sexta-feira, janeiro 24, 2003

O Rosto

Tinha um traçado imaginário.
Sem formas, conteúdo ou modelo.
Era pura abstração e nervosismo.
Só voz distante.
Meses a fio, anos sem parar.
Íntimo feito travesseiro velho.
E misterioso como bolsa de mulher.
Passou por teclados a fio.
Empregos, chefes, cidades...
Situações, amigos e relações.
Uma demora quase perpétua.
Que deu real sensação de infinito.
Chegou a ser sondado, desenhado.
Definido por teorias do sonho.
Visualizado em pedaços.
Penetrante, mordaz.
Insinuante. Mudo de desfalecimento.
Até aparecer discretamente, longínquo.
Em meio a um sorriso sem jeito, sem hora.
Mais pausa com intervalo menor.
Mais insistência com constância maior.
E veio como presente virgem.
Embalado plasticamente.
Surpreendeu. Emudeceu. Estremeceu as bases.
É diferente e igual; alegre e casual.
Talvez lânguido. Ou sereno.
Perdido na multidão.
Procurando dedicatória.
Deliciando a memória.


Álvaro Marcos – 20/11/02 – 17h50 – Feriado – Redação de Jornal – Insensatez.

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