sábado, fevereiro 23, 2013

Eu exoneraria o Secretário de Saúde

Secretário Geraldo Venâncio durante a entrevista - Reprodução TV Globo

Tão impressionante quanto as imagens obtidas pela produção da Inter TV para a matéria exibida na noite desta sexta no Jornal Nacional (veja aqui), sobre a situação enfrentada pelos pacientes do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campos, foi o modo displicente como o secretário de Saúde, Geraldo Venâncio, falou sobre o caso, com algo do tipo "segunda-feira mando alguém lá".

"Vou ver na segunda-feira" é uma resposta aceitável para bombeiros hidráulicos, para atendentes de cartório, para quem vai começar uma dieta ou situações congêneres. E, mesmo nestes casos, dependendo da urgência. 

Dizer isso em uma sexta-feira, diante da realidade mostrada pela reportagem, é o equivalente a afirmar: "esse pessoal aí pode aguentar mais dois dias dormindo no chão, não vou estragar o meu final de semana com isso".

Em que momento da vida um sujeito que é médico, e já foi até um bom vereador em tempos remotos, perde desse modo o senso de humanidade e de espírito público? 

Se eu sou prefeito, exonerava na hora! 

3 comentários:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Mesmo depois disso,Vitim

http://blogralfereis.blogspot.com.br/2013/02/medico-do-caps-desmente-reportagem-do.html

Clube de Leitura Alexander Seggie disse...

Oi Vitor,

Sou médico do CAPS III. É para mim uma alegria lidar com a clientela sofrida que faz parte de nossa rotina. Os CAPS foram instituidos no Brasil em 2001, na chamada Reforma Psiquiátrica que extinguiu os manicômios.

Nossa clientela é a maioria oriunda desse sistema. São chamados clientes "institucionalizados", que pode ser traduzido como um paciente que não sabe viver sem a instituição.
O CAPS III Romeo Casarsa, que foi protagonista de uma matéria veiculada no Jornal Nacional de hoje foi inaugurado em 2009.
Temos mais de 300 pacientes, dos quais atendemos mais de 80 ao dia.
Nenhum de nossos pacientes é acamado. Aliás, uma regra da instituição psiquiátrica é que o paciente esteja com o nível de consciência alerta e podendo andar. Caso sua consciência esteja apagada ou não consiga andar, configura uma caso clínico e não psiquiátrico. Nosso paciente é vertical. O paciente clínico é horizontal.
Essa demanda é externa, isto é, não dorme na instituição.
Mas temos sempre cerca de 6 pacientes internados, que geralmente permanecem lá em períodos de crise que não ultrapassam 7 dias.
Essa clientela, que vivia em hospitais, vive hoje uma realidade que concordamos é pobre, mas não há indignidade. Nossa clientela recebe quatro refeições por dia (desjejum, almoço, lanche e janta), tem atendimento médico, psicológico, terapia ocupacional, música, fazem bijuterias e tem até uma grife: "Loucas por Acessórios".
Essa clientela usa medicação sedativa. Eles passam o dia na instituição. Eles tem sono e deitam de dia.
Nós não temos leitos para 20 ou 30 pessoas que não estão propriamente "dormindo", mas sim descansando, tirando uma soneca de dia.
A forma como foram veiculadas as imagens sugerem que são pacientes internos que vivem amontoados ou que são acamados e estão sendo humilhados.
Reconheço que não temos o espaço físico adequado, entretanto, o que se viu foi uma hora de descanso em que muita gente deitou em colchonetes no mesmo horário. Detalhe: o horário é diurno!
Todos estes que estão ali repousando voltam para casa entre as 17 e 18 horas, após receber uma quentinha do jantar.
O clima ali só é agitado quando alguns pacientes apresentam crises de agitação ou agressividade. Nesses momentos, o corpo de enfermagem contém fisicamente até que seja feita a medicação tranquilizante.
Nunca vi ninguém ser humilhado, maltratado ou ignorado no Caps III.
Faria mesmo um desafio. Gostaria que os repórteres da Globo entrevistassem os nossos pacientes.
Seria uma forma sadia e madura de avaliar a instituição.
De qualquer forma, eu me sinto honrado em fazer parte do corpo técnico do CAPS III, que no meu entender é de primeira qualidade e supera as dificuldades materiais, supera as dificuldades de lidar com o paciente mais marginalizado de nossa sociedade e supera as dificuldades de lidar com a intriga, a calúnia e a ingratidão.

Vitor Menezes disse...

Caro, Flávio. Agradeço pela sua manifestação de um ponto de vista alternativo ao da matéria, especialmente por ser o de alguém com uma visão de dentro do problema. Colocarei a sua versão em outro post, para que tenha igual destaque a este que agora comentamos. Mas não posso deixar de ponderar que, na minha opinião, pelas imagens mostradas, pelo relato do irmão de uma paciente, pelo depoimento da funcionária que diz que ali "farta" tudo, não me parece apenas "pobre" o atendimento. Entendo todo o seu empenho e o da sua equipe, e deve ser realmente muito angustiante ver este empenho ser desconsiderado na matéria, mas a realidade mostrada não me pareceu ser apenas "intriga", "calúnia" ou "ingratidão". É apenas fato. É preciso estar atento para não naturalizarmos determinadas situações apenas porque estamos falando de uma clientela em geral pobre, que poderia estar em condições ainda piores. Nenhum ser humano merece aquilo, e nosso município tem condições de prover tratamento e instalações de primeiro mundo para esta "clientela". Basta pensar no seguinte: em uma clínica paga, aquele atendimento seria aceitável? E nós sabemos que tudo aquilo é pago, e bem pago, só que pelos contribuintes.

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