Curiosa a intenção manifestada pelo empresário Eike Batista de fabricar, no Brasil, um carro elétrico. Provavelmente deve estar pensando em saldar uma dívida consigo mesmo. É que o primeiro carro elétrico do Brasil foi fabricado por João Amaral Gurgel na década de 1980 e, assim como vários outros projetos visionários da sua empresa, foi sabidamente sabotado por interesses poderoros do setor e por governos. E o último grande apoio que Gurgel tentou obter para manter de pé o sonho se seguir construindo carros brasileiros, depois da falência da Gurgel em 1996, foi justamente o de Eike Batista. Uma vez falei disso aqui.
A história é contada no livro "Gurgel - Um brasileiro de Fibra", de Lélis Caldeira, e dá conta do chá de cadeira que Eike deu em Gurgel, durante toda uma manhã, para terminar por não recebê-lo, quando foi apresentar seu projeto de um carro nacional.
Gurgel voou de São Paulo para o Rio, levando na pasta a sua proposta, e chegou ao escritório de Eike às 8h da manhã, horário marcado para a reunião. E se manteve em horas de espera até que ouviu da secretária que acabara de receber uma ligação, às 12h30, o seguinte:
"O doutor Eike pediu para avisá-lo que infelizmente não poderá atendê-lo hoje. E pediu que o senhor volte outro dia".
Gurgel saiu do escritório de Eike. E nunca mais voltou. Morreu em 30 de janeiro de 2009, aos 82 anos, quando, vítima de Alzheimer, não mais se lembrava deste e de nem de outros dissabores da vida.
[Furgão Itaipu E-500, o primeiro carro elétrico do Brasil, que chegou a ser utilizado em frotas de empresas na década de 1980 - Foto: Divulgação]
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