terça-feira, julho 20, 2004

Nós na Academia Campista de Letras
Bom, vou tentar não me estender, pra não ficar chato, mas acho que é digno de registro um pouco mais demorado o que aconteceu na noite de ontem na Academia Campista de Letras. Foi mais informal do que pensei que seria, e mais divertido também. Choveu demais, e alguns imortais justificaram a ausência em razão disso. Eu pensava que imortal não precisava se preocupar com chuva, mas, pelo visto, me enganei. Mas vamos ao que rolou:

A exposição
Depois de leitura de atas e do expediente do dia, fomos chamados para compor uma mesa, onde estava a presidenta Arlete Sendra e o secretário Herbson Freitas. Nos foi pedido que falasse sobre o que eles estão chamando de Grupo Terra Plana - como nem mesmo a gente sabe o nome que vai adotar, esse está valendo. E aí eu falei. Disse que no princípio era Jorge Rocha, depois vieram os contados da internet através dos blogs, depois a matéria no Monitor, depois os saraus com a Mutável, depois o original do Contos da Terra Plana, depois o jornal Terra Plana, depois o Café literário na III Bienal, tudo dito não necessariamente nesta ordem. Li um e-mail do Jorge Rocha, que além de hiper-ativo é onipresente (veja abaixo), que emocionou a pequena platéia e ficará, a pedido de Vilmar Rangel, guardado na ACL, para entrar para os anais da entidade.
 
A platéia
Depois abriram para perguntas. O que, a rigor, apenas a Arlete Sendra fez, questionando sobre os motivos da repulsa que o grupo demonstra em relação à poesia. Dei uma enrolada: disse que não era nada sério e que não havia nada formalizado neste sentido. Registrei que, inclusive, há poetas no grupo, como Jules Rimet, e que Jorge Rocha já pagou os seus pecados se casando com uma poetisa, depois de ter sido desmascarado na Bienal, quando Gustavo Soffiati revelou que JR já se inscreveu em um concurso de poesia da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. Na platéia havia uns 12 imortais, entre os que conheço, me lembro de ter visto Jorge Renato Pereira Pinto, Wellington Paes, Everardo, Vilmar Rangel, Sandra Vianna, Luiz de Gonzaga Balbi e Fernando da Silveira.

As saudações
Os demais não fizeram exatamente perguntas, mas saudações, algumas até emocionadas, aos tais autores da nova geração. Vilmar Rangel disse que estava emocionado por ver a história acontecer diante dos seus olhos, já que via nos novos autores o mesmo espírito que animou o grupo que trouxe o modernismo para Campos em 1954, com a revista Horizonte 22, e o grupo Universo, uma revitalização do primeiro, na década de 70. Sandra Vianna lembrou que certos membros desse grupo foram seus alunos na Fafic e que, vejam vocês, se rebelaram, segundo ela, contra o ensino de literatura no curso de comunicação. Joel Melo também lembrou dos demais movimentos literários da cidade e disse que, ainda que não tenhamos essa pretensão, estamos fazendo, sim, um movimento. Disse também que é para termos cuidado, por que literatura é uma merda, mas necessária para encarar esta bosta de nação (?). Fernando da Silveira, como sempre, disse que estava com a alma em festa (êta alma festeira!), lembrou também que alguns de nós fomos seus alunos, disse que a moçada tem talento e fez uma bela provocação: "vocês, humildemente, dizem que não são escritores (eu havia dito isso para o meu caso, mas ele generalizou, fazer o quê?), mas são, enquanto aqui conheço quem diga que é escritor, mas não é".

A Simone
No meio do caminho, Simone Pedro pediu a palavra para contar da sua entrada na Mutável e no grupo e da participação do Ébano naquela noite. A cada dia, Pedrão toma mais conta do pedaço e se estabelece como reencarnação do saudoso Jorge Rocha.

O sarau
Depois de algumas outras considerações finais, trocas de afagos, agradecimentos penhorados, chegou a hora da apresentação da Mutável Saralho Band, com Simone Pedro e Ébano Machel. Foram lidos mini-contos de Alexandro F., Quésia F., Douglas Venoso, Jorge Rocha, Jules Rimet, Simone Pedro e meus. O famoso ploc, de Jules, foi lido para os imortais que devem ter uma idéia média lá dos seus 65 anos. Deu pra notar um certo desconforto. Não fizeram nenhum escândalo ou se levantaram para deixar o lugar - como já aconteceu em outro sarau -, mas também não aplaudiram, como fizeram com alguns outros mini-contos.

O café
Não é nada suntuoso, como se supõe que o seja na ABL, mas tem lá a sua singela elegância. Cafezinho feito na hora por um zeloso funcionário e biscoitinhos finos, ali mesmo, entre as cadeiras do auditório e a mesa onde estava a diretoria. E grupinhos formados para trocas de abraços, elogios, histórias. Fiquei na maior parte do tempo com Fernando da Silveira e Luiz de Gonzaga Balbi. O primeiro, sacana que só ele, falou de algumas obscenidades e contou a história de um velho poeta campista, do qual não me lembro o nome. Com Balbi conversei sobre o seu filho, o Aloysio Balbi, com quem trabalhei na Folha, e soube que o rapaz tem pendores literários, mas, segundo o pai, nunca se levou a sério. Aos 18 anos, Balbi, o filho, escreveu uma peça de teatro que se perdeu por aí, entre folhas amassadas. Depois, ganhou festivais de música com suas composições. Também estive mais demoradamente com Sandra Vianna, que voltou a lembrar da história da faculdade e que estava feliz por aquele momento, em que, de certa forma, tudo fora superado (havia dito, na mesa, que era arroubo da juventude, que não era nada sério e muito menos pessoal. Diplomacia, afinal. Tanto tempo depois, que importância isso tem?). Simone e Ébano trocaram endereços e promessas de reencontro com uma acadêmica, Heloísa (não sei o sobrenome).

As despedidas
Mais abraços, promessas, convites para participar de todas as reuniões da ACL - incluindo a da próxima sexta-feira, onde haverá um a homenagem ao Grupo Universo. Já na saída, Simone Pedro aparece pedindo um exemplar do jornal Terra Plana, para o professor Joel Melo. Ele disse que está concluindo um livro sobre a história da literatura de Campos e que o nosso, vá lá, movimento, será o último registro a ser feito.

O Registro
César Ferreira esteve lá e fotografou tudo. Capaz disso aparecer no blog dele. Foi muito legal o camarada ter pensado nesse registro.

A cerveja
Claro, todos fomos para o Assis. Todos menos os imortais, óbvio. Lá, apareceu o grande vacilão da noite, Jules Rimet, que furou na ACL.  Zé Henrique também disse que ia e não foi. Felipe Sales idem. São Jorge ligou de BH para saber se tudo foi nos conformes.

Ah, o e-mail do Jorge
"MAIS DO QUE TÍTULOS
Sim, eu sei. Deveria estar aí agora, junto com vocês, conversando sobre a nova geração literária de Campos. Ainda mais porque se trata de um convite de Arlete Sendra - e eu nunca, nunca recusei um convite dela.Mas sempre há a primeira vez para tudo - como este contato nosso com vocês da Academia Campista de Letras - e tanto Arlete quanto os demais acadêmicos irão compreender esta minha ausência. Estou em Belo Horizonte, mudado de mala e cuia, para ficar perto de minha esposa, a> poeta Ana Elisa Ribeiro, e meu filho, Eduardo Ribeiro Rocha, que nasceu no último dia 8. Queria enviar charutos cubanos para todos vocês, em comemoração, mas a tecnologia de e-mails ainda não permite isso.Daqui, fico satisfeito por demais com este contato entre gerações. A minha - recorrendo a esta história de gerações somente e apenas para situar temporalmente -, esta dos tais novos escritores desta terra plana, está devidamente representada nesta mesa de hoje por Vitor Menezes e Jules Rimet. Aliás, eu espero que Jules Rimet esteja entre vocês neste momento, superando sua indescritível timidez. Se não estiver, devo lamentar a oportunidade que esta perdendo em mostrar a cara.É justamente este termo, "mostrar a cara", que ressoa na minha cabeça quando penso sobre algumas das principais características desta nova safra literária, da qual faço parte. É esta idéia que me alimenta, ecoando na pequena provocação feita por Vitor Menezes na capa do jornal Terra Plana, quando estampou a pergunta "Tem algum escritor aí ?". Esta é nossa vontade e nossa determinação: sermos lidos e ouvidos. Aí está a Mutável Saralho Band que não me deixa mentir - muito -, apontando que não estamos mais dispostos a meramente produzir e aguardar que alguma casa editorial nos abrigue debaixo de suas asas impressas. Somos pessoas, não apenas títulos nas capas.Vitor Menezes, que relutou em se considerar escritor, e Jules Rimet, o melhor autor desta nossa nova safra, são as pessoas certas para iniciar esta série de conversas que teremos com a Academia Campista de Letras.Tenho certeza de que temos muitas idéias e concepções sobre vida literária para honrar a terra de Zé Cândido.
Jorge Rocha
Belo Horizonte,19 de julho de 2004."


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