Em um regime democrático, todo governante que ocupa o cargo sem a ele ter sido conduzido pelo voto popular deveria sentir um certo desconforto. No exercício da interinidade, deveria manter a discrição de quem sabe que cumpre apenas a missão institucional de reconduzir o governo a uma situação de verdadeira legitimidade, superando com segurança um momento de exceção.
Não é o que faz o prefeito de Campos em exercício, Nelson Nahim, que desde as primeiras horas da sua interinidade assumiu ares de titular ungido pelas urnas. Iniciou uma maratona de inaugurações e, sem pudor, faz grafar nas placas a menção à sua condição de “prefeito”, tão somente, omitindo para a posteridade o “em exercício” que é obrigado a colocar no Diário Oficial.
Também nos releases da Prefeitura a excepcionalidade da condição de interinidade não existe. E o presidente da Câmara, prefeito em exercício, é tratado apenas como "prefeito".
Nesta terça, 24, Nahim deverá se manter no cargo em razão da sua provável reeleição como presidente da Câmara de Vereadores. Isso o deixará ainda mais à vontade para seguir desconsiderando a falta do voto popular.
Diante dos graves problemas de Campos, este parece um mal menor, uma bobagem burocrática que não interfere em nada na vida das pessoas. No entanto, este detalhe é revelador de aspectos da nossa velha conhecida política patrimonialista, que deixa governantes à vontade para se sentirem donos dos cargos e mandatários supremos.
[Acima: placa na praça Primeiro de Maio, inaugurada na última sexta-feira, na qual Nahim é o "prefeito". Abaixo: reprodução do DO de hoje, onde Nahim é prefeito "em exercício". Foto: Vitor Menezes]
Nenhum comentário:
Postar um comentário