quinta-feira, fevereiro 27, 2003

[usina de idéias]
Despudor de língua

Você acha que o beijo pode ser o marco, no toque, de toda e qualquer linha tênue entre sensualidade e obscenidade ? Se uma pergunta deste tipo pode ficar martelando a sua cabeça, então tome fôlego e se prepare para assistir a “O Beijo”, de Andréa del Fuego. O vídeo da cara amiga chegou em minhas mãos esta semana – após uma série de desencontros típicos dos paulistas – e finalmente pude ver esta demonstração da força primal feminina. Grrrrl power ? Mas nem. Se Alice descobriu um universo paralelo através do espelho, a atriz Rejane Arruda encarna na telinha a possibilidade de fazer o contrário. Simples assim. Em “O Beijo” – de 1996, salvo engano –, Andréa e Rejane detalham, sem palavras, que esta outra dimensão íntima, de descoberta e entrega, ambas despudoradas por natureza, faz mais do que portar reflexo; trata-se de um catalisador sensorial. E isso em pouco mais de 3 minutos de vídeo.

I wanna be your lips [like sugar]
impossível deixar de se encantar com a sensualidade que Rejane Arruda exibe neste vídeo. Com sensibilidade à toda, mas sem que se disperse ou escape do controle, o trabalho da atriz é um encaixe perfeito para a proposta de Andréa Del Fuego. Como bem evidencia a troca de carícias e beijos apaixonados de Rejane com o espelho – seu duplo, seu eu –, ao som de “I wanna be your dog”, dos Stooges. Repetindo a parceira com a atriz, Andréa Del Fuego realizou também o vídeo “Ela” – aliás, dos três vídeos, há ainda “Morro da Garça”; tive a oportunidade de assistir apenas a “O Beijo”. Com essa parceria produtiva, é possível recorrer à idéia da relação criadora/criatura ? Não, reles mortal; é mais do que isso. Falamos de cumplicidade feminina aplicada para a arte. Ainda bem !

Combustível
Andréa Del Fuego

Além de realizar pequenas obras fascinantes como “O Beijo”, Andréa Del Fuego também embarca em atividades literárias. Na revista Falaê !, ela é a responsável pela seção F! Mulher e assina a coluna Crônicas da Mulher Casada. Não contente com isso, também escreve uma coluna sobre sexo e afins – não me perguntem o que são esses afins – no Bol, chamada Centrífuga e é colaboradora da revista [mão única ?]. Para relaxar, aguarda a publicação de contos em uma coletânea sobre o universo feminino e ainda tem um livro pronto para ser lançado, possivelmente após a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

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