terça-feira, março 06, 2007

A Agência Gerson Martins Press informa:

Perder bons jornalistas

Gerson Luiz Martins - Professor da UFRN

A situação atual do processo de estágio realizado em boa parte dos cursos de jornalismo determina a perda de bons e talentosos jornalistas. É necessária e urgente a implantação, em todos os Estados, da regulamentação do estágio em jornalismo, conforme a proposta da Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj e com o endosso do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, FNPJ. O processo atual está viciado e não colabora para o aprimoramento do jornalismo, serve apenas de mão-de-obra barata para as empresas. É importante deixar muito claro. Estágio em jornalismo é proibido, ilegal. Se denunciado ao Ministério Público do Trabalho, as empresas poderão ser autuadas e multadas.

De outro lado, os cursos de jornalismo não podem mais fechar os olhos para essa realidade e tampouco a Federação Nacional dos Jornalistas pode ficar insensível à questão. Para os cursos de jornalismo o estágio se tornou um obstáculo ao desenvolvimento de projetos, pesquisas e atividades de extensão. Estudantes de jornalismo interessados e com bom nível de aprendizagem muitas vezes são seduzidos pelas oportunidades de "estágio". Essa situação seria, de certa forma, mais tranqüila. Contudo o processo comprovou que muitos "estagiários" estão nas redações única e exclusivamente por meio de "QI" (quem indica). Muitos "estagiários" não possuem as condições mínimas de trabalho, despreparados e terminam por incorporar muitos vícios do trabalho cotidiano. E por não dominar o processo de produção jornalística, ficam mais suscetíveis a essas situações.

Assim, temos estudantes sem qualificação ética, sem conhecimento suficiente para estarem em processo de estágio. Sabe-se, pelos próprios estudantes, que as redações estão cheias de "estagiários". Esses não têm supervisão, têm problemas crônicos de texto, ganham muitos vícios e poucas virtudes. De outro lado, bons alunos ficam fora, não tem oportunidade. Por isso é imperativo a implantação imediata da regulamentação do estágio. Essa regulamentação é realizada entre três partes: a universidade, a empresa e o sindicato. A empresa disponibiliza as vagas, a universidade seleciona os estudante mais qualificado e o sindicato fiscaliza que o trabalho seja supervisionado por profissionais da redação e por professores designados para essa tarefa.

Sempre soubemos, em todas as áreas profissionais, que é Estágio Supervisionado. Foi dessa forma institucionalizado o estágio acadêmico/profissional no país e criadas entidades especialmente para administrar o processo como o CIEE e o Instituto Euvaldo Lodi, ligado ao sistema das federações das indústrias em cada Estado. Jornalismo é muito mais do que talento, é capacidade para a produção jornalística e tudo que isso implica. O estágio irregular prejudica a profissão, os profissionais e principalmente os estudantes, assim como o leitor, o consumidor de notícias. Só ganha o empresário que não se importa com a qualidade, com a credibilidade, o mau empresário. É importante que os estudantes de jornalismo promovam debates sobre a questão do estágio, que, na área de comunicação, afeta somente o jornalismo. Os estudantes deveriam criar uma ENEJOR, a exemplo da Enecos, entidade estudantil que promove discussões sobre a melhoria dos cursos da área, para debater este e outros assuntos de interesse específico dos estudantes de jornalismo.

Com o estágio regulamentado ganham todos, pois bons estudantes de jornalismo, com excepcional "talento", entendido como capacidade intelectual, criativa, profissional e acadêmica, terão oportunidade de experimentar o cotidiano das redações, promover a qualidade da formação e a qualidade do trabalho jornalístico, além de apresentar aos empresários excelentes e potenciais profissionais para contratação futura.

Publicado pelo jornal Tribuna do Norte
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