Um grupo de turistas foi reunido logo no início da manhã em um hotel da cidade. Estava pronto para fazer o circuito do Corredor Memória de Campos. O passeio está incluído no pacote comprado em uma operadora que, sem muito entusiasmo, recentemente acrescentou a cidade em seus roteiros turísticos, mas vinha se surpreendendo com a procura.
O micro-ônibus afastou-se da área de hotéis e seguiu em direção à Rodovia do Açúcar. Uma turista cochichou algo sobre o simpático nome da estrada que, de acordo com o mapinha distribuído, dá acesso a outra de nome também curioso e com forte vínculo local: a Rodovia dos Ceramistas.
A propósito, gostoso de ouvir é também o nome da localidade onde fizeram a primeira parada. Donana. Foi para uma rápida visita à capela Nossa Senhora do Rosário, construída em meados do século XVII por nobres portugueses ainda no período de domínio Asseca.
Depois, uma parada em uma usina de açúcar, em Goitacazes. Os turistas ficaram encantados com as máquinas gigantes, com o cheiro de melaço, com a rotina dos operários, com o processo de feitura do álcool, com as explicações dos técnicos, com as peças do museu do açúcar e com a mostra permanente de doces típicos.
A maioria dos integrantes do grupo nunca tinha visto um chuvisco, o doce de origem portuguesa fabricado há mais de dois séculos em Campos. Compotas e mais compotas da versão em calda, e caixas e caixas da versão cristalizada, foram compradas ali mesmo depois da sessão de degustação.
Ainda em Goitacazes, eles conheceram a igreja de São Gonçalo e a de São Benedito. Visitaram também a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho, que antecipa explicações sobre a obra do autor que os turistas ainda iriam rever adiante no parque do Coronel e do Lobisomem, construído em terras imaginárias do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, nas cercanias de Santo Amaro.
Passaram pelo Solar do Colégio e ouviram as histórias do lugar e da heroína Benta Pereira, ali sepultada. Retomaram a Rodovia do Açúcar e pararam em Campo Limpo, para conhecer outra capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, construída por escravos no século XVIII. Em seguida, passearam pelos corredores do Mosteiro de São Bento, erguido pelos beneditinos no final do século XVII.
No final da manhã, um restaurante com vista para a vasta planície recebeu a todos para o almoço e para um breve descanso em redes espalhadas pelo varandão do antigo solar de fazenda restaurado recentemente. Renovavam as energias para a longa tarde que os esperava.
Ainda era preciso conhecer a estação de Baixa Grande, a loja do pólo ceramista, um alambique, o museu do petróleo e o da pesca, o farol de São Thomé, além do já citado parque do Coronel.
Ficção? É. Mas toda ficção tem um pouco de verdade. E de esperança.
[Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista]
domingo, janeiro 11, 2009
Corredor Memória de Campos
Postado por Vitor Menezes às 10:22 Marcadores: campos, Gaveta do Povo, história, patrimônio histórico
13 comentários:
Ah, Vitor, você me faz acreditar que ainda tem esperança para campos!
Deu vontade de, assim que chegar na terrinha no próximo fim de semana, alugar uma bela van e convidar pessoas queridas, principalmente as 'crianças' - meus sobrinhos que já têm de 12 a 18 anos - e partir para essa deliciosa viagem!
Mais que turistas, o povo de Campos merecia essa oportunidade, que podia ser promovida também por escolas, transformando aulas em adoráveis passeios pela história.
Bom demais compartilhar essa esperança num dia lindo de sol e noite que promete lua cheia!
Beijos.
Campos com C maiúsculo - desculpe a falha na digitação acima.
Bjs!
Luiza Botelho
Nossa um artigo para parabenizar, mesmo morando nessa cidade desde sempre desconhecia mais da metade desses lugares. Alguns conhecia de longe... e é isso que tem que mudar... Tanta história perdida, tantos lugares desaparecendo e tantos personagens esquecidos nessa cidade. Posso lhe dizer que quando disse para algumas pessoas que o filme, que iria passar na globo "O Coronel e o Lobisome" se passava em Campos, muitos não acreditavam... desconheciam!! Dá vontade sim de saber mais sobre essa terra!
Obrigada por essa pequena viagem sobre a historia da minha cidade.
Luana Vizella ( sua ex aluna ) ahha
Legal, mas para quando um corredor da memória recente? digamos dos ultimos 20 anos? Esse seria para o turista local.
Me lembro que por volta dos anos 90,no Palacio da Cultura, onde estavam reunidos todos Secretarios Municipais com o Prefeito da época foi solicitado pelo mesmo que fossem elaborados roteiros turísticos para que se explorasse esta atividade econômica em crescimento e geradora de empregos e renda. Coube a tarefa a uma pessoa que estava extremamente intusiasmada com esta questão que era o Kapi. Me lembro que ele tinha na sua cuca vários roteiros e inclusive este que você Vitor acabou de postar em seu blog. Trabalhos foram vários, mas o vento levou. Passaram-se, vários outros governos e nada de turismo. Olha que turismo e cultura nós temos de sobra nesta planície. Será que é muito difícil o poder público, criar alternativas claras para incentivar a busca de uma saída para exploração do turismo em nossa terra. Valeu meu caro, fico feliz em ler algo que poderá com certeza acenderá a chama da ficção virar esperança e se transformar em realidade. Muito oportuna este debate. A hora é esta. Governo novo; vida nova. Atualmente está sendo muito saudável ler diariamente os blog`s da minha cidade. Tem sido mais produtivo para nossa terra. Parabéns Blogueiros.
Carlos Faria Café
Excelente o propósito desse texto.
Parabéns!
Nós, do blog "Logradouros de Miracema" defendemos esse tipo de investimento por parte dos governos locais, não só em Campos, como em todos os municípios do Norte e Noroeste Fluminense, que têm potencial para o turismo cultural!
Vejam lá o início da REVITALIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE MIRACEMA, que já começa a ser uma realidade em Miracema-RJ. Esperamos que o novo governo dê prosseguimento.
Tive por breves momentos um lugar nesta viagem.
Maravilha nossa Campos, servir de inspiração.
Felicitações ao autor pela beleza e verdade da narrativa.
Queria dar os mesmos vivas ao ver realizada ..
Enquanto lia o texto fiquei pensando: "Caramba, nós temos isso aqui e eu nem sabia!" E qual não foi a minha decepção em descobrir ao final da leitura que era pura ficção.
Mas ainda resta esperanças. Chegaremos lá.
Parabéns pelo texto.
Cláudio.
Belíssimo artigo. Oportuno. Cheguei a viajar turisticamente. Quando vamos ver isso na nossa terrinha? Quando? Nomeações com base meramente política e originárias de promessa de campanha, ameaça de se fazer, depois..., nada sai do papel. Que a Prefeita ou um dos seus assessoras possam acordar e investir nessa vertente.Seria tão bom se isso fosse verdade, Vitor?
"Ficção? É. Mas toda ficção tem um pouco de verdade. E de esperança".
Sim, eis aqui um pedacinho "profético".
O que é ficção de hoje que não seja o "fato" de amanhã?
Eu me atrevo a dizer que o sucesso turístico que vislumbramos na ficção de hoje é apenas "a ponta do iceberg".
Em Ezequiel 37, o profeta foi levado para um vale cheio de ossos secos, e lhe foi perguntado se eles poderiam reviver. O Senhor então ordenou que ele profetizasse àqueles ossos. Enquanto ele profetizava, os ossos se juntaram, veio a vida eles se transformarm num grande exército. Esse é um teste pelo qual o verdadeiro profeta tem que passar. O verdadeiro profeta pode ver um grande exército até mesmo nos ossos secos. Ele profetizará vida para eles, até que venham à vida, e depois se tornem um exécito. Um falso profeta com espirito de religiosidade apenas dirá o quâo secos os ossos estão, enchendo-os de desencorajamento e de condenação, e não lhes transmitindo vida e nem poder para que vençam as circunstâncias negativas.
Quer dizer que o texto é seu, Vitor?????
Puxa... de Anjo a Profeta não é um pulo. É um sonho.
Já podemos convidar escolas de Paraty? Que coisa linda... os pés de Paraty passeando pelos corredores do coração do Leão Rampante...
Iiiiiiiiii tô até sonhando com isso...
Vitor, o anjo louco que caminha em sonhos reais...
Bacana, senhoras e senhores. Valeu pelos comentários. Depois de ter escrito este texto viajei para um destino turístico muito conhecido no Brasil. Lá, pude ver de modo ainda mais intenso o quanto desperdiçamos o nosso potencial. Me vendiam histórias de colonizadores do final do século XIX, me mostravam lagos artificiais, apresentavam esquetes batidas de "cultura local". E nós aqui, com tanta coisa melhor para mostrar... Abraços gerais e irrestritos!
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