por jules rimet
01. A Zerézima
Domingo. Eleição.
Na noite de sexta, fui conferir o placar diretamente do bar do fernandinho, e aproveitar pra aplacar minha sede. Conclusão dos que lá se encontravam, após esbofeteamentos e passadas de mão nas bundas: mocaiber deveria continuar. Eu aquiesci, engolindo um picadinho de carne com farofinha e couve.
Durante o embate, ficou claro que ninguém ali presente estava satisfeito em ter que votar novamente. Ainda mais que, concluiu Ipanema, na melhor das hipóteses em Campos esse ano vão ter quatro dias de votação.
-- Mais um motivo pra se afogar no copo, irmãozinho.
Filosofou Ipanema, molhando o bico na cerveja e roubando um pedaço de carne da minha cumbuquinha.
-- E no fim de tudo, camaradas, vai ficar a mesma coisa de sempre, a mesma mãozinha puxando manda-cá-o-meu, os mesmos bolsos sempre de boca aberta. Gula monetária é pecado capital, camaradas?
Um pessimista senhor de ar melancólico gritava, da outra ponta do balcão.
Fernandinho calava, observador.
O irmão “dum hômi” surgiu no bar e, como por mágica, o assunto mudou para o fim da novela das sete. Da mesmo forma que, como por mágica, assim que o irmão “dum hômi” saiu, voltou-se ao espinaframento.
-- Mas esse aí é gente boa, apesar de irmão “dum hômi”.
Apaziguava Mindinho, tentando escalar um banco e alcançar sua cerveja, no pico do balcão.
O negócio ficou feio mesmo quando Carpi começou a chorar, lamentando não ter conseguido um cargo de boca de urna.
-- Cinquentinha, rapaz, pra ficar só na boquinha da urna... e eu pagava os trinta e dois que tô te devendo, Fernando.
-- Não tô cobrando nada, não. Isso aí você pode deixar pra pagar depois.
Se defendia fernandinho, carrancudo que o outro o confundisse por um reles cobrador de pinduras.
-- Aí, tá vendo só? É isso aí. É isso que tô dizendo. Vai ser a mesma pilantrage de sempre, a mesma safadeza, a mesma roubalheira. Ó só, quer ver?... Os cinqüenta é só pra boca de urna, Carpi? Não. Tá vendo só? Aposto como você ia ter que dar seu título eleitoral pra eles, não é? Então, eu tô falando. Mais eleição, mais safadeza. O pior é que agora, quem ganhar, vai mais é querer roubar o dobro, o triplo, pra compensar essa gastação toda.
O pessimista melancólico, cuspindo farofinha no próprio copo, reclamava.
Do seu lado, Ipanema só pontificou: bem faz o professor aqui (segurando meu ombro) que vota em outra cidade. Agora, vamos deixar disso, pessoal, e passar a mão na bunda da justiça eleitoral? Vamos?
domingo, março 12, 2006
O observador da hora H
Postado por Alexandro F. às 11:16
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