Desde a ascensão política do Garotismo em Campos, e lá se vão mais de duas décadas, a situação é relativamente recorrente: oriundo das entranhas do mesmo modo de ação política se origina uma oposição circunstancial que passa a demonizar o criador, algo como ocorre com aquele grupo que apareceu em foto com o deputado Jorge Picciani nesta semana.
Francamente, é possível levar aquele agrupamento político a sério? Ou, reformulando, é possível acreditar que há diferenças relevantes entre um subgrupo e outro?
Fico imaginando como devem se divertir os patrocinadores destes movimentos, na velha imprensa e no submundo empresarial privado, que lucram com a manipulação da construção de uma falsa oposição entre os ajuntamentos políticos ocasionais.
Não se trata aqui de um reforço da máxima segundo a qual seriam “todos iguais”, frequente entre os que, não sem motivos, tomam asco pela política. É verdade que não são todos iguais, mas isso não significa que consigam escapar dos velhos métodos. A política está cheia de casos de pessoas probas que se viram enredadas em compromissos de sobrevivência eleitoral e, quando menos se deram conta, estavam à beira de chafurdar na lama comum.
É por isso que, mesmo conhecendo e condenando quase tudo que é feito pelo agora deputado federal Anthony Garotinho, ou em seu nome, não embarco em qualquer canoa que se diga a ele opositora.
O lamentável desta minha condição, de ficar à margem do rio vendo as canoas passarem, é a falta de esperança. Uma a uma, as vejo de longe, sem que de fato ocorra uma mudança no leito que as conduz sempre na mesma direção.
É que a pergunta que pouco vejo ser respondida é a seguinte: como o Garotismo se tornou o que se tornou?
Gostemos deste personagem ou não, a verdade é que Garotinho é um excepcional talento político. Isso inclui ser uma espécie de grande camaleão. Ele não tem alma, não tem cheiro, não tem partido, não tem cor e, diferentemente do que pode parecer, não tem nem religião. Ele é o que as circunstâncias exigem que ele seja. Não é diferente com nenhum outro líder em ambientes onde sejam necessários votos e dinheiro para disputá-los. O sucesso do presidente Lula não consistiu, em boa medida, da sua capacidade de parecer representar interesses tão distintos quanto os da FIESP e os do MST?
Pois então, a questão é: quais as forças presentes em Campos, para ficar apenas na realidade local, fizeram a geração que chegou ao poder com Garotinho, pós 1988, se transformar nesta geleia política que tem condenado a cidade a manter-se distante de boas práticas republicanas e cidadãs?
Estaria a nossa tradição autoritária e escravocrata exercendo um impulso primal pela manutenção dos privilégios dos pequenos círculos mandatários? Seria traço da nossa cordialidade buarquiana a tolerância com os jeitinhos e favores e pequenos espelhinhos em forma de cargos comissionados? Ou a coisa é menos cultural e mais estrutural, numa concepção mais para Marx do que para Weber, e estaríamos vendo a acomodação contínua dos interesses de uma elite econômica na apropriação da gestão pública? Seria ainda, o que é provável, alguma outra hipótese que não me ocorre agora?
Sinceramente, não faço a menor ideia. O que me é dado dizer com alguma convicção é que é insuficiente a demonização de Anthony Garotinho como remédio contra os males de Campos dos Goytacazes, ou mesmo como algo recomendável para o entendimento das entranhas políticas locais. Não parecem ser menos demoníacos os interesses de vários dos seus ocasionais detratores. E o inferno não está nos outros.
6 comentários:
Vitor Menezes, prefeito de Campos!
Categórico na letra Vitor.
O senhor na realidade não topa é nada contra Garotinho.
Por que não me surpreendo? Bem, deixa pra lá.
Demorou para ler algo nessa linha na dita rede blog campista. Um frescor de lucidez em meio a tanto jogo de interesses contrariados. Parabéns!
Caro Menezes, só não vai agora fazer com que o seu líder antony, quase tudo errado ( pra mim nada certo), se valha de uma campanha do Nulo. Cuidado! Talvez assim tb vc provoque novos chafurdamentos.
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