quinta-feira, maio 18, 2006

Nos bastidores da notícia IV

Quando o coronel tentou furar a barreira de câmeras e microfones, os repórteres-urubus voaram na jugular do senhorio, que foi obrigado a se refugiar junto aos bêbos do boteco, ao lado da sanha dos repórteres e suas perguntas repetitivas. “Porra!, sujeito não pode mais nem beber uma cervejinha em paz! Essa cidade tá abandonada!”, reclamavam os de copo na mão. Era uma cadeia de reclamações. Os reféns reclamavam do bandido, que reclamava da polícia, que reclamava do público que reclamava que não conseguia assistir ao espetáculo. À meia-noite, mais reclamação: trabalhadores de carrinhos de pipoca abriram caminho no meio da multidão para guardar seus equipamentos num galpão que ficava justo na rua interditada. Tolos repórteres. Ocupados demais combinando a verdade de amanhã, abriram caminho para a notícia: os carros de pipoca, milho verde e cerveja eram, sim, exigências do bandido. As pessoas queriam apenas curtir uma festa na Lapa, o que explica o comportamento solidário do policial ajudando a Vovó Cris a atravessar a rua.
Em verdade repito: nada na Lapa acontece por acaso.

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