quarta-feira, fevereiro 26, 2003

Confessionário
Ontem foi um daqueles dias em que se está por um triz. Do tipo em que você se pergunta que catzo, afinal de contas, está acontecendo. Mas, como eu disse, estava por um triz. E fui salvo sem querer, enquanto vasculhava sites e blogs de amigos e me deparei com cores, formas e letras cuja existência eu havia esquecido, deixado de lado, ou abafado de tal forma que se afastaram da minha lembrança consciente. E é exatamente sobre isso que quero falar com vocês: como Matisse e Henry Miller me salvaram. Talvez mais uma vez.

Nessa busca na web, me vi surpreendido com um blog – não, não pretendo colocar aqui um link; isso eu quero deixar como uma questão pessoal mesmo – que falava sobre paixão e entrega, utilizando as obras deste magnífico pintor para exemplificar um tipo de sentimento. Ali, encarando-me nos olhos, estavam pequenas reproduções de telas de Matisse. Passaram a contaminar meus olhos, enchendo-os de cores e luminosidade. Tudo o que eu não conseguia lembrar que existia. As formas e as cores destas telas encheram meus olhos mais uma vez. E mais uma vez, não pude passar impunemente por esta experiência. Meus olhos se encheram. Justo ao entardecer, quando o sol vai se escondendo atrás dos prédios, ganhando aquela coloração de crooner. O sol estancou nas minhas retinas enquanto meus olhos se enchiam novamente com a arte de Matisse.

E foi com esta visão que reli trechos selecionados de Trópico de Câncer, de Henry Miller, que falam sobre o impacto que a arte de Matisse pode provocar. E que provoca. Tanto quanto os textos de Miller. Acredito que reaprendi a ver. E que pude me reencontrar. Pude – como se diz mesmo ? ah, sim – ajustar meus filtros novamente.

À noite, fui vasculhar em meus arquivos, procurando revistas e livros – antigos, pero no mucho. Deixei que as informações viessem – voltassem ? – calmamente, ativando outras. Sem pressa. Além de Matisse e Henry Miller, outros mais que não cabe listar aqui e agora vieram também em meu auxílio. Travei contato com conexões que não mais se atropelavam, mas sim colocavam-se “em suspenso”. Uma arquitetura própria e composta. Como eu costumava elaborar nos “velhos tempos” e havia deixado de lado. O traquejo, talvez eu estivesse pensando, teria se perdido. Talvez por isso, estivesse ontem por um triz.

É tudo que eu quero dizer hoje, para falar a verdade: fui salvo numa tarde de terça-feira por Matisse e Henry Miller. E pretendo, em breve, agradecer por terem me feito escapar por um triz, mesmo sem saber o que estavam cometendo.

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