terça-feira, outubro 19, 2010

Superporto do Açu: quem não tem o rabo verde que se cuide

Entre curiosos acerca dos hábitos do lagarto de rabo verde, espécie protegida no local, e impressionados com a profusão de dólares produzidos a cada dólar investido pela EBX no seu espalhar de X pelo mundo, blogueiros da região visitaram hoje pela manhã o Superporto do Açu, em São João da Barra (RJ), que tem previsão de funcionamento para o segundo semestre de 2012.

A cena árida que pede constante plano aberto da praia do Açu começa a dar lugar ao concreto, ao asfalto e às ferragens. Deslumbrante para quem gosta de “progresso”. Preocupante para quem vê a natureza se espremer entre contrapartidas, elevados sobre a areia (por onde passam os tais lagartos), marketing institucional e licenças ambientais transformadas em atrativos para mais investimentos.

Os brinquedos dos engenheiros no momento são os core-locs, peças de 12 toneladas de concreto que serão encaixadas para formar a parte de cima do quebra-mar que protegerá o porto, sobre as toneladas de pedras que são retiradas do Itaoca e armazenadas no “pulmão de pedras”. Serão 22 mil peças. Há aproximadamente sete mil feitas até o momento.

Mas há outros. Há a obra do minerioduto, que já está aparente em diversos pontos na areia branca do Açú. Há a unidade de processamento de minério, que chama atenção na paisagem. Há, por fim, a pista que chega a 2,9 km mar adentro, que levará aos dez berços de atracação de navios de grande porte, que necessitam de até 21 metros de profundidade — e onde bate um vento que parece que vai nos atirar na água revolta.

Tudo é grandioso, e não apenas pelo presente. O futuro anunciado também impressiona. Logo na chegada uma detalhada maquete, auxiliada por amplo adesivo de parede, mostra a previsão de investimentos para o complexo industrial, que terá siderúrgica, usina termoelétrica, cimenteiras, pólo metalmecânico, usinas de pelotização de minério, unidade de tratamento de petróleo, fábrica de carros, e o que mais vier.

Hoje mesmo, à tarde, visita o superporto uma delegação norte-americana, e sabe lá o que isso resultará. Antes, vieram os chineses, e os resultados conhecemos, com 200 alunos em oito turmas matriculadas em cursos de mandarim em São João da Barra.

Os trabalhadores parecem bem tratados e em segurança, embora um deles já tenha morrido na obra — uma “fatalidade”. De fato tudo é muito organizado e todos os cuidados parecem ser tomados. Vi operários com EPIs (Equipamento de Proteção Individual), mas não encontrei nenhum com um sorriso tão largo quanto o de Eike Batista.

Só achei estranho um guarda-corpo tão enferrujado e amarrado com arames em uma obra tão sofisticada e cercada de cuidados. Certamente é algo provisório.

Olhando tudo aquilo tem-se a noção do quanto o projeto do porto é mesmo irreversível. Para o bem ou para o mal, a região de fato mudará, e a projeção, que por algum tempo foi feita com espanto, agora é dita com naturalidade: a pequena São João da Barra saltará dos 30 mil habitantes para 250 mil em poucas décadas.
A quase mítica Cidade X, um condomínio-cartão-postal com preocupações ecológicas, deverá mesmo existir. Mas não se sabe onde e nem quando. O que se sabe é que será para poucos. O entorno é que precisa se cuidar. E a contrapartida da empresa tem sido investimentos em programas comunitários, que vão de alfabetização à melhoria logística para a atividade da pesca no município, mas não é difícil supor que, quando os 250 mil chegarem, isso não será suficiente.

A preocupação ambiental e as aparentes boas práticas empresariais, os milhares de empregos gerados e o incremento de toda uma cadeia de pequenos e médios negócios que se forma nas comunidades, são o lado bom da história. Resta saber o que está reservado para os que não têm o rabo verde. 


[ Clique nas imagens para ampliá-las. Do alto para baixo: vista da parte extrema do porto mar adentro; Core-locs de concreto fabricados no local, com 12 toneladas cada; Guarda corpo que não condiz com sofisticação da obra; Quebra mar, com ponte provisória, onde são carregadas as balsas que levam as pedras para o porto; Canal protegido entre os vários que, segundo a empresa, formam uma rede maior que a de Veneza; Vista do ponto de recepção dos visitantes - Fotos: Vitor Menezes]

7 comentários:

Anônimo disse...

Por mais que eles tentem angariar a simpatia de nós , moradores da região, é horripilante e sórdido o ¨progresso¨que eles nos dão de presente para o futuro próximo.
Seremos FERRO cercado de favelas e mar para todo lado.
Analisando CUSTO-benefício o último será infimo pois a lógica implantada não é a do desenvolvimento SUSTENTÁVEL mas a do progresso a QUALQUER CUSTO e com certeza , fatalmente esse custo será da população que colaborará para que mesquinho capricho de ser o MAIS rico do mundo seja cumprido.
Que pena, sempre massa de manobra!
É a região na contra-mão da história mundial.

Agitador Cultural disse...

Ao Anônimo de 00:39: Bom seria se continuássemos dependendo das Prefeituras locais, não acha?
Máfia, dinheiro sujo, roubalheira, massa de manobra, alienação política são apenas uns dos nomes do que esta região toda sofre há alguns bons anos.
É impressionante como as mentes por aqui ainda são atrasadas. Não conseguem ver um palmo à frente do nariz.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Primeiro quero falar da significativa descrição de Vitor! Dolei!

Agora quero me dirigir com todo o respeito ao agitador cultural à la bruxonildo:
Até parece que a Educação no Brasil vai de vento em popa, né? Até parece que povo faz leituras comparadas, né?
Até parece que cristãos bocós de mola e desbibliados não são massa de manobra de "gobiernus" tido populares e pais do Brasil, né?
Até parece que as mentes dos nordestinos pró isso e aquilo são bem trabalhadas com uma Educação transformadora, né?

Acho isso patético.

Anônimo disse...

Querido agitador cultural, enxergar um palmo além do nariz com CERTEZA é para poucos.
Vc que enxerga LOOONNGE e que certamente tem noção de história deve saber o quão nociva foi a revolução industrial para as cidades.Deve perceber que políticos dinheiro sujo, roubalheiras...são frutos de uma mistura perfeita:população pouco instruida na mão de espertalhões que a manipulam.
PROGRESSO não é sinonimo de degradação do meio ambiente nem de empregos para alguns e subempregos para muitos.Sim, subempregos .Vc que enxerga LOOONNGEE certamente sabe que milhares de analfabetos funcionais , sem educação adequada e que servem apenas ao ¨hard¨das construções logo ficarão ALIJADOS do processo e ocuparão o entorno das cidades circunvizinhas promovendo o caos urbano na forma de ocupação desordenada do solo, violência,etc.
O assunto é vasto e demanda tempo e espaço que não é este ,mas vc que enxerga bem loonnggee sabe que DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL passa lONGE, MUITO LONGE da proposta que nos oferece o homem mais rico do Brasil e que tem a saudável pretensão e a OBSESSÃO de ser o mais rico do mundo.
Saudações e esperanças de um dia conseguir enxergar para além do nariz mas COMO DÓI!

Anônimo disse...

KKKKKKKKKK!!!!!!!!!!
Adorei anonimo das 00:24.
´Sabe agitador cultural, às vezes a falta de vislumbrar o horizonte é devido ao nosso ¨ciscar¨ que nos faz olhar para o chão da imediatidade que nos coloca atrasados pensando ser modernos .
Ler é o melhor remédio para os de visão míope cara.

Alicinéia disse...

Parabéns, Vitor, pela descrição e alerta nas "entrelinhas".
Conheci as obras no início do ano e também fiquei preocupada. Aquela área não é tão grande assim para a instalação de tantas indústrias, como tem sido divulgada. Quem mora por lá está com medo, muito medo de ser expulso a qualquer custo.

Anônimo disse...

Medo certamente não estão. Eles tem inteira razão quando protestam, contra o que chamam de covardia.
O riquinho, comprou um governador e uma prefeita, bancando suas campanhas com o único propósito de conseguir terras a baixo custo. Agora com o progresso ele já anuncia que venderá essas terras por milhões de dólares.
O que dói é ver o passado e a história de cada familia do Açú ser apagada.
O que muitos não vêem é que o alface, o tomate, a couve, a batata, o pimentão, a abóbora, leite, queijo, manteiga, mel, que os sanjoanenses adquirem vem justamente dessas terras do quinto e sexto distrito que foram consideradas inúteis por uma débil mental.
E amanhã, os sanjoanenses terão o que para comer?
Peixe? Nem isso, pois o porto com toda a sua estrutura já fechou as portas para os barcos dos pescadores sanjoanenses.
Cachorro? Certamente, pela quantidade de chineses que falam mandarim e pretendem trazer sua cultura culinária.
Um dia quando tudo estiver liquidado, é que os imbecis perceberão que os que gritaram por socorro não gritavam em vão, mas gritavam para acordar os covardes que se mantinham impassíveis diante de uma débil mental.

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