sexta-feira, janeiro 24, 2003

[usina de idéias]
Luz, câmera e ação para o cinema nacional

O secretário executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, em recente entrevista ao jornal O Globo, pontuou que, no atual governo, há uma preocupação com idéias de diversidade cultural, inserção do Brasil no mundo e olhar antropológico sobre a cultura brasileira. Posso entender que há uma forte tendência a reavaliar as políticas de incentivo à produção cinematográfica tupiniquim, uma vez que o cinema é uma das formas mais abrangentes de exercício dos fatores citados pelo secretário. Para ele e para o ministro Gilberto Gil — assim como para os demais participantes do Ministério — O Cinema da Retomada – depoimentos de 90 cineastas dos anos 90, de Lúcia Nagib, lançado em 2002 pela Editora 34, tem que se tornar livro de cabeceira. Com opiniões abalizadas de quem enfrentou altos e baixos com a arte de fazer história na tela grande, O Cinema da Retomada traça um panorama elucidativo, concentrando-se em uma década, mas sem deixar de explicitar um histórico do cinema nacional.

Análise crítica sobre incentivos
Este livro é um documento histórico e político. Em tempos de sucesso de Cidade de Deus, entender os mecanismos de funcionamento do cinema brasileiro torna-se mais do que essencial. Pode-se dizer que é imprescindível, para evitar que corramos o risco de cair na idéia de que tudo se tornou mais fácil agora para que todo filme nacional emplaque e tenha apoio incondicional. Este “sensação de glamour” não é nova e O Cinema da Retomada tem como um dos maiores méritos justamente explicitar estes meandros, nas palavras de quem lida com arte e política. Histórias de experiências que não alcançaram o efeito desejado, conquistas, críticas e propostas – principalmente quando se trata da Lei do Audiovisual – permeiam todo o livro. Dessa forma, as mais de 500 páginas de O Cinema da Retomada tornam-se uma leitura prazerosa, onde os entrevistados falam – cunhando um painel amplo – sobre suas carreiras, filmografia e relação com as fases do cinema brasileiro e as cinematografias estrangeiras.

Combustível
Lúcia Nagib

O livro foi o resultado do trabalho desta professora de História e Teoria do Cinema na Unicamp em um projeto do Centro de Estudos de Cinema, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Quem aprecia cinema pode e deve conferir o quanto são certeiras as impressões apuradas pela equipe de Lúcia Nagib – composta por 14 pesquisadores –, assistindo e procurando conhecer a história de filmes como Desmundo, de Alain Fresnot, Separações, de Domingos Oliveira e Houve uma vez dois verões, de Jorge Furtado – que dão seus depoimentos neste livro – para citar apenas alguns exemplos simples e recentes.

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