudo poderá ser utilizado depois pela Escola Latino Americana de Agroecologia, a primeira de nível superior instalada em um assentamento, e pela escola municipal local.

As acomodações não são das melhores, mas não chegam a ser tão precárias quanto as lonas que abrigaram os pioneiros da ocupação, em 7 de fevereiro de 1999. O lugar pertenceu à fábrica de revestimentos da Incepa e ao Itaú, depois de ter sido sede de uma tradicional fazenda desde o século XVIII. A casa da sede da fazenda está preservada, e hoje serve de sala de aula.

O que mais chama a atenção são as crianças. É tudo muito diferente do que se pode imaginar de uma infância nas dificuldades do campo ou na pobreza das periferias das cidades. Aqui há um orgulho de pertencer a uma família que é maior que a dos seus próprios pais, e a valorizar cada conquista na terra, cada aprendizado na escola, cada comida à mesa. São crianças felizes. E elas não estão encenando para os visitantes, porque criança não é de fazer essas coisas.



A comida é da produção orgânica do próprio assentamento. Além de servir aos visitantes, é produzida em escala capaz também de ser comercializada em Curitiba, a 70 km daqui, e em Balsa Nova, a uns nove km. O cardápio de ontem foi costela, arroz e salada. Hoje, no café da manhã, pão caseiro e bolo.

Também chama atenção o modo como o poder público no Estado, do governo Requião, e do município se relacionam com o Assentamento e com o MST. Acostumados que estamos a ver o movimento ser criminalizado e tratado com desdém por governos e por boa parte da imprensa, aqui ele é respeitado e considerado parceiro importante para desenvolver o campo, sob a lógica da valorização das pequenas propriedades.

Há um mês, por exemplo, houve a formatura da primeira turma da Escola Latino Americana de Agroecologia, e as autoridades do estado e do município estavam presentes. E não apenas porque era um momento de palanque, mas porque era um momento de celebração de uma parceria que os une desde o início, junto a outras instituições como o Instituto Federal do Paraná (IF-Paraná).
É impossível não pensar como as prefeituras, o governo do estado, a Uenf e o IFF poderiam ser mais parceiras dos assentamentos do MST no Norte Fluminense.

7 comentários:

Emmanuel disse...

Interessante a relação governo-assentamento realmente, infelizmente, é uma excessão a regra. Agora reunião de petroleiros aí? Não vou argumentar muito, mas as vezes fico preocupado como os assuntos da categoria do petróleo ficam a poder de todos...
PS: A fazenda deve ser do sec. XVIII, séc. VIII só se fosse de nativos... hehehehe

Vitor Menezes disse...

Valeu, Emmanuel. É XVIII, claro. Corrigido!

Roberto Moraes disse...

Olá Vitor,

Fiz uma referência lá no blog sobre seu texto e sobre o assunto que aproveito para também postar aqui. Abs.
Roberto Moraes

"Bacana o texto e o depoimento que o jornalista Vitor Menezes fez hoje aqui no blog Urgente sobre a reunião nacional dos petroleiros que está sendo realizada num assentamento do MST, na cidade de Lapa, interior do Paraná. Por aqui, a coisa sempre foi muito difícil.

O IFF, antes Cefet, ajudou na viabilização da escola e outros apoios técnicos do primeiro assentamento, hoje Zumbi dos Palmares. A Uenf através do CCH tem feito diversas ações, não só de pesquisa, mas também de extensão junto aos assentados.

Porém, tem razão o Vitor, isto é muito pouco diante do potencial que estas instituições têm. Não sei se o mesmo pode ser dito das prefeituras da região e do nosso estado e até do próprio Sindipetro NF. Enfim, é sempre tempo de, nesta terra de Marlboro, se fazer mais tentativas. Este é o nosso dever!"

César Ferreira disse...

Tô puto hein !!

Anônimo disse...

Viva o MST!

Anônimo disse...

http://g1.globo.com/Noticias/Concursos_Empregos/0,,MUL1217411-9654,00-FINEP+MUDA+EDITAL+DE+CONCURSO+E+ACEITA+DIPLOMA+DE+QUALQUER+AREA+PARA+JORNAL.html

Vitor Menezes disse...

Valeu, Roberto. Abração!

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