quinta-feira, junho 23, 2005

Sobre Adorei a mesinha, do Zumbi do Mato.

COMEZINHA
Eu ouço Zumbi do Mato. É isso que eu tenho pra dizer procê hoje, dotô. Que essa terapia sua tá furada demais. Que eu vou embora daqui. Que eu encontrei minha salvação. E ela tá num disquinho prateado. Ó o nome, ó o nome: Adorei a mesinha. Pegou, pegou a sutileza ? Num pegou ? Eu vou te contar, dotô dos manicômio. Que é pra tu ficar salvo também, ouié. Canta comigo – com um sorriso no umbigo – essa parte da musiquinha Detestei a mesinha, dotô dos pinel. È assim, ó, ó: teeeeenho trinta anos e desiiiiistiiii de ser nooooormal ... Isso aí sou eu, isso aí sou eu. Agora segue a instrução: pula aí como se tivesse endemonhado e canta ... Meu filho diferente, meu filho diferente, meu filho diferente ... feito de um jeito espeeeeecial. Sacode os braços, dotô duma figa. A gente precisa se libertar. E a libertação tem que ser completa. Me arranja um din-din. Eu gostei do disco, mas não tenho dinheiro pra comprar. Que cê tá lamentando aí, dotôzinho ? Que eu sou o primo pobre do Kassin ? Puá.

[pra você que não entendeu nada, aí vai:]

Adorei a mesinhaé o título do terceiro CD cometido por essa trupe de insanos não-lineares auto-denominada Zumbi do Mato. Aproveitando os 15 anos completados em 2005, a banda – precisa dizer que é cultuada no underground carioca e arredores ? – mostra as caras novamente no mercado fonográfico – hã ? – ainda mais sarcástica e plena de referências bem-sacadas. O que, na real, não é nenhuma novidade, uma vez que estas são algumas das características mais marcantes do Zumbi do Mato. As outras são impróprias para este horário.
A experiência de ouvir Adorei a mesinha é comparável a, vejamos, sair de uma centrifugadora e dar de cara com um portal dimensional – acreditem em mim; acabei de ouvir o CD e olhem só onde vim parar ... Ou seja: se vocês entrarem numas de parecerem incautos frente ao Zumbi do Mato, irão ficar perdidos, manés. Se me fosse permitido sintetizar melodia e letras desta banda, nesse CD, em apenas um adjetivo, eu tascaria: desconcertantes. Mas aí vocês achariam que eu tô inflando o ego dos caras.
Para acabar com essa impressão, tomemos como exemplo pedagógico a música Deficiente Emocional. Ouçam: tenho de passar a frente na fila pro psicanalista/senão a cuca grila/poder pagar esporro a hora que eu quiser/preciso de passe livre pra tua mulher. Ou então recorramos à inveja criativa deste que vos escreve: Adorei a mesinha tem umas frases que eu gostaria de ter pensado, como quem coça minha colcha/é o edredão do pé, devidamente pinçada de Campanha pela moralização das faculdades de Direito – que tem um final meritório, diga-se de passagem. Ainda sobra munição para brincar com um velho camarada dos músicos em Primo Pobre do Kassin. Vejam as imagens: o meu disco do Ramones/veio arranhado na faixa dezoito/o dele também, mas ele disse/que era um remix e foi pra novela das oito,/foi bem assim!!/eu sou o primo pobre do Kassin!
Acabei de ser informado que preciso concluir por aqui este release. Melhor recorrer então à uma observação de efeito: Zumbi do Mato, para comemorar devidamente estes 15 anos de atividades esquizóides, resolveu fazer um CD memorável – e não é que conseguiu, amiguinhos ?

[release encomendado por Löis Lancaster, vocalista do Zumbi do Mato]

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