[senta que lá vem poesia]
Karol
leva tempo despojar o homem de todo papa
deve-se deixá-lo dormir como se morto de fato estivesse
alguém percebe a fumaça branca esvaindo-se lentamente do homem?
mãos invisíveis extraindo dele as sete chaves das sete portas
os sete clamorosos selos do poder...
demanda tempo ressuscitar então o homem no papa
mesmo que para vê-lo por um instante mortalmente frágil, humano
por isso não é tão simples morrer sendo papa, embora morto
por isso é infinita a paciência dos papas que morrem
(tão próximos do eterno repouso
e tão interminavelmente longa
a espera derradeira)
cumprida enfim a lenta exumação do eterno em vida
vai o homem despido de papa
devolvido ao povo
o filho apenas, o irmão, o ermo conterrâneo
despedindo-se já sem nenhum aceno de sua íntima, numerável
e terrena vizinhança
Everardo Andrade
sexta-feira, abril 08, 2005
Postado por Vitor Menezes às 14:02
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