domingo, setembro 07, 2003

Regeneração através da destruição
Assisti ontem "O rei dos escombros", no Teatro do Sesc, incentivado por caros amigos. Não sabia se era uma boa ou não ter cedido e aporrinhado outras pessoas a irem comigo. Mas já que estava lá, a idéia era tentar aproveitar. Antes de carinhosamente empurrar um e outro até furar a fila para entrar no teatro - cara-de-pau convicto; por isso sou formado em jornalismo -, ouvi da cara urgentista Patrícia Bueno que o ator Ricardo Petraglia já havia avisado que poderia facilmente fazer nova sessão. Ponto pro malaco. Janis Joplin reverberava no ar quando me sentei na cadeira do teatro, conferindo o cenário de escombros. Pensei: alguém precisa avisar pra essa moçada que os anos 70 acabaram. E foi ainda matutando essa idéia quase como um mantra que ouvi as primeiras frases de Petraglia, já encarnando o personagem, avisando que se tratava de um suicida, frustrado com a falta de reconhecimento em vida. A boca aberta do fogão o esperava.
[explosão]
Petraglia se vê sozinho nos escombros. Desespero. Loucura. Frustração. Piadas com timing perfeito para se adaptar a qualquer lugar onde a peça for encenada. Uma vida para se retomar. Não do zero, como se fosse poss~ivel apagar tudo e começar de uma folha de branco. Regurgitar. Recombinar. Disfarçadas nessas ruínas, idéias a serem pinçadas sobre que cazzo afinal é esse tal de comportamento humano, essa tal de vivência cotidiana. Um texto que pontua identificação em quem observa atentamente.
Petraglia ganhou minha admiração. E pode ficar satisfeito. Não, bolas, não com minha admiração. No final da peça, ele diz que se sentiria satisfeito caso tivesse conseguido mexer um tanto com algumas idéias do público. Este urgentista, ao menos, não escapou ileso.

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