domingo, outubro 18, 2009

Dois exemplos de um novo momento

A disputa simbólica parece de menor importância diante dos aspectos materiais mais visíveis do cotidiano. Um governo, por exemplo, parece ser avaliado mais constantemente pelos efeitos objetivos e palpáveis que proporciona. Mas os efeitos do discurso não podem ser negligenciados.

É por isso que pode ser considerado um grande feito a veiculação de duas recentes propagandas governamentais, aparentemente singelas, mas de um significado histórico bastante relevante.

Uma é a campanha “Direito de Saber”, da CGU (Controladoria Geral da União), que estimula, de modo didático e popular, a cidadania a fiscalizar os gastos do governo, por meio do Portal da Transparência (www.portaldatransparencia.gov.br). Não tenho notícia de iniciativa semelhante, no governo federal, em toda a história “deste País”, como diria o presidente Lula.

A opção pela linguagem publicitária popular e extremamente persuasiva revela a intenção de, realmente, levar o cidadão a acessar as informações sobre as contas do governo e a fiscalizá-las. Não se trata apenas, portanto, de uma formalidade burocrática, coisa que uma propaganda mais fria poderia dar conta.

Em uma das peças, o personagem “Pedro” mostra que sabe tudo sobre rios e córregos, demonstra orgulho em conhecer onde deságuam na sua região, mas se “surpreende” ao ser perguntado sobre onde vão parar os recursos públicos. “Uai, sô, esse trem eu não sei não”, responde. Algo semelhante acontece com o taxista Haroldo e com o místico Lauro, nas outras peças da campanha, sempre com alguma dose cômica, que torna mais eficiente e atrativa a mensagem.

Outra campanha que pode ser considerada simbólica de um novo tempo democrático no País é a que busca informações sobre desaparecidos políticos da Ditadura Militar brasileira. A responsabilidade é da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em parceria com o Arquivo Nacional.

A campanha, chamada “Memórias Reveladas”, teve as peças de televisão dirigidas por três cineastas que fizeram filmes sobre a ditadura militar: Cao Hamburguer (“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”), Helvécio Ratton (“Batismo de Sangue”) e João Batista de Andrade (“Vlado - 30 Anos Depois” e “Travessia”). Todos tiveram liberdade autoral para registrar casos reais de famílias que, até hoje, não sabem o que realmente aconteceu com os seus filhos. Também foi disponibilizado um site (www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br) e um telefone (0800 701 2441) para o envio de informações sobre os desaparecidos.

São dois exemplos que não dizem tudo sobre este momento brasileiro, mas dizem muito.

[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

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