sexta-feira, novembro 22, 2013

Nesta madrugada estive em 2003

Devorei nesta madrugada o livro do bravo colega Thiago Freitas, que nos transportou para aquele agosto de 2003, quando um juiz de Miracema (RJ) conseguiu colocar na prisão o jornalista Avelino Ferreira, por “crime de opinião”. Lançado na noite de ontem, “Opinião e Crime – A história da prisão do jornalista Avelino Ferreira” (Marka) organiza um alentado dossiê sobre o caso, tornando-se imediatamente indispensável a qualquer estudo que se faça sobre a imprensa local ou sobre a relação entre jornalismo e judiciário.

Os dias que Ferreira dormiu no cárcere, as manifestações pela sua liberdade, a saga de um jornalista contra a arbitrariedade de um juiz, tudo isso forneceria material suficiente para uma narrativa envolvente, possivelmente escrita como nos bons exemplos do Jornalismo Literário, com um autor assumindo o comando da história do início ao fim – como fez Capote em “A Sangue Frio”.

Mas não foi este o caminho escolhido por Thiago Freitas. E isso não se diz aqui em demérito da obra. Pelo contrário: sua escolha foi a de um repórter que não quis ser maior do que a notícia e seus atores, o que possibilitou o acesso à reprodução de dezenas de textos e documentos produzidos no próprio calor dos acontecimentos, moderados por ponderadas inserções do organizador da obra.

Isso permitiu, por exemplo, que o leitor tivesse a oportunidade de ter acesso, sem mediadores, ao diário produzido por Avelino Ferreira no período da sua prisão, em um dos trechos mais emocionantes do livro. O jornalista registra a surpresa com a repercussão do caso, a amargura com a falta de envolvimento de alguns personagens, e a devoção aos seus heróis locais do teatro, da música, do jornalismo.

“Mais que nunca entendi que, a despeito da grandeza e importância de um Dylan, um Sinatra, de um Chico ou Caetano, não há músico que supere Dom Américo, Luiz Ribeiro, Reubes Pess, Nelsinho Meméia, Edmar, Lula, Daltinho Freire... pois estes são os artistas da minha aldeia”, afirma.

E é pelo mesmo motivo que sou fã de batalhadores da notícia como Thiago Freitas, que com este livro se torna mais importante para mim do que qualquer Gay Talese, qualquer Tom Wolfe, qualquer Hunter Thompson.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro sr. Vitor,
A Constituição Federal brasileira estabelece a liberdade de expressão como uma garantia individual do cidadão brasileiro, desde que não atinja a honra de terceiros.
Na verdade, não existe o chamado crime de opinião, pura e simplesmente.
Sou contra qq censura, mas pelo que sei, o sr. Avelino, quem nem conheço pessoalmente, diga-se de passagem, cometeu crime estabelecido em código penal, nada tendo a ver com uma opinião pessoal dele.
Uma coisa é uma pessoa publicar um artigo num meio de comunicação com um ângulo pessoal, mesmo desagradando a quem quer que seja, e ser perseguido por isso; outra coisa é uma pessoa, através de um meio de comunicação, atacar alguém sem as devidas provas.
Avelino atacou, correu o risco e perdeu. Foi o que houve. O resto, com todo o respeito, é puro carnaval.

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