Nunca antes na história desse país, os discursos com conteúdo religioso foram tão presentes em uma eleição para presidente. Graças a ignorância e a velocidade da internet, os candidatos foram obrigados a realizar verdadeiras profissões de fé para conseguir alguns votos e reverter boatos lastimáveis. Esta eleição transformou evangélicos sensatos em fanáticos religiosos e deu voz a falsos moralistas que agora abominam tudo o que é imoral, ilegal ou engorda.
Em 1989, era comum ouvir nas rodas do Boulevard , em Campos, bate papos sobre "Lula comunista" ou o cara que queria transformar o Brasil em Cuba. Hoje, a petista Dilma Rousseff tem de se explicar várias vezes sobre sua opinião sobre o aborto, fazer reuniões com líderes religiosos e assinar cartas de compromisso para evangélicos e católicos. José Serra, que se valeu da disseminação da boataria, peregrina por todas as igrejas, lê a Bíblia no horário eleitoral e colocou uma citação bíblica no seu santinho de campanha.
Tudo começou porque alguém - na internet - disse que Dilma era o capeta de saia. Era a favor do aborto, era sapatão e que ia legalizar de vez o casamento homossexual. Só faltou dizer que Dilma fumava e ia legalizar a maconha. Bastou uma brasa para que as bancadas de políticos evangélicos, todos ligados ao PSDB, transformassem tudo em um incêndio. Em uma movimentação jamais vista, e numa aliança histórica, católicos e protestantes estavam unindo forças, sem saber porquê, e sem saber por quem. Assim como árabes suicidas, se atiraram como homens bomba numa guerra santa, lutando pela moral e pelos bons costumes e por um Brasil melhor e mais santo. Dilma era o demônio encarnado, a personificação de Satã e Marina, a santa redentora. Como Marina não teve chance, agora Serra é o santo redentor da vez, o cavaleiro andante que vai impedir satanás de tomar o Brasil.
Vídeos como os de Silas Malafaia e Paschoal Piragini Júnior foram acessados por milhões de internautas e ainda foram exibidos em igrejas. Inicialmente, o tema tinha se limitado a uma carta intitulada “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras”, divulgada pela CNBB e que pedia para não se votar em candidatos do PT por ser a favor da “descriminalização do aborto”. Para os petistas, o estrago foi grande. Pesquisas apontaram que 25% dos eleitores que desistiram de votar em Dilma no primeiro turno apontaram razões religiosas.
A queda entre os evangélicos perdurou no segundo turno: é o único segmento religioso em que José Serra vence segundo o instituto de pesquisa. A petista vence entre católicos, espíritas e os que não têm religião. A mudança é explicada em parte porque o público majoritário das igrejas evangélicas tem o mesmo perfil dos eleitorais que mais tardam a definir seu voto: as mulheres de baixa renda. Em geral, o único espaço público de debate frequentado por essa parte do eleitorado é o templo, por isso a palavra do pastor ganha força.
Por isso os discursos do segundo turno são baseados em pelo menos três premissas: “a família brasileira” (em referência ao casamento gay), “respeito à vida” (contra o aborto) e liberdade de religião (não criminalizar os religiosos contrários à homossexualidade).
A onda de conservadorismo que tomou o país hoje, poderia muito bem ter aparecido em eleições anteriores, como as vencidas por Fernando Henrique Cardoso, e Fernando Collor de Melo. Nesse debate sem sentido e muito pouco produtivo, estão esquecendo de questões cruciais que os candidatos nem tem tempo de externar, pois são obrigados a responder acusações de fanáticos religiosos e militantes travestidos de puritanos. A maioria, os fiéis usados para distribuir santinhos em nome de Deus, ainda não se deram conta de que se transformaram em massa de manobra de políticos interessados em lucrar com a volta do PSDB.
quinta-feira, outubro 28, 2010
Política e Religião não se discute
Postado por Cassio Peixoto às 23:44 Marcadores: Dilma, eleições 2010, politica, religião
7 comentários:
"Bastou uma brasa para que as bancadas de políticos evangélicos, todos ligados ao PSDB," é afirmação errada de marré de si. Caso você não saiba - a afirmação parece isso - Crivela é da Igreja Universal, evangélico portanto, e não só não é ligado ao PSDB como apóia e recebeu apoio de Dilma. A catedral da Universal daqui de Campos, na beira rio, enjoou de pedir votos para Dilma.
"Tudo começou porque alguém - na internet - disse..." Não, quem disse foi a própria Dilma. Você não viu o vídeo?
Misturar Fernando Henrique com o texto que fala mal da religião evangélica (afinal, mulher pobre evangélica custa a decidir seu voto e segue o que o pastor diz, segundo seu texto) é, na melhor das hipóteses, ignorância grosseira. Fernando Henrique sempre se declarou ateu, isso não é novidade.
Quer fazer pose de jornalista aqui no blog, aja com correção. Ou finja que tenta.
Agora, os erros ou fazem você parecer alguém de má-fé ou alguém ignorante. Escolha seu perfil.
Inté.
Parabéns, excelente texto. Abaixo a alienação religiosa!
"Ê Vida de gado! Povo marcado! Povo feliz!"
Caro anônimo, não pretendo fazer pose de jornalista, não preciso. Não o conheço, portanto, se quiser discutir e debater suas ideias comigo, identifique-se. Se esconder atrás do anonimato para falar mal ou bem de alguma coisa é fácil. Mas se quiser podemos discutir as minhas fontes.
Legal. Coloca aí as fontes do que o anônimo das 12:17 criticou. Ou então, vai lá, arrasa com o babaca e prova que ele está errado.
Cássio, comecei o comentário aqui mas ficou muito longo. Acabei levando para meu blog. Dá uma chegadinha lá. Aqui:
http://acridoce-oil.blogspot.com/2010/10/voce-vai-me-desculpar-cassio-polpitica.html
Adoro debates acalorados. Sobre as fontes: procure o blog de Luis Carlos Azenha e Luís Nassif, todas as informações que permeiam esse texto estão lá. As informações não estão estampadas em um letreiro, abra os posts antigos e pesquise. Há trchos que vai reconhecer. Boa sorte.
Splanchnizomai abraçando o amanhã, ou seja lá qual for o seu nome. Política e religião não se discute. Ou você aceita ou não. E eu não aceito. Portanto se essa é a sua opinião e eu respeito, a minha você já sabe. Isso não tem nada a ver com o apocalipse, é só uma eleição. São fatos coisas que aconetceram e ponto. Não estou julgando apenas narrando do meu ponto de vista. Parabéns para paciência e pela analise, mas acabou. Um abraço e até mais. E por favor, isso não tem nada a ver com quadrinhos, ou ser quadrinista.
Postar um comentário