A verdade sobre o pai
Vitor Menezes
O menino que andava pelo gramado com a bola sob o braço direito pareceu muito familiar ao homem, que o observava de longe. Quem poderia ser? De onde o conhecia? Qual a razão para aquela sensação de saber muito sobre aquele garoto?
Mais alguns passos levaram o menino ao pipoqueiro e, em seguida, justamente ao banco de praça onde estava o homem.
- Posso sentar?
- Claro, fique à vontade garoto.
- Quer pipoca?
- Não, obrigado.
- Tem certeza?
- Está bem, só um pouco.
E o menino estendeu o pacote para os dedos longos do homem.
- Salgada, né?
- Um pouco sim. Principalmente pra mim, que tenho pressão alta.
- O que é pressão alta?
- Um probleminha aí de velho, um dia você vai saber.
- E pipoca dá isso?
- Não – riu o homem – pode comer tranquilo.
Aos poucos, enquanto seguia a conversa amistosa entre os desconhecidos homem e menino, o que incluiu nomes revelados e mais algumas informações, o primeiro começou a juntar as partes da memória que faltavam para, afinal de contas, lhe dizer de onde conhecia aquele olhar, aquele mexer de mãos, aquelas expressões, aquele jeito comunicativo, aquele cabelo liso, aqueles olhos verdes.
Era o filho do mais filho da puta, entre os maiores filhos da puta paridos sobre a Terra. Um sujeito desprezível, que fora seu chefe há trinta anos, e com o qual, graças a todos os santos protetores dos empregados, nunca mais tivera contato, apenas notícias de que havia se casado, tinha um filho, e continuava tão filho da puta quanto sempre.
O homem, que tudo sabia sobre das iniquidades de caráter do pai do garoto, olhou o menino e nada disse. Todo filho tem o direito de não saber a verdade sobre o pai.
segunda-feira, maio 20, 2013
[croniquinha de segunda]
Postado por Vitor Menezes às 14:42 Marcadores: croniquinha de segunda
2 comentários:
a ultima frase. A ULTIMA FRASE.
reativarei a campanha "VITOR ESCRITOR".
rs, tá certo, Jorgete! rs rs rs
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