sexta-feira, novembro 04, 2011

Carta aberta à prefeita Rosinha Garotinho sobre o movimento de emancipação da Baixada Campista

Ilma prefeita Rosinha Garotinho,

Como cidadão que ainda se considera e se orgulha de ser campista, quero solicitar que seu governo não incorra no erro de menosprezar a retomada recente de um movimento emancipacionista na Baixada Campista. Se merecer vossa atenção, gostaria que acompanhasse abaixo os motivos deste apelo.

Como tendo a olhar a realidade mais com lentes culturalistas do que econômicas, considero altamente sintomáticos estes movimentos que buscam dividir Campos dos Goytacazes. Não creio que a questão se resuma aos royalties do petróleo. É preciso muito mais que uma motivação financeira para que se cogite e se lute por algo dessa magnitude.

Interesses localizados de políticos que vêem na causa da emancipação palanques para as suas carreiras também não são suficientes para explicar a recorrência destas teses, seja em Guarus ou na Baixada Campista. Movimentos políticos só vingam onde há sustentação cultural e histórica.

Minha hipótese é a de que Campos, há muito tempo, se descuidou da gestão do seu valor intangível, do seu patrimônio imaterial — algo que empresas e cidades mais zelosas com seus ícones e manifestações culturais consideram estratégico.

Isso se verifica, por exemplo, por meio da naturalidade com que já se estabelece a oposição “nós” versus “eles” nas argumentações em defesa da emancipação da Baixada, sendo estes últimos os “campistas” e os primeiros os pertencentes a uma nova cidadania, ainda em busca de afirmação, mas conscientemente nova.

Uma cidade é grande se ela se pensa grande. Do contrário, o excesso de habitantes e de tamanho, ao contrário de ensejar fortalecimento e orgulho, enseja divisão e luta fratricida pela repartição do espólio. É preciso evitar que Campos, ao contrário de querer ser uma nova Campinas, se mostre mais inclinada a ser mais um pequeno município em uma região densamente povoada, uma espécie de novo Triângulo Mineiro, onde os municípios são eclipsados pelo pertencimento regional (o que tem as suas vantagens, diga-se, se esta região for de fato integrada, mas a questão e a realidade aqui são outras).

Se todo campista, onde quer que resida, não encontrar mais relevância em se sentir campista, estará criado o ambiente propício para que as teses emancipacionistas tenham sucesso. E isso, mantida esta condição, virá. É só uma questão de tempo.

Faz tempo que a Baixada Campista, paradoxalmente, tem motivos reais ou imaginados para não se sentir campista. Além da ausência dos aspectos mais visíveis da presença do poder público, com serviços e obras, há o desprezo pela importância histórica da Baixada, local onde a cidade nasceu e que nem mesmo abriga um mísero marco, museu ou monumento que valorize e reforce este vínculo.

Talvez estejamos diante de um caso raro onde o local originário da cidade tenha resolvido se separar da cidade que criou. É preciso muito desprezo pela cultura e pela história para que algo assim aconteça.

A rigor, como a questão não é meramente geográfica, moradores de quaisquer outros bairros ou distritos também podem perder o vínculo simbólico com a cidade, se esta ideia não for permanentemente alimentada.

E tantos têm sido os ataques ao pertencimento campista, tantos têm sido os motivos para se envergonhar do fato de aqui ter nascido, que não é difícil esbarrar, entre os jovens, no discurso que registra o desejo de sair da cidade; e, entre os mais velhos, o de que a cidade seria inevitavelmente condenada ao marasmo, à corrupção e à perpetuação de injustiças históricas.

Como não parecer altamente legítimo qualquer movimento emancipacionista em um cenário como este? Há os que buscam se emancipar por meio da emancipação dos territórios aonde vivem; outros, mais individualistas, emancipam-se a si mesmos apenas deixando a cidade. Em todos os casos a premissa é o laço rompido.

Ainda é possível mudar

Mas, ilustre prefeita, este não é um processo irreversível. Incrivelmente, apesar de tantas forças em contrário, ainda há muito lastro histórico presente na memória coletiva. E é possível mobilizá-lo para voltar a fortalecer o sentimento de pertencimento campista. Para tanto, o atual e os próximos governos da cidade precisam ter a grandeza de cultivar ícones duradouros, e não apenas que os marquem eleitoralmente.

Se a Baixada Campista tivesse casarões preservados e transformados em centros culturais — como Quissamã —, projetos de promoção da cultura popular, roteiros turísticos, conteúdos nas disciplinas escolares que contassem o modo como a história de Campos está a ela vinculada, marketing institucional de valorização dos seus ícones, além da presença massiva das políticas públicas nas demais áreas, será que alguém estaria agora pensando em emancipação?

Se tudo o que foi gasto com shows em trios elétricos no Farol de São Thomé, numa frágil política de entretenimento que não estabelece laços profundos, fosse investido em cultura, a realidade hoje poderia ser muito diferente — ou até mesmo, dada a fartura de recursos, as duas coisas poderiam caminhar juntas, sem prejuízo de uma ou de outra.

Mas tudo isso ainda pode ser feito. E o poder público tem a obrigação de ser o indutor destas ações, embora setores privados também pudessem, em muito, contribuir. E é preciso que se comece imediatamente, caso haja interesse em manter Campos com o seu território atual, especialmente em razão das avassaladoras mudanças econômicas que, se não forem acompanhadas por políticas culturais, transformará a Baixada em mais uma periferia industrial.

Ainda que óbvio, sempre é preciso lembrar que os limites geográficos não são definidos pela natureza, são resultados de uma construção cultural e de uma disputa política. Se ninguém lutar por Campos, se os campistas continuarem a desistir da cidade e seus governantes, impunemente, por ela demonstrarem desprezo, de fato deixará de fazer sentido a sua existência.

Como, naturalmente, não posso esperar que seja intenção de vossa excelência o extermínio dos elos que nos conservam campistas, clamo pela atenção às questões levantadas nesta carta.

Sem mais, me despeço respeitosamente,

Vitor Luiz Menezes Gomes
Cidadão campista

7 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Dom Vitor Luiz Menezes de Orleans e Bragança, e quem vai ser o Prefeito da nova cidade "Baixada da Égua". Pode acreditar, o que vai aparecer de idealistas nômades, de garrotios, lamparões de bico, tisgos, cabruncos, pés pro bardo, má de rodas para pegar uma cópia da chave do cofre oficial, que vai faltar foices e garruchões para essa peleja. Afinal 900 milhões como apregoa o grupo que levantou essa bandeira vai animar muitos idealistas de plantão. Só de 10% já dá 90 milhões.
Seria a emancipação a solução para o abandono em que a Baixada se encontra? Quanto custa uma nova estrutura municipal de poder.
Não é a distância dos quase 60 km que faz com que os recursos não cheguem até la. E a distância não é tanta. Pelo menos para aqueles ridículos postes todos pintados de lilãs que vão até o Farol.
O problema é que a corrupção por si só ou pela sua falta de prioridade não deixa que os moradores daquela região também sejam beneficiados.
A questão maior é mudar esse modelo de gestão que se arrasta pelos últimos 20 anos e que tem no cenário político campista quase sempre os mesmos nomes , ora brigados ora juntos, mas sempre membros do mesmo grupo.
Quero ver o nobre jornalista de volta à Mercearia. Não sei porque saiu do ar. Era uma excelente contribuição que os três, você, o Ricardo e Alvaro davam na formação de uma opinião isentada.
Por que parou? Desculpe o péssimo humor, mas é que não dá mais para nos enganarmos . Já bastam eles.

Zé Boquinha

Vitor Menezes disse...

Seu Zé Boquinha, o meu candidato a prefeito da Baixada Campista é Lulu Bergantin. Não vai ter pra ninguém. Vai ficar tudo nos trinques em um deitar de enxada que jamais se viu.

Anônimo disse...

Ah, intão tá! Ocês mi derao um sustio. Pensei que foci um Ari litle hand.

Anônimo disse...

O PRIMEIRO PREFEITO DA BAIXADA CASO HAJA A EMANCIPAÇÃO, SERÁ, DR. ROBERT FERREIA NO CARVALHO ÁCARO PINGANOOTÁRIO.

Sthevo disse...

Menezes, o Lulu não pode assumir duas funções. Não vejo a hora de ele ser presidente! rsrs

Fábio Soares disse...

Percebe-se claramente a falta de respeito e o desprezo que muitos campistas, tem com a Baixada, haja visto as postagens anteriores.

Alguns chegam ao cumulo de considerar que na Baixada não existem pessoas instruídas e em condições de administrar uma prefeitura, como se governar uma prefeitura bilionária igual a de Campos, fosse algo muito difícil.
Pois eu digo, que administrar uma casa, com apenas um salário mínimo, nesse caso específico sim, podemos chamar esse chefe de família, de um excelente gestor.

Agora administrar riqueza,como a da prefeitura de Campos, é fácil demais, e ainda atraí um bando de puxassacos, oportunistas, ordinários e corruptos.

marcela Sá disse...

Muito bem Fábio.

Infelizmente a discriminação de alguns campistas, com as pessoas que moram na Baixada, é vergonhoso. E muitos deles são simplesmente "cabo eleitoral dese grupo político. Generalizar, pensar e fazer colocações, chamndo a população da Baixada como um bando de pessoas ignorantes e xingadoras, é inadmissível.

Por isso está crescendo cada vez na população, a vontade de emanciparmos de Campos. Pois não nos sentimos campistas, devido essa discrinação e privilégios, que está existindo no município, por falta de comprometimento de nossos políticos.

Se vcs que estão a nos criticcar e que estão demonstrando explicitamente vergonha dos seus irmãos da baixada, e pensam que são os "caras", que nos deixem em paz, facilitando nossa emancipação. Só assim vcs, não terão mais, no seu município, pessoas como nós da baixada, que tanto envergonham vcs.

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