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Ralph Justino, prefeito de Tiradentes (MG) |
Sem seguranças, sem séquito de puxa-sacos, acompanhado apenas de sua esposa, ele se pôs a labutar atrás de uma das mesas que ofereciam comidas a moradores e turistas. E não foi aquela cena típica de "abrir os trabalhos", fazer a foto oficial e sair. Ele ficou lá até acabar todo o caldo de um panelão daqueles de cozinha industrial. Sem cobertura da secretaria de comunicação ou da imprensa local.
Era apenas mais um. E nem o principal. A sua mesa não era das mais disputadas, em concorrência desleal com as que ofereciam leitão à pururuca, linguiça de jiló, frango com ora-pro-nobis, entre outras delícias mineiras.
Mais cedo, ele havia feito seu papel oficial. Colocou coroa de flores na estátua de Tiradentes, hasteou a bandeira brasileira, acendeu a pira da liberdade e fez um discurso breve. Disse que a cidade tinha uma obrigação para com o Brasil, de preservar a memória do inconfidente e todo aquele patrimônio, mas que também tinha necessidades comuns a qualquer cidade, e precisava, no presente, manter-se como um bom lugar para viver.
Observando a simplicidade do prefeito, que me pareceu genuína, lembrei do presidente do Uruguai, José Mujica, que, infelizmente, ainda não me serviu um feijão fradinho, mas tenho certeza que o faria com prazer em seu sítio — se houvesse feijão fradinho no Uruguai.
Figuras assim não são necessariamente melhores ou piores na condução de governos, mas acabam por, ao liderar pelo exemplo, imprimir na política um sentido de transformação cotidiana acessível a todos. Gentileza, educação, simplicidade, são exercícios que qualquer cidadão pode praticar e que tornam a cidade muito melhor.
De tão raros, são por vezes tomados como loucos, como Lulu Bergantim, prefeito de Curralzinho Novo, cidade encravada na imaginação de José Cândido de Carvalho. Como se lembra o leitor, logo após a posse Lulu deu jeito na sujeira municipal sem licitação ou contrato milionário. Pegou ele mesmo na enxada, no que foi seguido por uma legião de munícipes, em "um enxadar de possessos".
Assim como Lulu, Ralph de Araujo Justino não atravessou o Rubicon.